O fogo cruzado entre criminosos e policiais está cada vez mais comum em Caxias do Sul. Esta tendência é verificada desde 2015, quando 13 criminosos morreram ao reagir em ações policiais – 10 a mais do que no ano anterior. Nos últimos três anos, foram registrados 34 casos com morte. Morto na noite de sábado, Lenon Ferreira Costa, 20 anos, é a sexta vítima deste ano.
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Advogado criminalista em Caxias do Sul há 30 anos, Daniel Barreto opina que o aumento dos confrontos entre bandidos e polícia é consequência óbvia da redução da presença do Estado e do avanço da violência. Ele compara com a situação do trânsito: se não há fiscalização, mais motoristas tendem a cometer infrações.
– Com o acréscimo dos latrocínios e roubos de carro, veio o clamor social e a necessária resposta policial. Quanto mais grave (o crime), mais forte precisa ser a ação e maior chance de confronto. O que precisamos é de mais policiais. O delito só ocorre se o policiamento ostensivo está ausente. Se enviar todos os policiais de Caxias para Porto Alegre, logo os marginais da Capital virão para a Serra cometer crimes – aponta.
A defensora pública e coordenadora do Centro de Referência em Direitos Humanos, Mariana Py Muniz Cappellari, concorda que o momento de crise é o fator principal para o aumento das trocas de tiros. Ela ressalta a falta de estrutura e capacitação para apoiar o policial, que está exposto a violência nas ruas e está com sua vida em jogo. Por outro lado, ressalta que os relatos de abuso policial e o descrédito das pessoas no Judiciário influenciam o outro lado.
– É um ciclo da violência. A partir do momento que sou recebido com violência, também vou reagir com violência. Este enfrentamento com atitudes muitas vezes validadas por terceiros, gera esta lei do salve-se quem puder. Tanto por parte da polícia quanto das pessoas envolvidas nesta situação criminosa. É um tema complexo – comenta.
Segundo Mariana, a falta de uma política de segurança pública e de coleta de dados sobre a violência são dilemas. Ela aponta que o tema violência policial é um tabu para a sociedade, mas que cresce no momento de crise. Criado em 2014, o Centro de Referência em Direitos Humanos realizou mais de mil atendimentos e instaurou 700 procedimentos sobre abusos apenas neste ano – números que já ultrapassaram os dados de todo o ano passado.
– Os agentes públicos respondem pelo Estado e têm sim um dever muito maior de probidade e responsabilidade por seus atos, mesmo que por vezes a sociedade valide certas atitudes. Embora as instituições democráticas lutem, estamos voltando ao passado em que prevalecia a lei do mais forte. Estamos municiando os dois lados para que se enfrentem. Segurança pública não é só repressão, mas também prevenção. A realidade mostra que não conseguimos reduzir as taxas de criminalidade sem uma atuação conjunta – argumenta.