Neste Dia Mundial sem Tabaco, o caxiense Renan Debastiani, 60, tem muito a celebrar. Faz 30 anos que ele conseguiu largar o vício. Mesmo ciente dos problemas de saúde causados pelo tabagismo, essa não foi a razão que motivou o aposentado a largar o cigarro.
— Eu fumava duas carteiras por dia, no mínimo, era um absurdo. E cansei de estar com um cigarro no cinzeiro e quando via tinha acendido outro Cansei de me levantar de madrugada para fumar, às 2h, às 3h, e voltar a dormir. Até hoje, mesmo sem lembrar do cigarro, sigo acordando nessa hora — conta o morador e proprietário de uma ferragem no bairro Desvio Rizzo.
O ano era 1988. Frustrado por quanto gastava com o cigarro — na época, uma carteira custava 395 cruzados, o equivalente a cerca de R$ 6 — e pelos transtornos do vício, decidiu que tinha parar.
— Eu fumava há oito anos. Tentei parar muitas vezes e não conseguia. Na última vez, fiquei seis meses e acabei pegando um cigarro. Como tinha dito que ia parar, fiquei com vergonha, fumava escondido. Um dia eu estava na ferragem e quando olhei para frente, um amigo, mais velho, estava olhando para mim. "Seu Renan", ele me disse. "Eu imaginava tudo, mas não te ver assim de novo. Olha o teu tamanho, e essa coisinha, na tua mão, tu vai deixar ela te dominar?". Isso abriu meus olhos — lembra.
A partir daí, ele fez uma promessa: deixaria o vício em 31 de dezembro daquele ano.
— Em agosto, eu estava almoçando, era meu aniversário. E pensando que tinha que parar de fumar, eu sempre falava comigo mesmo, e disse, em voz alta; "Renan, se tu parar de fumar, vai ganhar um 'Dojão'. Minha esposa disse que eu estava louco. Eu disse: "não, se o Renan parar, vai ganhar um Dojão".
Para reunir a força de vontade para largar o vício, Debastiani colocou em jogo sua paixão pelos carros antigos: fez uma aposta consigo mesmo que, se deixasse de fumar, usaria o dinheiro economizado para comprar um Dodge clássico. No dia 2 de janeiro de 1989, ele comprou um Dodge Le Baron branco, ano 1979.
— A ideia era essa, se eu fumasse, perdia o "Dojão" — explica.
E deu certo: desde então, ele teve que vender o carro para bancar reformas da casa, mas nas últimas três décadas comprou outros modelos, dos quais também se desfez. Ele estima já foi proprietário de mais de 15 "Dodges" que passaram por sua garagem. Os últimos, vendeu para pagar a faculdade das duas filhas.
— Agora, minha prioridade é comprar meu presente de volta. Meu amor é incondicional — relata.
Pelo exemplo, Debastiani motivou outros amigos a deixar o vício. Para quem quiser tentar, conselho dele se resume a uma palavra: determinação.
— Tem que ter muita disciplina. É importantíssimo lembrar que o vício não está contigo 24 horas.
Por 30 anos, funcionou. Daquele 1988, Debastiani guarda apenas um simbólico souvenir. Uma carteira de cigarro que mantém consigo como lembrança da superação. Hoje, a relíquia é guardada até em cofre, mas ele diz há uma possibilidade de se desfazer do objeto:
— Vou ver quanto vale, para ver se a empresa (de cigarro) tem interesse. Será que não trocam por um Dodge? — brinca.
Quer parar de fumar? SUS oferece tratamento gratuito
O exemplo de Renan Debastiani é inspirador, mas parar de fumar é extremamente difícil. Tanto que o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito para quem quer deixar o vício, que inclui medicamentos, acompanhamento profissional e uma espécie de terapia em grupo. Confira como acessar o serviço em Caxias:
:: Conforme Luciana Abrão, coordenadora técnica do Núcleo de Saúde Bucal da Secretaria Municipal da Saúde, quem quer iniciar o tratamento para parar de fumar deve procurar a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima.
:: Ali, o paciente será informado pelo profissional responsável pelo grupo antitabagismo (GAT), que pode ser um enfermeiro, médico, nutricionista ou outro profissional que participou de formação do Incra.
:: Os grupos de tratamento contemplam cerca de 15 pacientes, com reuniões semanais, e são abertos durante o ano.
:: O paciente interessado passa por uma avaliação médica inicial e faz o agendamento para uma primeira sessão.
:: Os protocolos de tratamento são definidos pelo Inca. É uma abordagem de grupo, em que um paciente apoia a recuperação do outro.
:: O tratamento tem duração de prevista de seis meses, mas pode ser prorrogado e nada impede que o paciente repita o processo. Faltar mais de duas sessões, porém, é considerado abandono do tratamento.
:: Durante o processo, o paciente tem acesso a medicamentos prescritos pelo médico responsável, como adesivos ou gomas de nicotina e antidepressivos.
:: Depois do tratamento, são agendadas consultas de manutenção e o acompanhamento clínico segue na própria UBS.
:: Neste ano, sete grupos já foram formados em Caxias. A abertura de novos grupos dependem da disponibilidade dos profissionais e da procura dos pacientes.