Passava um pouco das 9h30min, quando a juíza Milene Fróes Dal Bó, da 1ª Vara Criminal de Caxias do Sul, deu início ao julgamento dos soldados da Brigada Militar Emerson Luciano Tomazoni, Gabriel Modesti Ceconi e Devilson Enedir Soares, na manhã desta segunda-feira. Eles estão sendo submetidos ao Tribunal do Júri acusados da morte de Lucas Cousandier.
O crime ocorreu na madrugada do dia 4 de fevereiro de 2016, quando Lucas, à época com 19 anos, e dois amigos – Felipe Veiga e Tiago Sgnor, ambos com 22 anos naquela data – desobedeceram uma ordem de parada dos policiais e seguiu-se uma perseguição por ruas centrais de Caxias. Na altura da perimetral Bruno Segala, Cousandier foi atingido com um tiro na cabeça e morreu no dia seguinte no hospital.
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Na sessão de ontem, os primeiros a prestar depoimento foram Veiga e Sgnor. A pedido do promotor que atua no caso, Eugênio Paes Amorin, de Porto Alegre, os dois relataram a sequência de fatos daquela madrugada. Os jovens contaram que eles saíram de Bento Gonçalves, onde moravam, e vieram a Caxias para comer um lanche em uma conhecida lanchonete da cidade. Antes disso, tinham bebido vodka com refrigerante. Isso fez com que fugissem da abordagem policial ao serem perseguidos pela viatura, mesmo com sinal de giroflex e sirene.
O ponto de maior divergência entre acusação e defesa é o local em que ocorreram os disparos por parte dos PMs contra o carro dos jovens. Veiga (que dirigia) e Sgnor (que sentava atrás da vítima) disseram que o tiro que atingiu Cousandier foi disparado quando o carro que tripulavam ainda estava em movimento. Tese que a defesa tenta desqualificar. Os advogados dos réus, principalmente, Ivandro Feijó e Maurício Adami Custodio, que defendem Ceconi, e Christian Tombini, defensor de Tomazoni. Os advogados insistiram bastante neste ponto junto às testemunhas porque os policiais alegam que efetuaram disparos de alerta para o alto durante o trajeto e que os tiros contra o carro ocorreram quando os jovens teriam tentado fugir novamente, após parar o veículo. Veiga falou que não tentou fugir novamente e que perdeu o controle do carro, momento em que viu que o amigo, sentado ao lado dele, estava baleado, e que, no desespero seguiu acelerando o veículo involuntariamente.
Os réus, que estão presos preventivamente no Batalhão de Guarda da Brigada Militar, em Porto Alegre, chegaram antes da 8h30min ao Fórum. Eles foram escoltados por seis policiais do batalhão que permaneceram dentro do salão do júri. Os acusados vestiam farda da BM e, apesar do semblante de seriedade, demonstraram tranquilidade durante os depoimentos. Tomaram chimarrão com os advogados.
Na platéia, cerca de 70 pessoas assistiram ao julgamento pela manhã, entre elas familiares de Cousandier e dos PMs.