Os 300 anos da descoberta da imagem de Nossa Senhora Aparecida tornam a data ainda mais importante para o catolicismo brasileiro. Este feriado de 12 de outubro relembra quando três pescadores — Domingos Garcia, Felipe Pedroso e João Alves — jogaram as redes no Rio Paraíba, em São Paulo, e resgataram a estátua de barro que se tornaria a imagem da padroeira do Brasil. A comemoração, que tem como ápice o Santuário Nacional de Aparecida nesta quinta-feira, também mobiliza fiéis em Caxias do Sul, que tem pelo menos 12 comunidades em homenagem à padroeira.
— Maria une a todos e esta é a mensagem. O Brasil é plural, com diversas cores, mas nós queremos um Brasil irmão, com mais respeito entre todos. Maria é uma mãe só, e se revela com traços diferentes em cada uma das regiões — acredita o padre gaúcho Ezequiel Dal Pozzo, autor do hino em homenagem aos 300 anos da descoberta da imagem.
Além das comunidades caxienses, há 17 festas na Serra. Nem todas são celebradas no feriado, mas elas não deixam a data passar em branco. O que a santinha é capaz de promover, principalmente, é a união. É o que mostram histórias fortes e bonitas que ocorreram em uma das capelas de Aparecida de Caxias, no bairro Esplanada. A igreja fica em uma rua que sequer é pavimentada, mas que promove o encontro de gente de todos os cantos. Beatriz Pedrotti Rodrigues, 60 anos, moradora do entorno, tem uma forte ligação com Nossa Senhora. A filha dela, Suelen, 33, tem a doença de Crohn, problema que acabou se complicando muito no ano passado, chegando a impedir a moça até de se alimentar. Ao ouvir da equipe médica que o caso era considerado muito grave e com poucas chances de melhora, a família recorreu à comunidade pedindo orações.
Pelo menos 200 pessoas compareceram por nove noites na igreja do Esplanada. Beatriz cuidava da filha em Florianópolis, cidade onde a jovem mora, e a comunidade rezava por aqui. Mãe e filha acompanhavam as reuniões pelo celular e se emocionavam a cada noite de igreja cheia. O resultado dessa mobilização foi Suelen com 10 quilos recuperados e com diagnóstico da doença crônica controlado.
— Minha filha não tinha forças para ir ao banheiro, e agora virá para a festa de Aparecida aqui no bairro. Com fé e esperança, tudo é possível — afirma Beatriz.
Moradores de comunidades testemunham graças
No dia 2 de julho de 2001, os médicos chamaram a família de Marlene Marian, 47 anos, para permitir que se despedissem dela na UTI do Hospital Saúde. O câncer de pleura, membrana que envolve os pulmões, estava agressivo e deixou enfraquecida a atendente de comércio que mora em Caxias. Marlene ficou uma semana em coma induzido. O desespero do marido, o autônomo Vilmar, comoveu os vizinhos no bairro Belo Horizonte. Ao chegar em casa naquela noite, encontrou mais de 60 pessoas em volta de uma imagem de Nossa Senhora Aparecida pedindo pela melhora de Marlene.
— Eu só contei para um ou dois amigos, e de noite, encontrei aquela cena. E depois se repetiu por vários dias, porque a comunidade se uniu. Jamais imaginava uma fé tão grande por aqui — recorda Vilmar, 51.
No sétimo dia da novena, conforme ele, Marlene já começou a melhorar e, em poucos dias, deixou o hospital, curada. Para agradecer a intercessão de Aparecida, o casal construiu uma grutinha no quintal da casa do Loteamento Consolação com a imagem da santa.
— Mesmo em coma, ela enxergava uma luz que acredito ser de Aparecida — confia o marido.
O bairro Belo Horizonte é unido pela fé, garante o presidente da comunidade, João Carlos de Souza. A festa ocorre no dia 22 de outubro, e quase 500 pessoas devem participar de um almoço. Um tríduo ocorre nesta semana. Além de presidente da comunidade, João é também devoto de Aparecida. A melhora nas dores fortes na coluna e a aposentadoria que recebeu no momento que mais precisava foram conquistados com a ajuda da santinha, garante:
— Parece que sem ela, nada faz sentido. Que não existe a vida sem Aparecida, porque ela nos ajuda o tempo inteiro.
Leia mais
Neste feriadão, motoristas devem redobrar cuidados nas rodovias da Serra
Previsão é de chuva na Serra e Litoral neste feriadão
Supermercados de Caxias e região abrem neste feriado
Maria é uma só
O Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida é o refúgio de 12 milhões de romeiros por ano. Nem sempre 12 de outubro é o dia com maior concentração de público, afirma o reitor do Santuário, padre João Batista — no ano passado, por exemplo, foi o dia 11 de dezembro. Mas pelo menos 150 mil pessoas devem peregrinar até Aparecida hoje para agradecer ou pedir à padroeira do Brasil. Relatos de curas, conquista do emprego, bens materiais e outras graças são encaminhadas ao Santuário diariamente e de diversas formas: o reitor diz que há o santuário "físico" e o "virtual", já que a tecnologia permite que o romeiro acompanhe missas em tempo real e envie pedidos e agradecimentos à equipe de padres.
— O que mais chega são relatos ligados à saúde, e também graças porque um processo estava demorado e foi colocado nas mãos da santa e pronto: se resolveu. O devoto precisa diferenciar o que é graça, que é o acontece o tempo todo, do que é milagre. Há casos em que cientistas reconhecem que só mesmo Deus para fazer aquilo. E isso também chega para nós a todo momento — explica o reitor.
O estudo sobre o papel de Maria na liturgia e na contemporaneidade é chamado de Mariologia. A busca pelo entendimento da veneração de Maria e sua relação complexa com outras religiões é alvo de estudos do vigário paroquial de São Marcos, padre Marciano Guerra. O papel de mulher autônoma, livre e que participa do projeto de Deus de sua forma solidária é compreendido em todas as religiões do cristianismo, afirma o padre. No entanto, a veneração à mãe de Deus, e os diferentes rostos que ela ganha — Aparecida e Caravaggio são exemplos, entre as mais de 4 mil denominações de Maria — é característico do catolicismo.
— E Caravaggio e Aparecida se assemelham porque ambas aparecem em contextos sociais bastante específicos. Caravaggio em seu contexto de guerras e violência. Ela veio para sanar uma situação social e familiar. Já Aparecida surge em uma rota de escravos, em uma realidade de pescadores que precisam de peixe. É um contexto de fé social e pessoal — explica o padre.
Encontro de zeladoras ocorre nesta quinta-feira
Ocorre nesta quinta também a 37ª edição do Encontro Diocesano de Zeladores de Capelinhas. O evento celebra os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. O tema é "Maria é bem-aventurada porque acreditou" (Lc 1,45). O evento ocorre no Seminário Diocesano Nossa Senhora Aparecida, em Caxias.
A programação se inicia às 9h com acolhida das caravanas. Haverá palestra às 9h45min e récita do terço às 11h15min. Ao meio-dia, haverá almoço partilhado. Uma missa, com bênção de envio, será celebrada às 14h30min.
O seminário fica na Rua Ivo Remo Comandulli, 897, próximo ao portão de acesso à cancha de rodeios nos Pavilhões da Festa da Uva.
SÃO MARCOS TEM PROGRAMAÇÃO ESPECIAL
::São Marcos comemora a festa de Nossa Senhora Aparecida há 46 anos. A programação começou na última sexta e segue até este domingo. As novenas nesta semana tiveram público médio de 1,2 mil pessoas por noite.
:: Há uma réplica da estátua que fica em Aparecida na Igreja Matriz de São Marcos. Essa estátua ocupou a posição de imagem principal quando a original circulou pelo país. Ela foi trazida por caminhoneiros em 1972.
::Nesta quinta, haverá celebração das crianças às 9h30min no Parque de Eventos Albino Antonio Ruaro. Às 14h30min haverá apresentação de escola de dança e após show infantil. Às 19h30min, ocorre a última celebração da novena. O grande show da noite é com Padre Ezequiel, que ocorre às 21h na Igreja Matriz.
::No domingo, a programação começa às 7h, com procissão motorizada na frente da igreja de São Cristóvão até a Igreja Matriz, com bênção de Nossa Senhora. A missa se inicia às 10h30min e o almoço será ao meio-dia (ingressos a R$ 38). Uma nova missa será celebrada às 15h30min, seguida de show musical às 17h.
::Informações pelo telefone 3291-1366.