Duas semanas após as mensagens de ameaça de extorsões por uma facção, continua a tensão na noite de Caxias do Sul. A Polícia Civil investiga pelo menos sete vítimas diferentes. A maioria das vítimas seriam boates e receberam ameaças semelhantes pelo aplicativo WhatsApp. As forças policiais afirmam que o caso é uma tentativa de golpe e a recomendação é que as vítimas não cedam a extorsão. Para os proprietários, porém, há muitas incertezas.
Com medo, a maioria das boates optou por não conversar com a reportagem. Muitas delas teriam reforçado a segurança de seus estabelecimentos, o que significa um custo elevado ao final do mês. O que tem atrapalhado a investigação, e a tranquilidade das vítimas, são os boatos que se multiplicam entre quem trabalha neste ramo — de funcionários a taxistas.
Na terça-feira passada (9), um mesmo relato, sobre bandidos em motocicletas que invadiram uma boate, mandaram todos deitar e exigiram um pagamento em dinheiro, podia ser ouvido com o nome de, pelo menos, três cabarés diferentes. Porém, nenhum se mostrou verdadeiro.
— Não houve nenhum ataque, longe disso, apenas essas ameaças. E, realmente, não acreditamos que haverá qualquer ataque — ressalta o major Emerson Ubirajara, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
A investigação da Polícia Civil, contudo, é prejudicada justamente pelo medo das vítimas, que tem receio de falar sobre o caso. Informalmente, há relatos de quase 15 extorsões, mas menos de um terço disso aceitou registrar o crime. Os investigadores lembram que, sem existir a figura da vítima, um processo judicial não pode seguir até a devida condenação.
"A primeira impressão é horrível", relata vítima
Conforme apuração da reportagem, as supostas extorsão feitas por uma facção são muito semelhantes e utilizaram as mesmas imagens e vídeos. Os números de telefone, contudo, não são os mesmos. O que não chega a ser uma surpresa, afinal criminosos e até presidiários têm facilidade em conseguir novas linhas. As extorsões foram espalhadas em um período de 10 dias. Confira o relato de uma das vítimas:
Como foram as ameaças?
Chegou pelo WhatsApp na semana retrasada. Ele se identificou como membro da facção e disse que estavam chegando em todas as boates da Serra, sendo que quase todas estavam fechando com eles. Falou que cobravam uma taxa mensal de todos e encaminhou umas fotos e o vídeos com armas. Repetiu que não queria ter que tocar fogo ou mandar fechar a boate. Respondi que não era comigo, que teria que falar com os proprietários da boate. Daí, veio uns áudios (com mais ameaças).
Por que mandaram mensagem para você?
É o meu número está no site da boate. Está disponível um (telefone) fixo e o meu celular.
Como foi receber as ameaças?
A primeira impressão é horrível. Me senti totalmente inseguro, porque é vídeo e um monte de arma. Ficam falando em pagar taxas, se não iam vir. Pelo que sabemos, estas facções tocam fogo mesmo. Depois, com mais calma, realmente parece um golpe. Mas ficamos sempre na dúvida. Rumores existem já tem um tempo, mas agora é que veio estas mensagens. Sempre ouvimos estas história de (facções) que cobram ou vão fechar o bar.
Como terminou a conversa?
Depois que caiu na mídia, teve repercussão, este número sumiu do mapa. Não sei. Ficaram com medo? Era um golpe e perceberam que não ia colar, daí sumiram?
O criminoso falou o nome da sua boate?
Não, ele sempre chamava de boate. Nunca vieram aqui, só ameaças (por mensagem) no telefone. O delegado nos disse que isso não é coisa deles, que são pessoas se aproveitando da maré que está na cidade, que está virado um inferno. É a vagabundagem se aproveitando. Mas a gente tem medo. Aumentamos o horário da segurança. É um custo a mais por culpa de uma bronca dessa.