Se a criminalidade mudou de face entre os anos 1960 e 1970 em Caxias do Sul, a polícia carregava o estigma da falta de efetivo e recursos das décadas anteriores. No livro A Segurança Pública em Caxias do Sul, de Manoelito Savaris, Niver Bragnini, Terezinha Boeira e Aparecida de Queiroz Burdin, é possível perceber que nos anos 1940 todo o aparato de policiamento da cidade funcionava numa único endereço: Rua Coronel Flores, esquina com a Rua Sinimbu. Com o passar do tempo, a Polícia Civil, a Brigada Militar, os bombeiros e a cadeia foram separados e levados para locais diferentes.
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A BM, que tinha um destacamento na cidade, só começou a desempenhar um papel mais expressivo na segurança em meados dos anos 1950. Até então, era o município quem ficava responsável por meio da Guarda. Naquela década, as lideranças locais imploravam pelo envio de mais policiais, sempre insuficiente para atender uma cidade em crescimento e com muitos assaltos.
Os servidores da segurança também sofriam com constantes atrasos de salários. Conforme Savaris, Bragnini, Boeira e Burdin, a mudança ocorreu a partir de 1963, com a instituição do modelo Pedro e Paulo, que consistia em dois PMs com capacete e coturno percorrendo a pé as principais ruas. Três anos antes, havia sido inaugurado a nova cadeia de Caxias, lugar onde hoje é o Presídio Regional, na BR-116.
Em 1967, Caxias ganhou a 2ª Companhia da BM e no ano seguinte contava com um efetivo de pouco menos de 100 homens. Nos anos 1970, a situação pouco mudou e a corporação sofria com viaturas antigas e ultrapassadas para o avanço da bandidagem.
Na Polícia Civil, não era diferente. O comissário aposentado da Polícia Civil Gilberto Corá lembra que faltava até mesmo gasolina para os veículos oficiais. Na época, as investigações eram realizadas na base da unha:
— Se houvesse um assalto em Caxias, o delegado dava soco na mesa e nos mandava para a rua: vocês são polícia ou são merda? E a gente fazia, acontecia e tinha que descobrir. Ia ali aqui, ouvia informante, ia a pé pelo bairro. Era assim que funcionava. A vítima participava junto, levando a gente de carona, pois não tínhamos como nos deslocar. O armamento era revólver velho apreendido.
Com os parcos investimentos, a polícia já naquela época tinha a ingrata tarefa de "enxugar o gelo da violência".
— No passado, os criminosos tinham medo da polícia porque decorria de um tipo de respeito e funcionava. Até os anos 1960, com o Pedro e Paulo nas ruas, a polícia era respeitada. A partir daí, passou a ser temida. Hoje, não é temida nem respeitada — conclui o historiador e policiail militar aposentado Manoelito Savaris.
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