Faleceu neste domingo, aos 109 anos, dona Olívia Itália Zanol, uma das moradoras mais antigas de Caxias do Sul, se não a mais. Ela foi vítima de uma crise de arritmia cardíaca e morreu em casa, por volta de 5h. O velório ocorre na Capela Mortuária da Comunidade do Bairro Santa Corona, seguido de missa de corpo presente na Igreja do bairro Santa Corona, às 19h. O sepultamento está previsto para as 20h, no cemitério da localidade.
Pode-se dizer que "tia Itália", ou "nona Itália", como era mais conhecida, era mais velha até que a própria cidade. Filha de Martinho Zanol e Maria Svenz, ela nasceu em 16 de abril de 1909, um ano antes da chegada do trem, em 20 de junho de 1910, feito que elevou a então Vila de Santa Teresa à categoria de cidade.
Em 2015, quando foram celebrados os 140 anos da imigração italiana na Serra, dona Itália foi uma das entrevistadas da série especial produzida pelo Pioneiro. Confira abaixo o texto original, escrito pela colega Tríssia Ordovás Sartori e publicado em 25 de maio de 2015, quando ela recém havia completado 106 anos:
Caxiense Olívia Itália Zanol carrega homenagem no nome
O apreço pelo país natal levou um imigrante italiano da região do Vêneto a escolher a Itália para nominar uma das netas, a caxiense Olívia Italia Zanol.
— Ninguém me chama de Olívia, todo mundo me conhece por Itália. Eu gosto — conta.
Lúcida e ativa, é capaz de lembrar dos primórdios da Praça Dante Alighieri — "parecia um potreiro" — e do bairro de São Pelegrino — "era tudo mato", bem como de encerar o assoalho ou preparar a própria comida, que ela divide com os gatos.
Solteira e sem filhos, trabalhou desde criança vendendo leite e verduras "na cidade" — ela vive em Santa Corona —, passando por casas de família até a aposentadoria. Morou em Porto Alegre, Brasília e São Paulo, mas a experiência cosmopolita não minimizou a relação com a terra dos antepassados.
Na conversa, dona Itália usa algumas palavras e expressões em italiano, sem se dar conta — ao se referir a 'ela', fala sempre 'lei' (o pronome pessoal feminino, em italiano). Os 12 terços que reza por dia têm orações em italiano, como aprendeu com a avó. Para se ter uma ideia, até ela aprender, na escola, a escrever o próprio nome ainda havia levas de imigrantes italianos chegando ao Rio Grande do Sul.
O segredo da longevidade, segundo ela, é uma boa alimentação — mesmo que não tenha nada de frugal:
— Mangiare polenta e radicci temperado com toucinho.
Resignada, ela não faz questão de comemorar aniversários.
– Não é bom viver tanto, todo mundo que conheci já morreu – sentencia.