Resgatadas da condição de vítimas de tráfico humano e exploração sexual, um grupo de 12 jovens nepaleses acolhidas pelo programa cristão Meninas dos Olhos de Deus esteve neste domingo em Caxias do Sul, para apresentar um espetáculo de dança e teatro em uma igreja evangélica no bairro São José. Na excursão de três meses pelo Brasil, o grupo de 10 meninas e dois meninos quer despertar consciências para o grave crime cometido contra crianças do Nepal, vendidas como escravas sexuais para bordéis em diversos países, mas principalmente na Índia. Também é uma forma de arrecadar doações para manter a missão no país asiático, que iniciou em 2000.
A missionária Sheyla Barbosa, 50 anos, pastora da Missão Cristã Mundial – que mantém o Meninas dos Olhos de Deus e outros programas humanitários na África e na Ásia – explica que em 17 anos, mais de 400 moças e rapazes resgatados por organizações específicas foram acolhidos. Além do Nepal, a atuação abrange Camboja, Tailândia, Bangladesh e a Romênia, todos países onde o tráfico humano é um problema social muito presente. A missão oferece cursos profissionalizantes, escolas, oficinas de arte, entre outras atividades de reintegração social e recuperação da autoestima.
– Nossa casa funciona como uma família, não como uma organização. Quando temos a custódia das meninas, passamos a cuidar delas. Quando as famílias não representam risco, elas são reintegradas às famílias. Se há risco, elas ficam conosco ou se casam, ou vão ser independentes. É difícil até ganharmos a confiança e o coração delas, porque é uma restauração, um processo difícil. Não é algo que acontece do dia pra noite, porque elas tiveram suas infâncias marcadas. Mas o resultado que obtemos é lindo – comenta a religiosa.
Única do grupo de nepalesas que arrisca falar português, Eliza Shah, 28, passou de acolhida a acolhedora. Atualmente, trabalha para a missão ajudando a receber meninas que chegam ao projeto no Nepal. Ela diz estar amando a viagem pelo Brasil.
– O país é muito bonito, as pessoas têm sido muito carinhosas com a gente. A comida daqui também é muito gostosa – elogia.
Além das apresentação artísticas, os jovens acolhidos também dão depoimentos, com ajuda de intérpretes, para falar sobre os abusos que sofreram e as condições em que viviam.
– Para elas é muito difícil falar sobre o que viveram. Cada vez que pegam um microfone e dão seu depoimento, sentem aquela mesma dor. Mas é por amor àquelas que ainda sofrem que elas aceitam se expor – acrescenta Sheyla.