O padre Antonio Lauri de Souza, provincial da congregação Josefinos de Murialdo, fala sobre a investigação que constatou a participação de um padre investigado por pornografia infantil em cultos com jovens.
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Investigado por pornografia infantil, padre descumpre ordem judicial e tem contato com crianças
O padre Evair Heerdt Michels tem proibição judicial de participar de atividades com crianças e adolescentes. Ele celebra missas com crianças e adolescentes presentes. O senhor não vê isso como descumprimento da ordem judicial?
Não. Evidente que numa celebração eucarística está toda a família e com a família tem menores. Isso não se pode negar. Mas não consideramos irregular.
No último domingo, acompanhamos a missa na capela beato João Schiavo e o padre Michels fez, inclusive, benção específica para crianças. O senhor não vê problema?
Não, dentro da liturgia. E é pública, não há nada a esconder. E está em andamento o caso e até agora nada foi encontrado.
Como assim nada foi encontrado?
Em relação as buscas que fizeram, né.
No dia das buscas encontraram pornografia infantil no computador dele, da direção do colégio e no computador que ele tinha no quarto dele. Se ele estivesse no local, teria sido preso.
É claro, foi encontrado. Quero dizer que foi coisa própria dele.
Durante a investigação, a PF apurou possíveis problemas com este padre em outros locais, no colégio em Araranguá, no de Caxias, no começo dos anos 2000, de que havia boatos de colocava crianças no colo. A congregação nunca investigou?
O procedimento normal em termos de congregação é fazer realmente análise e verificar qual é o status da questão, análise cuidadosa, prudencial, no sentido de que não se pode, de primeira, sair afirmando as problemáticas existentes. Temos esses cuidados.
Mas foi aberta apuração ou não?
O provincial de plantão não me afirmou, mas evidente que foram feitas as análises, mas nunca foi encontrado nada que levasse a uma acusação do confrade.
No ano passado, o senhor era o provincial. O senhor esteve na Polícia Federal e se comprometeu a evitar que o padre tivesse contato com crianças.
Sim, fui e realmente do que foi solicitado assim o fiz. Isto é, a proibição de atuar em colégios e onde se encontrassem crianças e adolescentes. Isso foi feito.
Mas a PF flagrou ele, ano passado, em evento do Dia das Mães, tocando violão e dando palestra na escola. Por isso houve nova ordem judicial determinando que usasse tornozeleira.
Não acredito tenha sido por essa motivação.
Voltando para o que lhe perguntei: existe investigação oficial por parte da congregação, foi aberto, há um documento, um processo, uma sindicância?
Veja bem, a partir do instante em que está em andamento um processo judicial, ele vai responder enquanto pessoa física. E nós o que fazemos: acolhemos o confrade, é nosso dever.
Padre, para esclarecer. Em termos de apuração, vocês fizeram alguma?
Não.
Sendo a congregação dedicada ao trabalho com crianças e adolescentes, o senhor considera o caso grave?
Gravíssimo. Você não pode tratar um caso de armazenamento, e não vou entrar no mérito, vamos dizer, um fato é o armazenamento, outro fato é um contato vamos dizer de ordem sexual, carnal, enfim. Há diferença enorme.
Mesmo assim o senhor não vê problema em ele celebrar missas?
Não vejo impedimento.