Referência regional no turismo de experiência, Flores da Cunha se prepara para lançar a sétima rota de visitação. O passeio, que explora 10 empreendimentos no distrito de Mato Perso, mescla negócios familiares com o tradicional segmento vinícola, tudo com as montanhas e vales da Serra Gaúcha no plano de fundo.
Com cerca de 10 quilômetros de extensão, o roteiro foi idealizado pela prefeitura em parceria com os proprietários dos estabelecimentos. A ação pretende impulsionar a economia local atraindo visitantes de cidades próximas e da região metropolitana.
— Já tínhamos diversos empreendimentos consolidados na área, porém muitos não consideravam trabalhar com turismo. Os fatores chave para a nova rota foram as belezas naturais e localização de Mato Perso. O distrito faz divisa com Caxias do Sul e Farroupilha, tendo todos os acessos e estradas asfaltadas — explica o Secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Inovação, Tiago Centenaro Mignoni.
Desde o ano passado os integrantes do roteiro têm recebido consultoria com o Sebrae a fim de estruturar os negócios para recepcionar os visitantes. O assessoramento é custeado pela administração municipal.
A inauguração da rota está prevista para junho, mas uma prévia dos atrativos será apresentada na 33ª edição do Mangiar da Polenta. O evento, que ocorre em 19 de maio, contará com a participação dos empreendedores da rota e seus produtos.
O que descobrir em Mato Perso
Bebidas com e sem álcool, plantas e orquídeas, produtos coloniais e paisagens de tirar o fôlego. A parceria entre os 10 empresários florenses resultou em uma programação leve, para curtir o final de semana a dois, em família ou com os amigos.
O roteiro é composto pela Agroindústria Geni Zamboni - Sabores coloniais; Cantinhos das Orquídeas e Suculentas; La Grappa Licores e Destilados; Mata Nativa; Restaurante Gaio; Hortência Vinhos e Espumantes; Vinícola Luvison; Vinícola e Mirante Gaio; Vinhos Canção; e Vinhos Giacomin.
Receita de família para celebrar a tradição
Quando a família Lovatel adquiriu os cinco hectares de parreiral na estrada Capela São Tiago, a antiga cantina era apenas uma construção na propriedade. Hoje, o casarão, considerado um dos mais antigos de Flores da Cunha, está sendo preparado para se tornar a sede da La Grappa Licores e Destilados.
Entusiasta do turismo, Renato Lovatel, 59 anos, foi quem propôs aos pais trocar o vinho pelos destilados. Todas as bebidas foram desenvolvidas a partir da receita de Luiz Lovatel, o patriarca. Atualmente, o alambique atingiu a produção de 3 mil litros por ano.
O espaço oferece a graspa tradicional, com funcho ou moscato giallo; licores sabor abacaxi, ameixa, butiá, cereja e uva; bem como conhaques. Os valores variam entre R$ 20 a R$ 100. O toque especial é dado por Angelina Lovatel, 82, mãe de Renato, que acompanha a produção.
— Quem chega aqui é recepcionado por mim e pela mãe. O pessoal pode visitar o alambique, ver como funciona o preparo das bebidas e, depois, tem as provinhas. Eu sempre digo que se gostou, fica à vontade para comprar. Se não, a amizade é a mesma — diverte-se Renato.
Uma xícara de café para o pôr do sol
Cafézinho fresco, recém-torrado e passado para acompanhar o final da tarde. Essa é a proposta de Vinícius Gasparetto, 41, para receber os visitantes na propriedade próximo à Capela Santa Juliana. A bebida servida é produzida pela própria família. Contudo, os grãos vêm diretamente de Conceição do Castelo, Espírito Santo.
A conexão entre a serra e as terras capixabas começou sem grande pretensão. Douglas Gasparetto, 38, irmão de Vinícius, decidiu empreender no ramo cafeeiro. Aos poucos, pequenas porções da produção chegavam aos familiares e amigos. Atentos ao mercado, eles enxergaram ali uma possibilidade de negócio.
— Nossa ideia é construir um garden na propriedade da família. Nesse espaço, vamos ter todo o maquinário para a torrificação dos grãos. Então, o turista vai poder acompanhar o processo da torra e no final, levar para casa um pacote de café personalizado com o próprio nome — explica Vinícius.
A ideia é que em dois anos o espaço esteja pronto. Enquanto isso, o café já pode ser adquirido em pacotes de grãos para moer por R$70 ou pronto para o consumo por R$30. A compra acontece na Mata Nativa, empresa de sucos de uva integral que os Gasparetto mantêm há anos. Inclusive, os parreirais próximos da fábrica poderão ser acessados por trilhas. O local também conta com visão privilegiada de montanhas rochosas na região.
Raízes do acolhimento em aromas e cores
Mais de 6 mil variedades de plantas, sendo a metade tipos de orquídeas, aguardam os apaixonados por jardins no Cantinho das Orquídeas e Suculentas. Quem mantém o espaço funcionando na Travessa Entre Rios é Maria Gaio, 49 anos, que em 2019 deixou a agricultura para se dedicar integralmente ao negócio.
Contudo, a conexão dela com as plantas começou em 2012, quando descobriu no cultivo uma terapia para depressão que a acometeu após perder o filho e a mãe em um curto período. A orquídea que recebeu de uma amiga foi o primeiro passo para o negócio.
— Esse lugar aqui me remete a bem-estar e é isso que eu quero passar para aqueles que nos visitam. Gosto de apresentar cada variedade e ensinar tudo o que aprendi lidando com as plantas. Sempre digo que as pessoas não saem daqui com plantas: saem com alegrias — conta.
Atualmente, os atendimentos acontecem aos finais de semana. Os valores das plantas variam de R$3 a R$200. Para melhorar a experiência de quem passa pelo Cantinho, Maria projeta a construção de uma sala em frente à estufa, na qual as mudas são desenvolvidas.
Brinde às belezas naturais
Um mirante de 300 metros de altura, com ampla visão para os rios Antas e Tega. É nesse cenário que a Vinícola Gaio convida os visitantes a brindarem com vinhos e espumantes. Desde 2020 o espaço na Travessa Entre Rios tem sido reestruturado para recepcionar o público e mais mudanças estão em vista.
Conforme Alexandre Gaio, 37, a empresa familiar observou com atenção as mudanças no público consumidor de vinhos. A busca por espaços para degustar as taças se intensificou e foi justamente esse desejo que impeliu os empreendedores a repensar o lugar.
— Esse espaço foi onde eu cresci, então o mirante sempre foi algo normal no meu dia a dia. Conforme o pessoal passou a nos visitar, muitos elogios sobre a vista eram feitos. Algumas pessoas até sugeriram que a gente fizesse algo ali. Agora estamos com um projeto para construir um guarda-corpo e colocar um deque para os visitantes aproveitarem melhor o ambiente — detalha.
A entrada no lugar é franca, mas o espaço oferece almoço aos sábados e domingos. Entre as opções estão o menu italiano com uma sequência de oito pratos por R$99, além de pratos à la carte, como massas, parmegiana, lasanha e filés. O destaque da cozinha é o sorvete de vinho tinto, desenvolvido a partir dos rótulos da vinícola.
Como chegar a Mato Perso
- A partir de Caxias do Sul: seguir pela RS-122 até Forqueta e acessar, à direita, a VRS-864 em direção ao Parque das Águas. São 12 quilômetros até o centro de Mato Perso.
- Partida de Flores da Cunha: acessar a RS-122 em direção à localidade de Otávio Rocha. Ao chegar no centro da comunidade, acessar a estrada José Dani. A partir desse ponto são 10 quilômetros até o centro de Mato Perso.