De 41 das 43 cidades da região de abrangência do Pioneiro com menos de 10 mil habitantes (a reportagem não conseguiu contato com duas), somente duas não tiveram assaltos ou explosões em agências bancárias na sua história recente. A maior parte já presenciou roubos a mão armada ou arrombamentos com uso de explosivos ou maçarico nos últimos cinco anos.
O Pioneiro conversou com representantes, entre prefeitos, vice-prefeitos e secretários municipais, para saber como está a segurança nesses 41 municípios. As declarações mais recorrentes expõem a sensação de insegurança em função do déficit de efetivo da Brigada Militar (BM). Para fins de comparação, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomenda um policial militar para cada 450 habitantes.
A maioria das cidades (28) tem menos de cinco policiais militares cada _ 13 têm três, três têm dois e uma não tem nenhum servidor lotado da BM.
Se considerarmos a projeção da Secretaria Estadual de Segurança Pública (SSP), de que todos os municípios gaúchos com até 5 mil habitantes tivessem, pelo menos, três PMs, e que aqueles com população até 10 mil habitantes tivessem efetivo mínimo de cinco policiais até o final de 2017, a maioria das cidades da região está contemplada no quantitativo previsto.
Porém, ainda existem casos que não atingem o mínimo: três cidades com até 3 mil habitantes não têm três PMs cada e três com até 10 mil moradores não têm cinco policiais. Além disso, existem distorções, como Cambará do Sul, que tem apenas dois policiais para atender a uma população de 6,4 mil pessoas, e Capão Bonito do Sul, onde os 1,6 mil habitantes não têm sequer um servidor da Brigada Militar.
Diante da falta de pessoal, o cenário mais comum nos municípios do interior é o de postos da Brigada funcionando parcialmente durante o dia, com foco no horário de expediente bancário, e fechados à noite.
— É a mesma situação de quase todas as cidades pequenas que sofrem porque é muito pouco efetivo da Brigada Militar. Fica muito fácil, muito visível o assalto a banco — afirma Ailton de Sá Rosa, prefeito de Esmeralda, que tem 3,8 mil habitantes e quatro PMs (outros dois estão em licença).
Na tentativa de garantir a presença de policiais, os municípios, por meio de Conselhos Comunitários Pró-Segurança Pública (Consepros), oferecem casas ou auxílio-moradia aos brigadianos, recursos para manutenção de viaturas, imóveis municipais para servirem de sede para a Brigada, entre outros incentivos. Isso faz com que grande parte dos profissionais em atuação morem nos municípios em que trabalham.
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Diante da defasagem do quadro da Brigada, as prefeituras têm investido na tecnologia como forma de suprir mais essa carência deixada pelo Estado.
— A prefeitura instalou câmeras de monitoramento com identificação das placas. Os municípios têm que buscar outras alternativas para poder auxiliar esse efetivo mínimo que se tem — complementa a prefeita de Fagundes Varela, Claudia Moreschi Tomé.
Conforme o relato das prefeituras, de 2015 para cá, algumas cidades receberam policiais, outras perderam e algumas conquistaram servidores depois de anos sem ter nenhum. É o caso de Nova Pádua, cujo posto da BM reabriu há cerca de três meses, depois de ficar fechado por cerca de cinco anos, conforme o prefeito Ronaldo Boniatti.
Para amenizar déficit, Brigada usa estratégia
A Brigada Militar reconhece o déficit de pessoal e, até que a situação seja amenizada com a formação de mais policiais, a solução é agir com estratégia e planejamento.
— Temos uma defasagem de efetivo igual a de todo o Estado, que é de 52%. Verificamos que quadrilhas que realizam esse tipo de delito (ataques a bancos, caixas eletrônicos e postos bancários), observam, justamente, a fragilidade na atividade de policiamento, que é em razão do pouco efetivo disponível naqueles municípios que têm duas ou três agências perto uma da outra. Estamos buscando, por meio de planejamento operacional, reforçar essas cidades que têm essa dificuldade por serem menores. As ações dos criminosos não têm atingido os maiores centros urbanos. Ao contrário, estão procurando locais onde a possibilidade de confronto é menor. Como a Brigada está mais preparada, melhor colocada estrategicamente no terreno, conseguimos dar uma resposta maior havendo maior confronto. Antigamente, eles (criminosos) tocavam o terror nas pequenas cidades e fugiam. Agora, por meio de serviço de inteligência, busca de informações, conseguimos dar reposta mais rápida nesses municípios menores. Essa tem sido nossa forma de atuação — explicou o coronel Ricardo Cardoso, responsável pelo Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO Serra) da Brigada Militar.
O coronel se refere à Operação Diamante que posiciona as guarnições em pequenas cidades próximas umas das outras tornando mais fácil e rápido o deslocamento se necessário.
De fato, três assaltos recentes na região obtiveram uma resposta rápida da polícia. Após o roubo ao Banco do Brasil e ao Banrisul de Ibiraiaras, no dia 3 de dezembro, seis bandidos foram mortos em meio a um tiroteio com as forças de segurança. Dez dias depois, após atacarem uma propriedade no distrito de Mato Perso, em Flores da Cunha, três assaltantes foram mortos pela BM em confrontos na região de Vila Cristina, em Caxias do Sul, e de Linha Temerária, em Nova Petrópolis, sendo que um deles também era policial militar. Mais quatro suspeitos foram presos, suspeitos de ajudar na fuga dos criminosos.
Também acabaram recolhidos os seis bandidos que roubaram duas agências em Coronel Pilar no último dia 7 de novembro. Os mais R$ 75 mil levados das agências foram recuperados.
A expectativa, conforme o coronel Cardoso, é receber policiais das turmas que estão em cursos de formação no Estado para suprir a falta em cidades da região. Porém, ele diz que não há nenhuma cidade, entre as 66 do CRPO Serra, sem policiais.
O Pioneiro não conseguiu contato com o secretário da Segurança Pública, Cezar Schirmer. Em novembro, questionado sobre uma onda de ataques a bancos (foram 13 em oito dias), Schirmer disse que os bancos descumprem a lei estadual que obriga maior investimento em segurança por parte das agências.
A Lei Estadual 15.105/2018 prevê a instalação de dispositivos nas unidades bancárias. De acordo com o secretário, como a regra não é cumprida, as forças de segurança têm "dificuldades na redução de indicadores deste crime no Estado, ao contrário do que ocorre em relação a homicídios, latrocínios e outros delitos".
O QUE DIZ O PRÓXIMO GOVERNO
O vice-governador eleito e futuro secretário de Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior, está fora do Estado até amanhã, e manifestou-se por nota:
“Segundo dados obtidos durante a transição de governo, cerca de 2 mil soldados participam do curso de formação de novos soldados da Brigada Militar, com conclusão prevista para julho de 2019. O governo eleito, tão logo tome posse, em 1º de janeiro de 2019, planeja realizar uma reunião com o Alto Comando da Brigada Militar, a fim de discutir a distribuição deste efetivo.”
A SITUAÇÃO NAS CIDADES
:: Esmeralda: tem 6 lotados, mas 2 estão de licença (3,3 mil habitantes)
:: Pinhal da Serra: tem 4 (2,5 mil habitantes)
:: Ipê: tem 4 (6,5 mil habitantes)
:: Jaquirana: tem 3 (3,7 mil habitantes)
:: Monte Alegre dos Campos: tem 5 (3,2 mil habitantes)
:: São José dos Ausentes: tem 5 (3,5 mil habitantes)
:: André da Rocha: tem 3 (1,3 mil habitantes)
:: Campestre da Serra: tem 3 (3,3 mil habitantes)
:: Muitos Capões: tem 4 lotados (3,1 mil habitantes)
:: Fagundes Varela: tem 3 (2,7 mil habitantes)
:: Nova Roma do Sul: tem 5 (3,6 mil habitantes)
:: Santa Tereza: tem 3 (1,7 mil habitantes)
:: Monte Belo do Sul: tem 4 (2,5 mil habitantes)
:: Picada Café: tem 6 (5,6 mil habitantes)
:: Vale Real: tem 4 (5,8 mil habitantes)
:: Coronel Pilar: tem 3 (1,6 mil habitantes)
:: Boa Vista do Sul: tem 5 (2,7 mil habitantes)
:: Guabiju: tem 3 (1,5 mil habitantes)
:: Dois Lajeados: tem 4 que alternam com outras cidades (3,3 mil habitantes)
:: Paraí: tem 4 (7,5 mil habitantes)
:: Cotiporã: tem 5 (3,8 mil habitantes)
:: Nova Araçá: tem 3 (4,6 mil habitantes)
:: São Valentim do Sul: tem 2 (2,2 mil habitantes)
:: Protásio Alves: tem 2 (1,9 mil habitantes)
:: Nova Bassano: tem 6 (9,8 mil habitantes)
:: União da Serra: tem 3 (1,1 mil habitantes)
:: Vista Alegre do Prata: tem 4 (1,5 mil habitantes)
:: Casca: tem 6 (9 mil habitantes)
:: Pinto Bandeira: tem 3 (2,9 mil habitantes)
:: Nova Pádua: tem 3 (2,5 mil habitantes)
:: São Jorge: tem 3 (2,7 mil habitantes)
:: Alto Feliz: tem 5 lotados, mas deve ficar 2 por causa da operação verão (3 mil habitantes)
:: São Vendelino: tem 4 (2,2 mil habitantes)
:: Tupandi: tem 4 (4,7 mil habitantes)
:: Barão: tem 5 (6,1 mil habitantes)
:: São Pedro da Serra: tem 5 (3,7 mil habitantes)
:: Cambará do Sul: tem 2 (6,4 mil habitantes)
:: Capão Bonito do Sul: não tem nenhum ( 1,6 mil habitantes)
:: Vila Flores: tem 4 (6,4 mil habitantes)
:: Montauri: tem 3 (1,4 mil habitantes)
:: Ibiraiaras: tem 5 (7,3 mil habitantes)
:: Caseiros: o Pioneiro não conseguiu contato na prefeitura e o prefeito Léo Cesar Tessaro não atendeu as ligações ao celular (3,1 mil habitantes)
:: Salvador do Sul: o Pioneiro não conseguiu contato na prefeitura e o prefeito Marco Aurélio Eckert não atendeu as ligações ao celular (7,7 mil habitantes)
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