A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) admite o que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) já apontou num recente relatório: crianças e adolescentes estão amargando espera de até dois anos por uma cirurgia eletiva em Caxias do Sul. De acordo com a entidade nacional, o município ocupa o topo da lista no Estado quando se avalia a fila de pacientes com idade de zero a 19 anos que esperam por procedimentos cirúrgicos que não são de emergência no Rio Grande do Sul (RS).
São atendimentos que podem ser postergados sem colocar o doente em risco, mas cuja demora tira a qualidade de vida. O levantamento foi realizado a pedido do Conselho Federal de Medicina (CFM) por meio da Lei de Acesso à Informação.
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A pesquisa não detalha quais os tipos de cirurgias reprimidas em cada município. Os dados apenas mostram que em 217 cidades do RS há 2.128 pacientes de zero a 19 anos na espera, sendo que 12,5%, ou 269 deles, moram em Caxias do Sul. A lista mostra que, no Estado, metade aguarda por intervenção na área de otorrinolaringologia, o que também seria uma realidade em Caxias.
A situação é alarmante, segundo a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, pois ela entende que os pacientes nessa faixa etária deveriam ter prioridade:
— Ao relegar essas crianças e adolescentes em filas longas, os gestores estão expondo-os a doenças e comprometendo sua qualidade de vida. É desumano com eles e com suas famílias e uma irresponsabilidade para com o país.
O número divulgado pela entidade já estaria defasado, pois apesar de ter sido revelado apenas no início de dezembro é baseado em dados fornecidos pelas secretarias de saúde de cinco Estados (além do RS, Minas Gerais, Ceará, Rondônia e Tocantins) no primeiro semestre.
MUNICÍPIOS GAÚCHOS COM MAIS PACIENTES DE ZERO A 19 ANOS EM ESPERA
Caxias do Sul: 269
Farroupilha: 179
Passo Fundo: 106
Porto Alegre: 93
Gravataí: 89
Idade dos pacientes no Estado
Menor de 1 ano: 74
1 a 4 anos: 445
5 a 9 anos: 706
10 a 14 anos: 376
15 a 19 anos: 527
Caso mais antigo é de 2016
O outro dado que reforça a fila é da própria Secretaria da Saúde de Caxias. A titular da pasta, Deysi Piovesan, diz que números levantados pela Sociedade Brasileira de Pediatria são menores do que o quadro da SMS e afirma que há ainda 340 pacientes de zero a 19 anos esperando por cirurgias — 71 a mais do que o informado pela entidade nacional. Somente aguardando por cirurgia pediátrica são 143.
O paciente que está há mais tempo, dentro desta faixa etária, entrou na fila em janeiro de 2016. Deysi não detalhou quais são os tipos de cada intervenção. A secretária concorda que a situação é preocupante e garante que a prefeitura gostaria de diminuir a fila. No entanto, afirma que hoje existem impasses que impedem a melhoria na área, como a falta de estrutura em hospitais e de verba.
— Temos que priorizar a urgência. Claro que dois anos é bastante tempo de espera, mas hoje faltam leitos, falta dinheiro. A prefeitura ainda suplementa o pagamento que não é repassado pelo Ministério da Saúde. Trabalhamos com limites — justifica.
Em julho de 2016, as cirurgias eletivas em Caxias chegaram a ser suspensas em função da lotação dos hospitais por conta das doenças de inverno. Mas Deysi afirma que a situação não deve se repetir:
— Não pensamos em suspender e vamos tentar melhorar a situação assim que possível.
O que são cirurgias eletivas
Procedimentos de média e alta complexidades, como pequenas cirurgias, cirurgias de pele, tecido subcutâneo e mucosa, cirurgias das glândulas endócrinas, cirurgias do sistema nervoso central e periférico, cirurgias das vias aéreas superiores, da face, cabeça e pescoço, cirurgias oftalmológicas e oncológicas, cirurgias do aparelho circulatório e digestivo e cirurgias do aparelho osteomuscular.