Após passar cinco dias detido em uma delegacia de São Leopoldo, Saimon Lucas Brazil Froes, 30 anos, celebra estar de volta a Caxias do Sul e ao convívio familiar. O metalúrgico alega que o autor do crime pelo qual foi preso e condenado, um furto em Santa Catarina dois anos atrás, é um primo que costuma informar uma identidade falsa. Após o relaxamento da prisão na segunda-feira, Saimon agradeceu ao esforço do seu advogado e a compreensão das autoridades envolvidas.
Como foi ser preso por engano?
Nunca imaginei vivenciar isto. Estava empolgado indo para um curso em Porto Alegre, que ia agregar à minha vida profissional, quando o cenário mudou completamente. Havia um mandado (de prisão) contra mim e, apesar do patrulheiro (rodoviário federal) acreditar na minha inocência, pois ele conhecia e já havia prendido o meu primo, não havia o que ser feito. Foi assustador. Fiquei numa cela, algemado numa parede e sentado numa cadeira por cinco dias. As pessoas da delegacia me tratavam bem porque sabiam que eu era inocente, mas tinham que cumprir a ordem judicial. Ter de ver as pessoas que amo por uma grade, elas passando frio em frente a uma porta para me ver por alguns momentos... Foram dias pesados.
O que seus familiares e advogado te passavam?
Eu sabia que estavam fazendo de tudo por mim e buscando ajuda em todos lugares. Eles camuflavam as coisas, me mostravam força e passavam mensagens positivas. Mas eu também sabia que a situação era ruim e que eles choravam escondidos. Uma cena que me marcou foi ver, no reflexo da janela de um restaurante, meu pai e sogro sentados, esperando para me ver. Em nenhum momento deixei de acreditar em Deus, mas foram dias terríveis. Ficar naquele local úmido, sujo, com horário para comer e precisando chamar um policial para ir no banheiro.
Como foi estar livre novamente?
Quando me levaram para uma cela sozinho e me avisaram que saiu meu documento (alvará de soltura), foi inexplicável. Estava livre. Acredito em Deus e vejo como uma grande lição, principalmente para valorizar as coisas pequenas. É algo difícil de acreditar que uma pessoa de má-fé possa enganar um policial, um juiz, a todos, até culminar com uma pessoa de bem sendo presa. Infelizmente faz parte deste nosso mundo, mas não desejo isso para ninguém.
Qual é a relação com seu primo?
Nós tínhamos uma relação próxima quando crianças, pois somos primos de sangue e fomos criados juntos. Infelizmente, ele se perdeu nesse caminho e foi se depreciando cada vez mais. Se afastou da nossa família, caiu no mundo das drogas e crime e começou a usar meu nome. Nós não somos parecidos, nem fisicamente, pois ele é maior e tem olhos claros. Somos bem diferentes, mas ainda assim deu problema. Até os policiais reconheciam (que não era a mesma pessoa da foto). Espero que o meu primo pague por tudo que fez, e algo assim não aconteça mais com ninguém.
Como você se sente agora?
Estou tranquilo, pois sou inocente. Foi algo que sentimos muito, ficamos tristes, preocupados e abatidos, mas conseguimos a vitória. Ainda sou condenado (por furto em Santa Catarina), mas toda essa negociação foi para eu estar novamente em liberdade. No momento, é muita coisa para mim. Agora, vou responder ao processo e mostrar que não sou o infrator. Hoje ainda, vou me apresentar no Fórum (de Caxias do Sul) e saberei das limitações (oficialmente, ele é um apenado do regime aberto). Estamos na luta e vou vencer mais uma vez.