Em sua primeira eleição, a primeira-dama de Farroupilha, Francis Somensi, já saiu vitoriosa. Com 15.404 votos, elegeu-se deputada estadual. O resultado, embora surpreendente para a própria candidata, era, no fundo, esperado. Estrategicamente, escolheu um partido onde pudesse ter mais chances de ser eleita. Em vez de filiar-se ao PDT, sigla do marido, o prefeito Claiton Gonçalves, ingressou no PRB. O plano deu certo e a partir de janeiro, Fran, como é conhecida, estará na Assembleia.
Natural de São Jorge D’Oeste (PR), a farmacêutica de 40 anos tem como principal bandeira a logística reversa de medicamentos. Fran quer tornar estadual o projeto Farmácia Solidária, que desenvolve em Farroupilha como primeira-dama. Nesta entrevista, transmitida ao vivo pelo Facebook no Pioneiro na segunda-feira, ela falou sobre a proposta.
Como é o projeto que a senhora desenvolve?
A gente fez uma campanha onde as pessoas nos doam o que sobra de tratamentos, porque, infelizmente, a indústria farmacêutica não faz o medicamento certinho para o tratamento, geralmente são caixas com mais comprimidos. Também trabalhamos com os médicos para que eles nos doem as amostras-grátis. Vai para uma mesa de triagem. Se estiver íntegro, vai para doação. Também fizemos um trabalho nas escolas na questão do meio ambiente. O medicamento não pode ser jogado nem no lixo seco, nem orgânico, nem no vaso sanitário ou na pia do banheiro. Farroupilha, infelizmente, não tem um metro cúbico de esgoto tratado e quando colocam resto de medicamento e mandam para o esgoto, ele não vai ser separado. O que nos motivou a colocar o nome à disposição foram os números em três anos: duas toneladas de medicamentos vencidos. Falo de uma cidade que tem 71 mil habitantes e a gente começa a pensar quanto teria em Caxias, Porto Alegre. Na questão social, a gente conseguiu ajudar quase 10 mil pessoas em três anos. Nunca fiz o projeto pensando em me candidatar, mas o que me motivou foi a possibilidade de levar adiante.
Quem lhe convenceu a concorrer?
Nós temos a Unisinos fazendo um trabalho dentro do nosso projeto. E a professora do mestrado pegou no meu braço e disse: “Menina, tu faz um trabalho de ouro e precisa levar adiante, e não vejo outra oportunidade se não for na política.” Fiquei com aquilo na cabeça. Depois, minha filha Maria Luiza, de 10 anos, participou de um programa na escola municipal Santa Cruz com o Luciano Huck (Árvore dos Desejos, no Caldeirão do Huck) e ela tinha de falar de um sonho dela ou de uma pessoa que ela amasse. Para minha surpresa, ela disse que o sonho da mãe dela era que não faltasse remédio na Farmácia Solidária. Aquilo me chocou, porque nunca falei. Ficou na minha cabeça, falei com o Claiton e ele disse para colocarmos força no projeto. Num almoço de família, falei para meu pai que ia ser candidata e todo mundo riu. Falei para ele que ia levar o projeto e quem sabe tornar o Estado pioneiro na logística reversa do medicamento.
Além desse projeto, quais outros a senhora pretende apresentar?
Na verdade, não pensei em outros projetos. Trabalhei muito em cima do meu trabalho porque tive resultados que me motivaram. Eu acredito muito na estrutura familiar, a gente precisa resgatar esses valores, se quisermos ter pessoas melhores, não temos que pensar em construir cadeias, mas em como educar essas pessoas. Acredito muito em educação e estrutura familiar. Tive conversas com amigas, tivemos ideias de criar cooperativas para ajudar essa estrutura. Quero trabalhar com família, com valores de família.
O que a senhora pensa sobre Regime de Recuperação Fiscal (para renegociar a dívida com a União)?
Não acredito na recuperação fiscal. Acredito que a gente precisa fazer um desenvolvimento para que pequenas empresas, as médias consigam movimentar mais. A gente tem de incentivar o desenvolvimento. Essa questão de recuperação não vai resolver, é momentânea, e a gente só vai estar prorrogando nosso problema (do pagamento da dívida). Não acredito nisso, não incentivo e não concordo.
Qual sua opinião sobre a privatização de estatais?
Acho cada uma é analisada de forma separada. Vou falar do Banrisul. Não vejo por que privatizar um banco que está muito bem, que a gente sabe de resultados, não entendo por que já foram feitas algumas ações, a gente sabe que já tiveram algumas ações que a gente nem tem muito conhecimento (em abril, o governo vendeu ações do Banrisul). Eu sou a favor quando realmente for positivo para o nosso Estado.
O PRB apoia Eduardo Leite (PSDB) na eleição ao governo do Estado. A senhora fez campanha e estará com ele neste segundo turno?
Estarei com ele. Acredito na renovação. Acredito que ele tem potencial para estar à frente no Rio Grande do Sul e não admito a questão do parcelamento de salário. Se é necessário parcelar salário, eu mostro e dou exemplo, eu parcelo o meu, e isso o nosso governador não fez. Falta um pouco de humildade, porque se eu tenho a coragem de parcelar salário de um professor e não tenho a vergonha de parcelar o salário do governador (quando José Ivo Sartori anunciou o parcelamento, comunicou também que seu salário, do vice e dos secretários seriam pagos após quitação do funcionalismo).
Para presidente, o PRB apoiou no primeiro turno Geraldo Alckmin (PSDB). Qual será a sua posição no segundo turno?
Eu vou apoiar o Bolsonaro. A minha caminhada fez entender que o anseio das pessoas, as pessoas que fui encontrando, conversando, me pediam isso. Eu quero representar as pessoas. A gente está cansado dessa situação, e ele inspira mudança.
A senhora é do PRB e seu marido é do PDT. Como é essa relação?
É uma relação de construção. A gente respeita muito um ao outro. A minha vinda ao PRB foi pensada, uma vinda de estratégia mesmo. A gente tem de entender o tamanho da gente. Eu dentro do PDT talvez não tivesse a oportunidade de chegar onde eu cheguei até porque eu nunca fui candidata. O PRB, quando viu meu nome, me cativou, me incentivou, me deu toda a estrutura de campanha e me mostrou que, dentro de um partido menor, mas muito bem estruturado, eu poderia chegar. O Claiton apoiou o Ciro (Gomes), mas a gente sempre se respeitou. A discussão é de construção. Acredito que o PDT agora venha com o Leite. Quando eu me filiei (no PRB), as pessoas pediam: “Como que dorme junto?” Mas se eu sou Inter e você é Grêmio, não tem problema nenhum. A gente lida com isso com muita tranquilidade.