O crescimento dos índices de roubo a ônibus e o medo da população chamaram a atenção dos órgãos policiais de Caxias do Sul. Com 98 assaltos registrados até a quinta-feira passada, o primeiro quadrimestre de 2017 é o pior dos últimos 19 anos. Na Polícia Civil, a Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Captura (Defrec) foi designada para realizar uma ação mais profunda. Este tipo de investigação demora, contudo é importante para elaborar mais provas para garantir que um suspeito fique mais tempo recolhido na prisão. Por outro lado, a Brigada Militar anunciará nesta terça-feira o retorno da Patrulha do Transporte Seguro.
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A iniciativa de destinar uma uma guarnição para combater os roubos a transporte coletivo surgiu após 2007 terminar com 310 assaltos – o pior ano contabilizado pela Visate. A ação foi considerada exitosa: no ano seguinte, os roubos reduziram 62% – foram registrados 194 casos. O índice caiu para menos metade em 2009 em relação ao ano anterior. Em 2010, ocorreram 61 roubos a ônibus – o melhor resultado nos últimos 19 anos. Com a extinção da patrulha em 2015, os casos aumentaram consideravelmente.
– Pouco mais de dois anos atrás, houve uma mudança de estratégia e a patrulha foi extinta. Iremos reativar este trabalho de maneira experimental e temporário. (Diante dos números atuais) algo precisa ser feito e buscamos um resultado positivo. Foi uma elevação considerável (nos índices) – aponta o major Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
O foco da Patrulha é aproximar a BM dos operadores da Visate e dos passageiros para identificar os problemas. A equipe atuará nos horários com mais ocorrências e será responsável pelo atendimento em caso de assalto, reduzindo o tempo de resposta. A princípio, a Patrulha atuará até junho, quando o trabalho será avaliado.
– É um trabalho preventivo e que irá reunir informações. Já temos descrições de suspeitos que foram trazidas pela comunidade. Via de regra, são indivíduos de baixa periculosidade, com armas brancas e perfil de usuário de crack. O valor levado é muito baixo – resume o comandante.
Defrec busca relacionar casos
A Polícia Civil também se mobiliza para responder a este pico nos roubos de ônibus. Foi solicitada que a Defrec, especializada no combate a quadrilhas e ao tráfico de drogas, investigue os casos. A intenção, além de identificar os assaltantes, é relacionar os casos e produzir provas mais robustas.
– O combate está sendo estruturado e pretendemos realizar uma ação articulada no todo. Não iremos buscar apenas um assaltante, mas enfrentar toda esta modalidade de crime. É um trabalho mais demorado, mas que irá gerar uma maior quantidade de provas para manter estes indivíduos presos – explica o delegado Mário Mombach.
Apesar da nova estratégia, o chefe da Defrec acredita que o perfil dos criminosos mantém o padrão: jovens de baixo nível de organização e atuação baseada na oportunidade. Os primeiros indícios apontam que os casos aumentaram devido à ação reiterada de pequenos grupos de delinquentes.
– O modo é aquele "chegar e fazer". Querem arranjar pequenas quantias de dinheiro para manutenção do vício (em drogas). Outro indicativo são os bairros de maior incidência: estes delinquentes atacam em uma área de domínio (o bairro que moram, por exemplo) onde sabem como fugir e se esconder – aponta o delegado.
Escala para crimes maiores
Apesar de ser um crime de alto risco – por envolver violência e criminosos inexperientes –, o roubo de ônibus muitas vezes é citado como um crime de menor potencial ofensivo. Entre os bandidos mais experientes, esse tipo de crime é considerado "chinelo", ou seja, praticado por criminosos de baixo escalão. Contudo, esses assaltos devem ser analisados como uma porta de entrada para crimes maiores.
No contexto do roubo a transporte coletivo, entra a figura do traficante. É ele quem recebe o usuário de drogas e vê uma oportunidade de usá-lo, afinal, o tráfico precisa de mão de obra barata para manter o domínio. Após ter sucesso em suas ações, esse ladrão é convidado e pressionado a cometer crimes mais graves, como defender um ponto de tráfico, ameaçar outro usuário em dívida e participar de assassinatos. Quando o ladrão é preso, acaba sendo apresentado a bandidos mais experientes na cadeia e sua escalada no crime se intensifica.
– Gera muita insegurança. É um crime da drogadição pura. Que alimenta pontos de tráfico, que enriquece o traficante e move esta rede criminosa. Os pequenos delitos é que colocam as pessoas no caminho do crime. Conheço delinquentes que roubavam ônibus 20 anos atrás e agora estão presos por roubo a banco. São pessoas que não passam por nenhuma recuperação, pelo contrário. No presídio, eles só escalam no crime – afirma Renato Cordeiro, supervisor de segurança da Visate.