Imagine receber cobranças de compras que você não fez. Foi o que aconteceu com o empresário Gilberto Baron, 65 anos, nos últimos 30 dias. Ao que tudo indica, estelionatários criaram um e-mail com o nome da empresa dele e fizeram pedidos em pelo menos cinco lojas de materiais elétricos e de construção. Como os dados usados são verdadeiros, as lojas aceitam a negociação e só descobrem o golpe quando o pagamento não ocorre.
Os falsos pedidos foram enviados a lojas de Caxias do Sul, Canela e Farroupilha. Com receio de ter seu nome sujo, Baron começou a alertar os comerciantes para desconfiarem de negociações por e-mail.
– Estou preocupado. Talvez estejam lesando muita gente além de mim. Imagina ser processado ou protestado sem estar devendo nada a ninguém. Estão usando indevidamente meus dados, isso prejudica a minha empresa e o meu nome – diz.
As informações sobre a empresa, acredita Baron, foram coletadas na internet. Um site especializado de busca apresentaria informações sobre empresas e seus sócios, sem a devida autorização. A partir disso, os estelionatários só precisariam criar um e-mail e enviar os pedidos.
– São especialistas. Chama a atenção estarem comprando justamente materiais da construção civil: fios, tintas e chuveiros. A minha empresa existe, mas não está mais em atividade de construção. Não teria por que estar fazendo essas compras – ressalta Baron.
O caso foi registrado como estelionato e é investigado pela 2º Delegacia de Polícia (2ª DP). Apenas duas das cinco lojas vítimas dos golpistas realizaram a entrega e tiveram prejuízo. Os outros três golpes foram evitados quando os vendedores encontraram o contato verdadeiro de Baron, para ajustar alguns detalhes da venda.
A reportagem tentou contato com as lojas, mas os representantes preferiram não se manifestar. Pela facilidade de ação dos estelionatários, o receio do empresário caxiense é que outras lojas possam ter negociado com os e-mails fraudulentos.
– Soube já de outro (empresário vítima) em Farroupilha. Mesmo esquema: criaram o e-mail e procuram fazer compras fraudulentas.
Procurada pela reportagem, a delegada Thaís Norah Postiglione não quis se manifestar.
"Quantos ainda serão lesados?"
Pioneiro: Como o senhor soube do golpe?
Gilberto Baron: No começo de outubro, recebi a ligação de uma lojista que dizia não poder entregar o meu pedido porque não tinha fio vermelho. Mas que fio? Não tinha pedido nada. Ela respondeu que tinha sido feito um pedido por e-mail. Respondi que nem construindo estava. Ela pediu que eu fosse lá. Tinha os e-mails com todas as informações da empresa e meu nome. Tudo certo, até os nomes e os CPFs dos sócios. Só os telefones da que eram falsos. E o e-mail, que não existe e é do pilantra. Nos telefones, ele ora não atendia, ora atendia e usava o meu nome.
O que aconteceu depois?
Eu fui na delegacia e registrei o crime. Dias depois, me liga uma segunda loja, dessa vez de tintas, de Canela. Lá havia sido feita a entrega de quase R$ 6 mil em tintas. Estavam me ligando para perguntar para onde mandar o boleto. "Boleto do quê?", eu disse. "Da tinta que tu compraste". "Mas não comprei tinta". Aí que ele percebeu que tinha entrado numa fria. Na semana passada, recebi uma ligação de Farroupilha, de que criaram um e-mail em nome de outra empresa minha. E nesta segunda, mais uma ligação. Por isso quero alertar a todos. Quantos ainda serão lesados?
Como conseguiram suas informações?
Pesquisei e acredito que eles conseguem essas informações em um site. É só buscar um nome e aparece todas as informações. De qualquer pessoa. Aparece sócio, localidade, data de abertura e outras informações. Os estelionatários devem pegar as informações deste site. Depois é só criar o e-mail e aplicar os golpes.
O que a polícia diz?
Fiz o registro e a orientação é relatar novas situações. Tenho levado todos os dados para a polícia. Foram cinco casos em 30 dias. Até agora, não aconteceu nada. Parece que esse tipo de caso é complicado, mas eles iam tentar rastrear.