A pouco mais de seis meses do final do ano, Flores da Cunha e São Marcos já contabilizam mais mortes violentas do que as ocorridas durante todo 2017. No entanto, a situação das duas cidades se difere. Enquanto em Flores a Polícia Civil acredita que tratam-se de casos pontuais, sem relação apenas com um tipo de crime, no município são-marquense a ligação de duas das quatro mortes com o tráfico de drogas preocupa as autoridades. Apesar de os casos não serem tratados com alarde, o aumento de assassinatos gera apreensão também na comunidade, principalmente por se tratar de cidades consideradas tranquilas do ponto de vista criminal.
Com cinco assassinatos de janeiro a maio, Flores da Cunha já supera o total de homicídios registrados ao longo de 2017, quando três pessoas foram mortas em 12 meses. Apenas um dos casos deste ano é relacionado ao tráfico de drogas, conforme a delegada Aline Martinelli, que investiga os crimes.
— São homicídios pontuais, cada um como uma especificidade. Não temos números de homicídios relacionados somente a um tipo de crime, como ocorre em cidades maiores — diz a chefe da Polícia Civil.
O crime que mais chamou a atenção foi justamente o primeiro assassinato do ano no município. O mecânico caxiense Tiago Becher Bonato, 37 anos, foi morto na frente da família durante um assalto em Flores da Cunha no dia 17 de janeiro. A morte aconteceu por volta das 23h, na Rua Barros Cassal, quando a vítima negociava a compra de um ônibus. O caso é tratado como latrocínio pela Polícia Civil, porque os criminosos tentaram roubar o Audi onde a mulher e o filho dele estavam. Há pelo menos 10 anos não eram registrados latrocínios na cidade. Três homens são suspeitosa morte de Bonato: um foi preso, outro está foragido e um terceiro ainda não foi identificado.
— Nesse caso, podemos observar a questão da proximidade com Caxias do Sul. Os suspeitos vieram justamente de lá. Não é um caso exclusivo, as pessoas vêm a Flores da Cunha para cometer furtos e roubos — pontua a delegada.
Em São Marcos, o número de mortes violentas já é o dobro de 2017: são quatro assassinatos de janeiro a maio, contra dois no ano passado inteiro. Duas das mortes têm relação com o tráfico de drogas, conforme a Polícia Civil.
— Chama a atenção porque é uma média muito acima para uma cidade como São Marcos. Foi quase uma por mês. Além disso, duas das mortes são relacionadas ao tráfico. Indica que esse problema pode gerar mais mortes futuramente — aponta o delegado Edinei Albarello, que está há três meses à frente da Polícia Civil do município.
OS CASOS
FLORES DA CUNHA
17 de janeiro
Vítima: Tiago Becher Bonato, 37 anos
O crime ocorreu por volta das 23h, na Rua Barros Cassal, quando a vítima negociava a compra de um ônibus. A mulher e o filho de sete anos acompanharam Bonato e ficaram dentro do Audi da família. De acordo com o registro da ocorrência, Bonato atravessou a rua para negociar com o vendedor quando um Corsa bordô se aproximou e três homens armados desembarcaram. Os criminosos tentaram roubar o Audi, mas não conseguiram abrir a porta do automóvel. Quando Bonato se aproximou, foi alvejado e caiu próximo ao ônibus. Os assassinos voltaram para o Corsa, onde um comparsa os esperava, e fugiram sem levar nada.
Situação: o latrocínio parcialmente esclarecido. Três homens são suspeitos de terem cometido o crime. Um deles está preso, o outro é considerado foragido e o terceiro envolvido não foi identificado. Os nomes não são divulgados pela Polícia Civil.
6 de abril
Vítimas: Antônio Marques Mendes Borba, 41 anos, e Marileia de Lima, 39
Os dois foram mortos a tiros por volta das 21h30min do dia 6 de abril. A Brigada Militar foi acionada por populares que ouviram disparos de arma de fogo na Praça Nova Trento, no bairro Aparecida. As vítimas chegaram a ser socorridas, mas não resistiram aos ferimentos e morreram. Borba era natural de São Gabriel e Marileia era de Ponta Grossa no Paraná. Conforme a delegada Aline Martinelli, o homem e a mulher eram usuários de drogas e o crime tem relação com o tráfico.
Situação: segue em investigação e autoria ainda é desconhecida. No dia do crime, um homem chegou a ser detido pela Brigada Militar, mas foi liberado, porque o exame residuográfico deu negativo para a presença de chumbo nas mãos dele.
24 de abril
Vítima: João Carlos Mambrini Junior, 33 anos.
Mambrini foi encontrado morto em um milharal no bairro Nova Roma na manhã do dia 24 de abril, por volta das 9h. Ele foi atingido por três tiros. Os disparos foram escutados por vizinhos na noite anterior, por volta das 21h30min.
Situação: esclarecido. Um idoso de 73 anos é investigado pelo homicídio, mas está em liberdade.
— O idoso alegou que não tinha intenção de matar, só queria dar um susto. A vítima tinha o costume de furtar gêneros alimentícios, como milho e mandioca, da redondeza, para vender e usar o dinheiro para comprar entorpecente. Não houve o pedido de prisão preventiva porque não há requisitos para mantê-lo preso. Não era uma pessoa que tinha antecedentes e acreditamos que ela não vá cometer outro crime deste tipo— explica a delegada.
20 de maio
Vítima: Hildo Fiorentino, 50 anos.
Ele morreu após ser ferido na cabeça com golpe de pedra na noite do dia 20 de maio, no bairro Aparecida. Fiorentino foi encontrado caído na Rua Severo Ravizone no final da tarde. Ele chegou a ser encaminhado ao hospital, mas não resistiu e morreu. Segundo a Polícia Civil, o homicídio foi motivado por um desentendimento entre a vítima e um inquilino.
— Eles já tinham ocorrências entre si de ameaça em razão da locação do imóvel. O investigado morava na parte de baixo do imóvel do Hildo. Foram essas desavenças que motivaram o crime — detalha a chefe da Polícia Civil.
Situação: o suspeito, um homem de 47 anos, foi preso no mesmo dia do homicídio e segue recolhido.
SÃO MARCOS
21 de janeiro
Vítima: Danilo Novello, 50 anos.
Foi morto a tiros durante um jogo de cartas no salão comunitário do distrito de Pedras Brancas, na tarde de 21 de janeiro. No dia seguinte, o irmão da vítima Vilmar Novello, 54, procurou a Polícia Civil de São Marcos e confessou ser o autor do homicídio. Vilmar afirmou ter agido em legítima defesa e relatou ter tido desavenças anteriores com o irmão, principalmente em decorrência da divisão de terras da família.
Além de depor, Vilmar também entregou a arma do crime: um revólver calibre .38 que afirmou ser de sua propriedade. O investigado, no entanto, não possui porte de arma de fogo. Além do jogo de cartas, o salão comunitário também sediava de um chá de fraldas, inclusive com a participação de crianças. Ninguém mais ficou ferido.
Situação: autoria esclarecida.
3 de fevereiro
Vítima: Mateus Souza de Souza, 33 anos.
Ele foi executado na frente da mulher e do filho, um bebê de um ano, por volta do meio-dia do dia 3 de fevereiro. Dois homens chegaram de moto na casa onde a vítima morava no bairro Francisco Doncatto, arrombaram a porta, foram até o quarto onde a vítima estava, a levaram para a sala e a executaram a tiros.
Situação: três homens foram indiciados, sendo dois de São Marcos e um de Caxias do Sul. Um dos investigados, identificado como Vanderlei Pereira Machado, 48 anos, foi morto em Caxias do Sul na tarde de 16 de abril, conforme o delegado Edinei Albarello.
— O que se levantou no inquérito é que, em princípio, a morte tem relação com tráfico de drogas — resume o chefe da Polícia Civil.
25 de abril
Vítima: Juliano Marcelo Daros, 41 anos.
Foi baleado na cabeça na madrugada de 25 de abril, no bairro Francisco Doncatto. Ele chegou a ser internado no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, mas não resistiu aos ferimentos e morreu dois dias depois. Um adolescente de 17 anos, de Caxias do Sul, é apontado como o autor do crime. A motivação também é relacionada com o tráfico de drogas. O rapaz não está preso.
— Houve uma discussão e ele acabou matando o Juliano — diz o delegado.
Situação: autoria esclarecida.
18 de maio
Vítima: Lindomar Paim dos Santos, 41 anos.
O corpo de Lindomar, conhecido pelo apelido de Vamp, foi encontrado no dia 18 de maio. Ele estava desaparecido há 10 dias e a perícia preliminar apontou que foi morto com dois tiros na cabeça. O corpo foi localizado durante buscas nos fundos de uma empresa da Rua Giacomo Rizzon. Estava em estado avançado de decomposição e a estimativa é que a morte tenha ocorrido cerca de sete dias antes de ser localizado.
Situação: segue em investigação, porém a autoria e a motivação ainda não foram esclarecidas.