A falta de professores na rede estadual de educação não deve ser sanada em menos de 30 dias na região de abrangência da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), apesar da aprovação recente de três projetos de lei na Assembleia Legislativa que prorrogam contratos emergenciais e temporários e autorizam a contratação de servidores. Somente em Caxias do Sul, o déficit é de 46 profissionais.
Em toda a 4ª CRE, que abrange 122 escolas de 14 municípios, são necessários cem professores. Em algumas instituições, as aulas foram reduzidas para dois dias da semana, e em outras as direções analisam cobrar dos pais um valor de mensalidade para cobrir os gastos com educadores que estão se desdobrando em até três turnos para não deixar os estudantes fora das salas.
Há problemas também envolvendo crianças com algum tipo de deficiência, que têm de ficar em casa por causa da ausência de monitores.
– Vamos conseguir suprir essa carência, mas não sei dizer o prazo. Depende de o candidato vir com a documentação correta e ela ser aprovada. Depois, ele tem de ser classificado e, então, chamado. Temos um banco de dados e o que faltava era a aprovação dos deputados. Não sei por que demoraram tanto tempo – declara a coordenadora da 4ª CRE, Janice Moraes.
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Ela estima um período mínimo de 20 dias para que um professor entre com os documentos e passe por todas as etapas da seleção. O problema é que as aulas começaram em 20 de fevereiro e há diversas escolas com sérias dificuldades em dar andamento ao ano letivo. No Estado, 600 turmas foram afetadas. De acordo Janice, após o fechamento das nomeações será preciso conversar com cada colégio para encontrar soluções.
– Faremos um planejamento sério e responsável junto com cada escola. São realidades distintas. Não tem como estabelecer um padrão – garante Janice Moraes.
Aulas de vôlei para matar o tempo e alunos de inclusão em casa
Reconhecida em São Marcos por promover a inclusão de crianças e adolescentes com deficiência, a Escola Maranhão pode ser uma das mais afetadas na Serra com a falta de professores. Por enquanto, nenhum aluno teve de ficar em casa porque o Círculo de Pais e Mestres (CPM) retirou do caixa recursos que seriam utilizados para a manutenção da estrutura do colégio e bancou horas extras aos educadores. Porém, não há mais como manter os pagamentos.
Uma alternativa estudada é sugerir a cobrança aos pais até que três professores sejam chamados. De acordo com a diretora, Valquiria Risson, há 117 matriculados – sete dentro de programas de inclusão, os mais afetados, pois necessitam de acompanhamento permanente. Uma menina com síndrome de Down, por exemplo, foi aconselhada a não frequentar as aulas.
– Ela tem direito a uma monitora, só que no momento não há e pedi para que ela não venha. Eu mesma, que sou licenciada em Química, estou lecionando para as séries iniciais. Nem sei se tenho a didática certa – desabafa Valquiria Risson.
Apesar de não serem mandados para casa, muitos estudantes perdem algumas aulas pela ausência dos profissionais. A solução é ficar na área da escola e praticar esportes, como o vôlei.
– Convocamos reuniões com os pais de todos os alunos para acharmos alternativas. Não acho que seja dever deles pagarem, se estão numa escola pública. Estamos buscando o que fazer – afirma a diretora.
Em Flores da Cunha, trabalho voluntário e apelo a ouvidoria
Em Flores da Cunha, professores e estagiários se dispuseram a trabalhar gratuitamente na Escola Pedro Cecconello para não deixar que os alunos ficassem em casa e perdessem o começo do ano letivo. Até a diretora e a vice estão dentro das salas de aula. A carência é nas disciplinas de português, ciências e religião, e atinge estudantes do 6º ao 9º anos do Ensino Fundamental. Apesar da aprovação das contratações na Assembleia, uma das coordenadoras do estabelecimento, Margarete Frizon, não faz ideia de quando a situação estará normalizada:
– A 4ª CRE nos disse que não há ninguém na lista de espera. Não enxergo solução em menos de 40 dias. Esperamos dar um jeito, pois assim é insustentável.
Um grupo de pais chegou a entrar com uma queixa na Ouvidoria da Educação do Estado para pedir uma atenção especial à escola. O caso mais grave é a disciplina de português, que está desde o dia 14 de fevereiro sem professor fixo. Uma das coordenadoras, Alessandra Boscat, ameniza pessoalmente a falta cumprindo uma função para a qual não teve condições de se preparar adequadamente.
– Nos preocupamos com a qualidade porque, queira ou não, por mais que a gente se esforce, não temos a mesma formação da pessoa que estava lá. Isso deixa a desejar quanto à qualidade, e é desvio de função. Temos professores dando aulas a mais do que deveriam, quando por direito poderiam estar em outras atividades – lamenta Margarete Frizon.