O Pioneiro está publicando, em ordem alfabética, entrevistas com os candidatos ao Piratini. Onze temas foram apresentados a eles, e o quarto a responder é Júlio Flores, do PSTU. Júlio é formado em Ciências e Matemática pela PUC-RS e leciona na rede pública de ensino. Na década de 1980, foi diretor do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre (Sindibancários). Em 1994, filiou-se ao PSTU, partido pelo qual disputou 11 eleições, para vereador, prefeito, governador e senador.
1. Plano de Recuperação Fiscal
"O regime que está sendo negociado com o governo federal é um desastre para o RS. Ele exige a privatização de três estatais. Simplesmente, significa a entrega de patrimônio público, não só porque essas empresas são rentáveis em si mesmo, mas a longo prazo elas aportam recursos insubstituíveis. É como se tu vendesse a tua casa e depois torrasse esse dinheiro. Isso vai significar cobrir furos do próprio orçamento. Tu vai te encontrar depois sem casa e sem dinheiro para recuperar uma casa para comprar. O governo do Estado poderia suspender o pagamento da dívida, deixando de pagar R$ 4 bilhões por ano sem entregar o patrimônio público. A nossa proposta é justamente essa: não pagar a dívida e usar esse dinheiro para investir na saúde, educação, segurança pública. Essa dívida, inclusive, já foi paga. Era R$ 9 bilhões quando (o ex-governador Antonio) Brito fez um acordo com o governo da época e ela se transformou em R$ 67 bilhões. Nós pagamos apenas juros e amortizações."
2. Aeroporto de Vila Oliva
"Nós temos um plano de obras públicas que inclui obviamente hospitais, moradias populares, escolas, obras de infraestrutura, que é o caso, e saneamento básico. Se o aeroporto necessita de se fazer as ampliações, enfim, nós vamos discutir uma forma de garantir isso. Como a gente não tem conhecimento de quais são as desapropriações e qual o montante desse valor, temos de discutir, ver com a população quem são as pessoas atingidas para a construção do aeroporto e discutir com a comunidade. Aquilo que for necessário e que, digamos, não onerar os cofres públicos, desse ponto de vista, nós vamos implementar."
3. Repasse para hospitais
"Nós somos contrários aos repasses do SUS para hospitais privados. Nós propomos a estatização da rede hospitalar privada e que o dinheiro do SUS seja aplicado nos hospitais públicos. Nós temos uma situação caótica na saúde, em que os hospitais privados estão enriquecendo com o dinheiro público. Muitas pessoas estão nos corredores das emergências, sequer tendo uma maca para se acomodar e, em geral, sentados esperando um leito. A saúde pública está sendo desmontada pelo governo federal e pelo governo estadual, o SUS está sendo privatizado quando repassa o dinheiro público para clínicas, hospitais e laboratórios privados. Nesse plano de obras públicas que falei, está construir hospitais nas regiões, públicos, de tal maneira que as populações sejam atendidas, porque muitas vezes o povo do Interior é obrigado a vir a Porto Alegre para ter um tratamento especializado. Queremos construir hospitais especializados, policlínicas, centros de especialidades de alta complexidade, um atendimento adequado à população mais pobre."
4. Estradas
"Está no nosso plano de obras públicas a construção de estradas para o escoamento da produção por um lado, para o transporte de passageiros por outro, aquelas que sejam necessárias e as comunidades estejam reivindicando. E neste plano de obras públicas, nós podemos resolver não só o problema do escoamento da produção, o transporte de passageiros, o turismo, mas também nós podemos dar mais segurança para as pessoas viajarem duplicando os trechos que são necessários. Por outro lado, com isso garantiríamos milhares de empregos. Hoje são 500 mil desempregados oficiais (no RS), mas tem muito mais que isso. E as estradas entram nesse patamar (de geração de emprego). Embora a gente queira uma diversificação dos meios de transporte, não só por estradas rodoviárias, mas pretendemos recuperar uma rede ferroviária estadual pública de tal maneira que a gente possa ter uma alternativa de transporte e também por hidrovias."
5. Piso do magistério
"É prioridade. Nós queremos garantir o piso do magistério, porque é um escândalo que todos os governos anteriores não pagaram, particularmente o Governo Tarso (Genro). Assinou, enquanto ministro (da Educação), uma lei em nível nacional, depois que os educadores tomaram as ruas para garantir o piso, e chegou aqui e não aplicou. O Governo Sartori, além disso, está massacrando o magistério porque tem os salários parcelados. O nosso governo vai garantir o pagamento em dia e também o piso tirando o dinheiro necessário dos privilégios existentes hoje para os grandes empresários, como as isenções de impostos, por exemplo. Tem um recurso que é essencial, que é o Fundeb. O governo recebe R$ 350 milhões por mês aproximadamente, sabendo que a folha é R$ 200 milhões. Em um ano, dá R$ 4 bilhões que poderiam ser utilizados para o pagamento da folha do magistério. Hoje, o governo usa esses recursos para outros fins."
6. Parcelamento de salários
"A educação e os servidores públicos como um todo são a mola-mestra do serviço público. Se as pessoas estão sendo humilhadas, sendo vítimas de uma crueldade por parte do governo, porque os nossos colegas servidores, nós, em particular, porque eu e Ana Clélia (candidata a vice pelo PSTU) somos do magistério estadual, somos professores, nós sofremos na pele, nossos colegas são obrigados a se endividar com empréstimos para poder pagar as suas contas. O que é lamentável é que a gente tenha de ficar refém e buscar empréstimo do nosso salário para pagar em dia as nossas contas. Os colegas não têm dinheiro para ir trabalhar."
7. Impostos
"Uma das questões centrais para as finanças públicas do Estado é o fim das isenções para os grandes empresários. Hoje são R$ 15 bilhões entre o Fundopem e outros benefícios. Poderiam ser muito bem investidos na saúde, educação, segurança. A GM e a Gerdau, que são empresas que não precisam, têm isenção de impostos. Em cada produto que a gente consome, a gente paga ICMS. Esses senhores não pagam. A nossa proposta é acabar com essa farra das isenções fiscais e, numa situação de exame criterioso, garantir para aqueles que precisam, para os trabalhadores e para os pequenos, especialmente da agricultura familiar. Nós temos uma proposta de fazer uma profunda revolução tributária em que aqueles que faturam mais paguem mais e aqueles que ganham muito pouco, paguem muito pouco e aqueles que não têm nada, não paguem impostos."
8. Combate ao crime organizado
"Defendemos, em primeiro lugar, a desarticulação do tráfico mediante a legalização das drogas, porque hoje esse é um negócio ultrarrentável, que tem ligações com o sistema financeiro, com a lavagem de dinheiro. Os traficantes não estão no bairro popular. Eles estão nos salões dos grandes capitalistas. Legalizando as drogas, nós tiraremos da mão desses senhores esse negócio ultrarrentável. Nós somos contra a tal da guerra contra as drogas, porque significa mais armamento, mais polícia, mais tiroteio, que leva, em geral, à morte de inocentes. Nós queremos uma polícia desmilitarizada, que eleja os seus próprios chefes, democraticamente, e que essa polícia seja comunitária, controlada pelos conselhos populares. Queremos unificar as polícias, que não tenha essa hierarquia militar que há hoje. Tem uma outra função ao longo dos séculos que é proteger as classes dominantes, a propriedade privada, em geral as polícias têm servido para agredir os movimentos sociais. A função não é essa. Ela deveria fazer um trabalho para perseguir corruptos e corruptores."
9. Desenvolvimento econômico
"Uma das medidas centrais é uma reforma agrária profunda no RS, porque o que a gente observa é que 76 mil propriedades deixaram de existir, há uma concentração de terras nas mãos de poucos e a gente sabe que a agricultura familiar é responsável por 70% do alimento para os trabalhadores na cidade. Nós queremos fazer essa reforma, porque nós temos milhares que estão à beira das estradas, sob lonas, e nós precisamos dar terra a quem queira trabalhar nela, e nós queremos expropriar o latifúndio. O latifúndio não produz para os trabalhadores, produz para exportação. Tem uma estimativa de que hoje temos 77 milhões de desempregados, e uma reforma agrária daria conta de 60 milhões de empregos. Junto com isso, construiríamos ou recuperaríamos expropriando as empresas do agronegócio. Por exemplo, a Monsanto, que está aí para produzir veneno, agrotóxico."
10. Privatização do Banrisul e estatais
"Somos totalmente contrário às privatizações. O Banrisul é uma empresa que vem desenvolvendo há anos o crédito para os pequenos e nós queremos que aprimore o seu trabalho para garantir o desenvolvimento econômico e social. Essa sanha privatista quer levar junto a Corsan. Nós, ao contrário, queremos reestatizar as empresas que foram privatizadas, como parte da CEEE, a CRT. E queremos anular a extinção das fundações porque elas serviam em termos de pesquisa para o RS, a Fundação Zoobotânica, a Fundação de Economia e Estatística. É vender a própria casa, torrar o dinheiro e depois não ter onde morar. Essas empresas não só tinham uma rentabilidade e recursos para se auto-sustentar, mas também tem o patrimônio cientifico. O governo vem fazendo essa privatização paulatinamente. Colocou as ações do Banrisul na Bolsa de Valores. Nós queremos reverter isso."
11. Serra Gaúcha
"A Serra Gaúcha tem várias potencialidades tanto do ponto de vista da indústria metalmecânica, em particular, e também do turismo. É preciso, por um lado, uma medida para gerar mais empregos em todo o RS, é a redução da jornada de trabalho. Hoje a gente sabe que duas horas de um operário pagam o seu próprio salário, as outras seis vão para o bolso do capitalista. Reduzindo a jornada para 36 horas, nós geraríamos milhares de empregos em todos os ramos da produção. Por outro, as obras de infraestrutura para o incremento do turismo, que as pessoas possam ter tempo livre, inclusive, para se divertir, para viajar, e a gente sabe que as rodovias da Serra são bastante perigosas. Então, fazer as obras de infraestrutura para dar mais segurança aos viajantes, mas também apostar nesse ramo do turismo, e que a gente possa ter um aquecimento da movimentação econômica e social."
QUEM É A VICE
:: Nome: Ana Clélia Schneider
:: Idade: 55 anos
:: Partido: PSTU
:: Profissão: servidora pública estadual.
:: Cargos ocupados: hoje trabalha como agente educacional. É formada em Pedagogia e Gestão Pública.
:: Coligação: não há. Só o PSTU.