Quando João ficou sabendo sobre a venda de um apartamento ainda em construção a bom preço, resolveu investir parte das economias que tinha guardado na compra do imóvel. Considerou a localização, o bairro Petrópolis, e decidiu que seria um bom investimento para o futuro. O que ele não poderia imaginar é que seria vítima de um golpe. Deu entrada de mais da metade do valor (R$ 55 mil) em cheques nominais à construtora e pagaria o restante (R$ 45 mil) na entrega do bem, avaliado em R$ 95 mil. Assinou um contrato de compra e venda de unidade imobiliária de entrega futura – documento que foi registrado em cartório – e, com isso, achou que estava seguro com a aquisição feita ainda em agosto do ano passado. A reportagem utiliza um nome fictício porque a vítima pediu para não ser identificada.
A desconfiança só ocorreu quando, por meio do corretor de imóveis que indicou o negócio, João ficou sabendo que a mulher que tinha se apresentado como gerente de vendas da construtora responsável pelo empreendimento havia sido presa na sexta-feira da semana passada. Na última segunda, ele foi até a incorporadora e descobriu que o apartamento não era dele e que o documento que tinha em mãos era falso.
— Pelo valor que veio valia muito a pena. Recebi o contrato registrado em cartório. Quando cheguei na construtora (segunda-feira), me disseram: "Esse apartamento não é teu. Na verdade, outra pessoa comprou. Tu foi vítima de um golpe" — relatou João.
Na quarta, ele registrou uma ocorrência policial. Com esse, já são 19 registros de pessoas que se dizem vítimas da vendedora de imóveis em Caxias do Sul. A polícia acredita que possam haver muitas outras mais, já que há casos desde 2016.
Segundo o delegado Luciano Righês Pereira, titular da 3ª Delegacia de Polícia, que conduz o caso, a investigação que culminou com a prisão da mulher começou quando uma vítima em potencial procurou a polícia. A pessoa estava negociando a compra de um apartamento já pronto no valor de R$ 700 mil com a suspeita. O pagamento teria sido feito por meio de um cheque. A compradora havia recebido da suposta vendedora, que dizia representar os donos do imóvel, um contrato aparentemente registrado em um conhecido cartório da cidade. O documento trazia os selos do tal cartório. A fraude só foi percebida quando a vítima, acompanhada de sua advogada, foi ao cartório fazer o reconhecimento da sua assinatura. O estabelecimento informou que os selos que serviriam para autenticar o documento eram falsos. Por orientação da polícia, a vítima teria dado sequência na negociação, resultando na prisão em flagrante da mulher pelo crime de Falsificação de Selo Público. No carro dela, os policiais encontraram 22 selos falsificados, além de procurações, contratos de compra e venda e outros documentos.
O representante do referido cartório compareceu à Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento, onde reconheceu como falsos os selos em posse da investigada.
COMO FUNCIONAVA
:: A investigada se apresentava como gerente de vendas de construtoras ou como representante de donos de imóveis a venda a corretores ou a possíveis compra dores. Ela tem registro como corretora e trabalhou para várias empresas do setor na cidade.
:: A mulher negociava o bem, inclusive com recebimento de valores, e entregava aos compradores um contrato de compra e venda supostamente autenticado e com selo de conhecido cartório do município.
:: O cartório comprovou à polícia que os selos eram falsos e pelo menos uma das construtoras contatada pela reportagem disse que o documento inválido.
:: A polícia investiga se há participação de outras pessoas nos golpes ou se a mulher agia sozinha. Ainda será investigada a origem dos selos falsificados.
O que diz o advogado da investigada:
O advogado da investigada enviou a seguinte nota:
"O advogado criminalista Vinícius de Figueiredo explica que a defesa vai respeitar o término da investigação, e vai se manifestar somente a partir do momento da disponibilização das perícias técnicas, que é um momento crucial. Após ter sido presa em flagrante, através de pedido da defesa encontra-se em liberdade. O caso segue em investigação.”
Próximos passos da investigação
Agora, a 3ª Delegacia de Polícia começará a ouvir os donos dos imóveis apontados como tendo sido negociados pela mulher para confirmar se as falsas vendas. Além disso, a polícia investigará se há participação de outras pessoas nos golpes ou se a mulher costumava agir sozinha. Ainda será investigado como ela obteve os selos falsificados.
A mulher é natural do Mato Grosso do Sul e já respondia a processo por estelionato em São Luiz Gonzaga. O Pioneiro não divulgará o nome dela porque apesar de a prisão em flagrante ter sido homologada pela Justiça no dia 20, ela foi liberada no dia seguinte, sábado, e deve responder ao inquérito em liberdade.
De acordo com uma das construtoras cujo nome foi usado pela investigada, a mulher tinha registro como corretora de imóveis e trabalhou para várias empresas do setor na cidade, inclusive para esta da qual João e outras vítimas acreditavam ter adquirido apartamentos.
A construtora informou que está tratando das situações caso a caso.
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