Se o espectador desconhecer o livro Martin Eden – obra menos conhecida do escritor americano Jack London, lançada no início do século 20 – poderá achar que a adaptação cinematográfica italiana que a história acaba de ganhar, e que estreia nesta quinta (5) na Sala de Cinema Ulysses Geremia, é sobre o amor entre um jovem pobre aspirante a escritor e uma culta moça da alta sociedade. No entanto, basta avançar um pouquinho na obra assinada pelo cineasta Pietro Marcello, considerado um dos nomes mais interessantes do cinema italiano atual, para descobrir que o romance é apenas ponto de partida para uma narrativa densa sobre as luzes e as sombras que o conhecimento geralmente produz em quem o acessa.
O primeiro ponto a se destacar sobre o longa é sua estética, que homenageia outros tempos do cinema. A experiência visual é, em parte, resultado da decisão do cineasta em gravar o longa inteiramente em película 16 milímetros. A edição e as elipses utilizadas pelo diretor, no entanto, conversam mais com um cinema ousadamente contemporâneo. Assim como a trama intrinsecamente política, que acolhe a história a partir da segunda metade do filme, também parece encontrar espaço nos tempos atuais, onde a intolerância e a falta de diálogo cavam abismos cada vez mais fundos.
Martin Eden (vivido de forma visceral pelo ator Luca Marinelli) é apresentado ao espectador como um marinheiro um tanto ingênuo e sonhador, que logo se apaixona por uma jovem culta de família rica, Elena. Os dois engatam um namoro, mas as diferenças sociais entre eles logo se impõem como um problema. Inicialmente bem recebido pela família da alta sociedade, Martin busca o conhecimento como ferramenta para alcançar o mesmo nível intelectual das pessoas que o rodeiam, principalmente o da amada. Mas quanto mais ele mergulha nos livros, mais se distancia do universo do qual inicialmente desejava pertencer. Essas lacunas ficam mais fortes a partir do momento que Martin conhece um escritor veterano, ligado ao ambiente do socialismo, que lhe serve como uma espécie de mentor.
A versão do diretor italiano transpõe a história do livro para a Nápoles dos anos 1930, e coloca seu protagonista no centro do caldeirão da luta de classes. De um lado a burguesia aristocrática, do outro os socialistas. Entre extremos, Martin se afunda nos livros, torna-se um intelectual, mas conduz suas ideias de maneira individual, como se não se encaixasse em nenhuma ideologia (apesar da proximidade com algumas ideias socialistas). A paixão pelas letras e pelo conhecimento conduz a vida do protagonista e o leva a lugares quase nunca confortáveis. O filme respeita essa ideia colocando na telona um personagem em constante conflito, caminho inevitável para aqueles que ousam querer saber mais.
Cinema italiano: Martin Eden abre a programação de um Mini Festival de Cinema Italiano, na sala Ulysses Geremia. O longa fica em cartaz até este domingo, sendo substituído pela estreia Testemunha Invisível, de Stefano Mordini, que poderá ser vista de 12 a 15 de março.
Programe-se
:: O quê: drama italiano “Martin Eden”, de Pietro Marcello.
:: Onde: Sala de Cinema Ulysses Geremia, no Centro de Cultura Ordovás (Rua Luiz Antunes, 312).
:: Quando: estreia nesta quinta (5) e fica em cartaz até domingo (8), com sessões de quinta a domingo, às 19h30min.
:: Quanto: R$ 10 e R$ 5 (estudantes, beneficiários ID Jovem, idosos e servidores municipais).
:: Classificação: 14 anos.
:: Duração: 129 minutos.
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