A falta de investimentos na compra ou ampliação de leitos hospitalares pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nos últimos anos vem trazendo reflexos graves em Caxias do Sul. Depois do caso de um menino que teve um testículo amputado em função da demora de 30 horas para conseguir um leito após atendimento no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão), agora a Secretaria Municipal de Saúde apura as circunstâncias da morte de uma idosa na última sexta: Rosalina Slongo, 77 anos, teria ficado três dias no Postão aguardando por uma vaga hospitalar. Esses são apenas dois exemplos de um quadro que se arrasta há anos, sem perspectiva de solução e que se agrava especialmente no período de frio.
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Levantamento desta segunda ontem da Secretaria Municipal da Saúde mostra que Caxias tem 422 leitos. Esses leitos são ofertados no Hospital Pompéia (168), Hospital Geral (216) e Virvi Ramos (38). Há uma diferença entre os números da secretaria e do SUS. No site do DataSUS, está informada a existência de 430 vagas.Ontem à noite, segundo a prefeitura, as três instituições estavam com a capacidade muito próxima da total, e 68 pacientes (sendo 42 de Caxias de 26 de outros municípios) estavam cadastrados na Central de Regulação de Leitos (CRL) à espera de um lugar.Embora problemas sérios estejam mais visíveis agora, a falta de leitos no SUS não é recente.
A quantidade de vagas de internação nos hospitais de Caxias não aumenta significamente há pelo menos cinco anos, de acordo com dados do DataSUS. Se compararmos com 2012, por exemplo, há uma diminuição de 30 leitos. A situação se agrava se levarmos em consideração que a população aumentou 7,2% neste período e que o número de pessoas que usam serviços da rede pública também vem crescendo em função da crise econômica. A explicação, segundo a secretária de Saúde, Deysi Piovesan, é a falta de recursos financeiros e a capacidade física das instituições.
– A população foi aumentando, as despesas do município também, mas o recurso repassado pelo Ministério da Saúde, em específico para a compra de leitos, não cresceu. Desde que fui secretária pela primeira vez, em 2001, esse número cresceu muito pouco. A única diferença foram os 38 que entraram com o Virvi Ramos – complementa.
A secretária não sabe informar quantos leitos seriam necessários para suprir a demanda de Caxias. Em 2010, porém, a prefeitura estimativa a necessidade de abrir mais 150 leitos de internação na cidade - os números de vagas na época eram semelhantes ao quadro atual. Deysi admite que a espera de alguns pacientes por internação é grande - a média para quem é atendimento no Postão é de 15h -, mas não vê um cenário melhor tão breve:
– Já busquei resoluções no governo do Estado, mas, assim como acontece em Caxias e em outras cidades, não há dinheiro.