O que era para ser orgulho após mais um cerco bem sucedido contra assaltantes na Serra, virou constrangimento com a descoberta de que um policial militar utilizou a sua farda para render as vítimas. Por isso, a Brigada Militar (BM) faz questão de ressaltar que o ocorrido em Mato Perso, em Flores da Cunha, foi uma exceção que não deve afetar a credibilidade que a comunidade tem pela corporação.
— Foi uma anomalia o que aconteceu. Esta situação de se vestirem de brigadianos para entrar numa casa é uma em um milhão. Podiam muito bem ter cometido este assalto trajando civil. Entendo que o fardamento era pensando em facilitar a fuga — aponta o coronel Ricardo Cardoso, chefe do Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) da Serra.
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— Este é um fato completamente isolado no nosso contexto de Estado. Não me recordo de outro assalto praticado por alguém fardado de policial militar. Precisa ser tratado como uma excepcionalidade. Não podemos passar a desconfiar de quem está fardado, porque a regra é ser um policial — corrobora o tenente-coronel Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, de Caxias do Sul, que afirma existir um controle rigoroso para acesso ao fardamento.
A preocupação surge a partir do relato das vítimas, que contaram que os assaltantes vestidos como brigadianos apresentaram um mandado judicial para entrar na casa.
— A pessoa (comum) não tem como perceber (que o mandado é falso). Não cheguei a ver o documento, mas soube que estava até assinado. E as pessoas de boa fé acreditaram na credibilidade da BM e franquearam a entrada — lamenta o coronel Cardoso.
Nesta situação, conforme o CRPO, a única desconfiança poderia surgir é de "policiais militares" estarem patrulhando em um carro particular. Os moradores de Mato Perso relataram que os mesmos assaltantes teriam circulado pela região na sexta-feira, quatro dias antes do assalto.
— É algo que não ocorre. O patrulhamento com veículos civis não existe na nossa doutrina, no nosso dia a dia. Nossas viaturas discretas são utilizadas com policiais também discretos (à paisana). Só não pode ser confundido com um PM fardado de folga. Eu, por exemplo, me fardo em casa. Então, saio e volto (do trabalho) fardado e posso passar em um mercado — explica o tenente-coronel Ribas.
Para quem estranhar a movimentação de um policial militar, a orientação é que ligue para o 190 e informe a situação.
_ Diante da menor circunstancia que indique que uma pessoa fardada não seja um policial, a primeira providência é ligar para o 190. O rádio-operador poderá certificar se esta pessoa é realmente um policial e, caso não consiga esclarecer, enviar uma guarnição para verificar _ conta o capitão Ângelo Ferraz, subcomandante do 36º Batalhão do Polícia Militar (36º BPM), que é responsável pelo policiamento em Mato Perso.
Orientações:
:: O fardamento da BM inclui, acima do bolso no lado esquerdo do peito, o nome operacional do policial militar. Em caso de suspeita, é este nome que deve ser informado ao 190.
:: Todo PM, por obrigação, deve portar o seu documento de identidade funcional. O cidadão abordado pode solicitar para ver este documento.
:: As precauções quanto a movimentações estranhas não devem ser tomadas apenas para com policiais fardados. O cuidado deve ser o mesmo com outros servidores públicos, como carteiros ou agentes de saúde que façam contato em local privado.
:: Outra dica de prevenção, que vale para outras situações também, é anotar a placa de veículos estranhos que estiverem circulando pela sua região e informar o 190. Assim, a BM poderá verificar de onde é este automóvel e se foi furtado ou roubado.