Em menos de uma semana, eles poderão, oficialmente, pedir o seu voto — o debate na Bandeirantes, na quinta-feira, o primeiro, que reuniu oito presidenciáveis, considerado o start dessa eleição, ocorreu antes do início do período eleitoral. A partir do dia 16, será permitida a propaganda eleitoral nas ruas e na rede. No rádio e na tevê, somente a partir do dia 31.
Apesar da força da internet, a aposta de especialistas é que os dois tradicionais veículos de comunicação tenham maior impacto no resultado das eleições. Conforme Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad C), divulgada em fevereiro, o Brasil fechou 2016 com 116 milhões de pessoas conectadas à internet, o equivalente a 64,7% da população com idade acima de 10 anos. O país tinha 207,7 milhões de habitantes naquele ano.
— Há muita gente que não tem acesso às redes sociais no interior do Brasil. Os programas de rádio e tevê conseguem atingir muito mais pessoas do que as redes sociais. O espaço delas (das redes) é importante, particularmente para quem não tem tempo de tevê, mas o grande veículo da comunicação eleitoral ainda são o rádio e a televisão — acredita Gaudêncio Torquato, consultor político e de comunicação.
Não é à toa que os candidatos se empenharam tanto em fechar grandes alianças — caso do PSDB, que conseguiu apoio do Centrão para Geraldo Alckmin (PSDB) e terá 6 minutos e 3 segundos. Em um país continental como o Brasil e com uma campanha mais curta em relação às de anos anteriores, esse espaço acaba sendo fundamental, principalmente para os que miram o Palácio do Planalto.
— O candidato a presidente tem maior deslocamento. Tem de estar no Sul, no Norte, no Nordeste — frisa Sérgio Trein, que é doutor em Comunicação Política.
Da mesma forma que alguns poucos segundos podem representar desvantagem para os candidatos, muito tempo também pode ser um problema se o candidato não tiver o que dizer. Pode acabar, segundo Trein, ficando cansativo para quem ouve ou assiste. As coordenações de campanha precisarão encontrar um equilíbrio.
— Tenho uma aposta do formato selfie, que mostra o candidato outsider, o candidato não candidato. (João) Doria (ex-prefeito de São Paulo) e (Nelson) Marchezan (prefeito de Porto Alegre) usaram. Tô curioso — diz Trein.
"Vai exigir muita sola de sapato"
O bom e velho corpo a corpo será, mais do que nunca, essencial na campanha deste ano. O eleitor está mais desconfiado e quer o candidato mais presente, segundo Gaudêncio Torquato, que, além de consultor político e de comunicação, é jornalista e professor titular da USP:
— A campanha deste ano, diferentemente das outras, vai exigir muita sola de sapato. Muita gente vai ter que correr rua conversando com o eleitor. Há um princípio na campanha eleitoral que é o da onipresença. Quanto mais presente o candidato se faz nas regiões, melhor. Quanto mais visível ele esteja, melhor para ele. Quanto mais escondido, pior.
Financiamento
É aí que as mudanças no financiamento de campanha irão impactar. Com menos recursos, os candidatos terão de se reinventar.
— Alguns partidos têm muito pouco fundo partidário. Marina (Silva, da Rede), por exemplo, terá R$ 10 milhões no máximo. Enquanto o PSDB tem uma grande coligação com muito dinheiro. Os candidatos com menos dinheiro vão sofrer, vão ter de pegar avião de madrugada, não vão correr tanto o país — diz Torquato.
Como será com Lula preso?
A grande dúvida que paira é como será a campanha do PT com Luiz Inácio Lula da Silva preso. A estratégia do partido é manter a candidatura do ex-presidente até que seja possível para garantir sua imagem na urna, no dia da votação. Mas como Lula irá transferir seus votos para Fernando Haddad, o vice que poderá substituí-lo?
Lula poderá gravar programas de rádio e tevê? Continuará se comunicando somente por meio de interlocutores? Até que ponto seus recados enviados de dentro da prisão chegarão aos seus eleitores?
— Lula preso é um fato propagandístico muito forte. Pode se usar esse fato de forma inteligente. Mas tem o gap (lacuna) jurídico. O candidato tem que dizer algo para as pessoas — alerta Sérgio Trein, doutor em Comunicação Política.
Para Gaudêncio Torquato, Lula conseguirá, no máximo, transferir 30% de seus votos para Haddad. Mas, segundo ele, não há outra estratégia possível para o partido.
— De qualquer maneira, é a última alternativa que resta ao PT — diz o consultor político e de comunicação.