Após 25 anos, Caxias do Sul possui um novo nome para apoiar a segurança pública. Ao assumir a Mobilização Comunitária de Combate à Violência (Mocovi) e o Conselho Comunitário Pró-Segurança Pública (Consepro), Luiz Raimundo Tomazzoni, 69 anos, quer homenagear os ensinamentos de Raul Randon, que em 1987 idealizou essa união dos empresários contra a violência.
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A aclamação do sócio da Fortaleza Serviços de Vigilância ocorreu em assembleia da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC). Na ocasião, também foi decidida a diretoria que atuará junto a Tomazzoni até 2020. O novo presidente propõe que o Consepro estabeleça um planejamento estratégico e prepare novos gestores para que a mobilização se prolongue. Outro objetivo é reforçar a cobrança junto ao governo estadual.
— Em um governo sem cobrança, as coisas não funcionam. Precisamos fazer um trabalho inteligente para estimular e provar o que é necessário e será bom para a sociedade. Queremos valorizar e divulgar que o Estado está do nosso lado, que o meio empresarial nos ajudou nas demandas e que estamos tendo resultados. Irá dar muito trabalho, mas tenho expectativa de colher frutos logo ali na frente — opina.
Sobre a coleta de recursos, a nova diretoria monitora o Programa de Incentivo ao Aparelhamento da Segurança Pública (Piseg), que possibilita às empresas gaúchas contribuintes de ICMS a compensação de valores destinados à área. A lei estadual complementar foi sancionada em setembro e está em fase de regulamentação, com prazo até a primeira quinzena de dezembro.
Nesta entrevista, Tomazzoni fala um pouco dos seus projetos:
Pioneiro: Como surgiu esta oportunidade?
Luiz Raimundo Tomazzoni: A presidência da CIC conversava comigo desde o ano passado, mas eu possuía muitas demandas na época. Este ano, o novo presidente (Ivanir Antonio Gasparin) voltou a falar que meu nome era cogitado. Aceitei diante da insistência dos colegas e para levar adiante a ideia do Mocovi, que tem como pai desse projeto, dessa identidade, o Raul Randon. Me lembrando dele, da nossa amizade e afinidade, será que não é a minha oportunidade de dar continuidade? Foi pelo pedido da presidência da CIC e da lembrança do Raul Randon, por isso aceitei.
O que foi feito neste primeiro mês?
Queremos continuidade. Assumimos há 30 dias e de imediato compomos uma diretoria. Procurei convidar pessoas de expressão do meio empresarial de todas as áreas. Começamos um trabalho dinâmico. Todas as segundas-feiras temos reuniões. Estamos nos estruturando, vendo coisas boas que podemos dar continuidade, ajustando outras e olhando para frente. O Mocovi tem portas abertas e todos podem ter acesso. Minha proposta é um trabalho muito transparente e com um objetivo lá na frente: fazer algo em benefício da sociedade. Nas próximas semanas, teremos um planejamento estratégico para determinar nossa matriz de trabalho.
No que o Mocovi/Consepro pode ajudar?
Objetivo é atuar dentro das áreas da segurança e na violência da cidade. Nada impede destinar recursos para projetos que trabalhem na fase da educação. Queremos pensar num todo. Convidamos todas as lideranças para conversar e nos mostrar as demandas. Iremos pleitear recursos em cima de projetos. Toda decisão será tomada pela diretoria. Iremos avaliar o que é importante e dar prioridade ao maior benefício para a sociedade. Já temos algumas demandas e estamos nos organizando.
A entidade esta atenta à Lei Complementar 15.224, que possibilita destinar parte do ICMS das empresas à segurança pública?
É uma grande oportunidade para trabalharmos, logicamente Por meio de projetos. Quanto se recolhe de ICMS em Caxias? Com certeza, é um valor muito significativo. Imagina 5% (do imposto de cada empresa, como limita a lei) voltar para a nossa segurança? Muitas coisas poderão acontecer. Na próxima reunião, quero alguém da área tributária para saber esse passo a passo. Iremos nos atirar de corpo e alma no sentido de buscar esses recursos.
O Consepro buscará ter uma fonte de renda periódica?
Na origem, era feito dessa forma com contribuições mensais e iguais de todas empresas. Respeitando as dificuldades de cada um, mas todos podiam contribuir. Lembro que eram mais de 100 empresas que contribuíam e, assim, conseguia-se atender algumas demandas. Hoje, pelo que sabemos, são só meia dúzia. Mas, neste momento, não temos um projeto de buscar recursos nas empresas, pois elas têm de se recuperar da crise. Até porque só irei conseguir recurso se digo o que vou fazer, como fazer e depois apresentar o que foi feito. A sociedade de Caxias do Sul sempre deu apoio à segurança. Nosso objetivo é uma gestão transparente, com atas e aberta para qualquer pessoa que quiser questionar. O ICMS é o caixa maior que podemos ter. Lógico que só poderá ocorrer se tiver projetos com uma demanda legal. O Mocovi tem o compromisso de buscar o recurso, avaliar os projetos, avaliar orçamentos sempre mediante três propostas, fazer uma decisão em diretoria com registro em ata e fiscalização.
A entidade está auxiliando na iniciativa para trazer a perícia balística para Caxias do Sul?
Já tivemos reunião com o pessoal do IGP e nos mapearam a situação. Tudo que pudermos para acelerar este processo, iremos fazer. Há esta demanda para viabilizar estes recursos. Como assumimos recentemente e não temos um direcionamento de entrada de verbas, queremos colocar todos estes projetos na mesa, decidir as prioridades, que pode até ser o IGP, e onde iremos buscar os recursos. Assim, iremos começar a trabalhar, seja no governo estadual, na Secretaria Estadual de Segurança Pública, se é pelo ICMS ou por um movimento entre as empresas. Ainda não saberia dizer, porque não está estabelecido. O objetivo é fazer este plano de ação para viabilizar todas estas demandas e o mais rápido possível. Não queremos mais ouvir que fazem anos que há um projeto e perdemos verbas. Queremos em curto prazo um projeto para que as pessoas comecem a ver o trabalho do Mocovi/Consepro.
Historicamente, Caxias do Sul reclama que contribui muito com o Estado, mas tem poucas necessidades atendidas. O Consepro pode solucionar essa falta de cobrança junto ao governo estadual?
Não há dúvidas. Infelizmente, Caxias não está muito alinhada para esses questionamentos políticos. Quantos deputados elegemos por Caxias? Nenhum. E como se faz pressão? A sociedade caxiense, que inclui o meio empresarial, precisa começar a se articular e cobrar. O Mocovi/Consepro irá batalhar pelos projetos que venham em benefício da sociedade caxiense. Se precisar, iremos mensalmente ou quinzenalmente até Porto Alegre para bater na porta dos responsáveis. Serão cobranças alicerçadas em projetos. Buscaremos compromissos com prazos e iremos cobrar. Asseguro que em breve será ouvido que estamos brigando, no bom sentido. Seremos muito cobradores, de modo formal. Com certeza terá momentos em que precisaremos muito do apoio da comunidade e da imprensa. Inclusive quando funcionar, porque alguém estará de parabéns, pois comprou a ideia e colocou o recurso.