A família de Michelangelo Lummertz Cardoso, 32 anos, encontrado morto com dois tiros dentro de um carro às margens da Rota do Sol, no dia 11 de julho, contesta a conclusão da Polícia Civil de que ele teria cometido suicídio. Morador de Caxias do Sul, o homem havia saído da casa da sogra, no bairro Centenário, às 22h do dia anterior para trabalhar, porém, não chegou até a empresa, na região de Ana Rech. No dia seguinte, por volta das 8h, o carro de Cardoso, um Astra vermelho, foi localizado na entrada da Rua Atílio Andreazza (entrada pela Rota do Sol), nas proximidades do bairro Santa Fé. O trajeto era utilizado quase diariamente por ele e, por isso, a família acredita que ele foi morto numa emboscada.
— Eu quero justiça. Meu filho não tinha motivos para tirar a própria vida. Ele era muito apegado a mim, ao filho, não tinha inimigos. Ele trabalhava há 14 anos na mesma empresa, estava comprando uma casa nova. Alguém fez isso com ele por crueldade. Não sabemos se foi uma tentativa de assalto ou o que aconteceu de verdade, mas o suicídio não aceitamos — desabafa Ereni Lummertz Cardoso, 63, mãe de Cardoso.
Segundo a esposa Sabrina Pinto Simonetto, 27, a arma utilizada na morte dele não foi localizada, os documentos pessoais sumiram e alguns familiares não foram procurados para depoimento. Além disso, a mulher reclama da perícia.
Leia mais
Homem é encontrado com pelo menos dois tiros dentro de carro em Caxias do Sul
Degradação da Rua Cristóforo Randon, em Caxias do Sul, escancara descaso social e ambiental
Assaltantes atiram contra pés de vítima durante roubo de carro em Caxias do Sul
— O laudo que me entregaram não é claro. Fora isso, nem mesmo as balas retiraram do corpo dele. Resumindo, eu não sei o tipo de arma, não vi as balas, não me entregaram resultados de exames de sangue, nada. É um direito meu ter acesso a todas as informações. Quero saber quais são a provas que levaram a essa conclusão — diz Sabrina.
Os familiares de Cardoso levantam hipóteses para a morte. Uma delas é que ele teria sido vítima de um assalto. A outra é de que Cardoso pode ter sido baleado por engano. Isso porque, no mesmo dia da morte dele, dois homens foram assassinados numa lancheria no Portal da Maestra. Após o crime, a polícia teria saído atrás de criminosos e, conforme a família, pode ter trocado tiros com bandidos na estrada onde Cardoso passava. Assim, ele teria ficado no meio do caminho e recebido tiros.
"Este caso foi tratado com respeito e empenho"
Para o delegado responsável pela investigação, Rodrigo Duarte, os laudos emitidos, como o necroscópico e o residuográfico, são conclusivos. Conforme ele, a prova mais importante foi a presença de pólvora na parte superior da mão de Cardoso, o que, segundo a perícia, indica que ele mesmo apertou o gatilho.
— A investigação foi clara e transparente. A família tem todo o direito de contestar, mas cabe, agora, ao Ministério Público apurar. Quando os laudos chegaram até mim com a informação de vestígios de pólvora na mão dele, que os tiros foram disparados encostados no corpo e com todo o resultado da perícia feita no local do crime, não tinha qualquer outra conclusão possível. Estou convicto que foi suicídio — declara o delegado.
Ainda conforme Rodrigo, o sumiço da arma é justificável.
— O local onde o carro estava é escuro, o que certamente facilitou o furto da arma. Mas o celular dele estava visível no painel e não foi levado — diz Duarte.
Ele também descarta a possibilidade de crime passional ou acerto de contas.
— Este caso foi tratado com todo respeito e empenho — garante o delegado.
Para a irmã de Cardoso, a polícia concluiu o caso com base na falta de antecedentes criminais e na descrição sobre a personalidade do homem.
— Viram que meu irmão era do bem, nunca se envolveu em algo criminoso, tinha boas amizades e uma família unida. Daí decidiram concluir que foi suicídio — desabafa Josileide Lummertz Cardoso, 39.
O inquérito está sob análise do Ministério Público. A família contratou um advogado e deve solicitar a exumação do corpo de Cardoso.