O cruzamento de levantamentos sociais nacionais com informações da rede assistencial do município deu origem a um resultado inédito e importante: cerca de 60 mil pessoas (cerca de 12,52% da população, estimada em 479 mil habitantes segundo o censo deste ano) vivem em situação de vulnerabilidade social em Caxias do Sul. Esse e outros aspectos constam no Relatório de Vulnerabilidade Social entregue semana passada pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) a representantes da transição do governo municipal. A pesquisa foi conduzida pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) e pelo Núcleo de Estudos e Pesquisas em Políticas Públicas e Sociais, ambos da UCS.
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O relatório é resultado de seis meses em que os pesquisadores se debruçaram sobre informações distribuídas em centenas de bases de dados nacionais e locais. Eles partiram dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cujo último censo é de 2010, e costuraram com informações mais recentes. Programas como Estratégia Saúde da Família (ESF), Cadastro Único e Bolsa Família também fizeram parte do estudo.
– Existem mais de 1,3 mil bases de dados em todo o Brasil relacionadas a questões sociais. Nosso trabalho foi de descobrir o que interessava, consolidar e costurar entre si. Muitos dados estão disponíveis, mas não são úteis se não houver essa compilação – explica o professor Roberto Birch Gonçalves, pesquisador e diretor do Ipes.
O estudo também mostra que esses casos de vulnerabilidade não são isolados: estão espalhados por toda a cidade, em 24 áreas chamadas de aglomerados subnormais elencados (são conjuntos de 51 ou mais moradias irregulares ou com alguma outra carência, como de esgoto, água, luz ou iluminação pública, segundo o IBGE). Regiões dos bairros Planalto e Fátima e proximidades do aeroporto regional Hugo Cantergiani estão nessa lista. Os dados completos da pesquisa ainda não foram divulgados à imprensa.
– Esses números são vivos. Com a crise, é provável que mais famílias entrem em vulnerabilidade social – acredita o cientista político João Ignacio Pires Lucas, um dos pesquisadores.
Entre os critérios de vulnerabilidade, a pesquisa considerou casos de famílias com renda de até meio salário mínimo per capita, o que significaria R$ 440. Algumas, no entanto, ficam bem abaixo disso, com renda de até R$ 85 per capita, situação caracterizada como de extrema pobreza.
A pesquisa foi solicitada à UCS pelo Comitê de Responsabilidade Social da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias.
Trabalho poderá pautar políticas públicas
O andamento do trabalho consistiria, inicialmente, em duas etapas. Na primeira delas, a ideia seria aprofundar os estudos, incluindo análises secundárias de instituições como igrejas, que podem ter pesquisas relevantes, segundo explica o professor Roberto Birch Gonçalves. A outra fase seria o cruzamento de informações com um trabalho de campo junto às famílias.
– A ideia é ter um norte para construir políticas públicas e não generalizá-las – aponta o professor Roberto.
Na última sexta-feira, o relatório foi entregue oficialmente ao frei Jaime Bettega, coordenador da transição na Fundação de Assistência Social (FAS). Bettega acompanhou o trabalho de perto durante os seis meses de estudos.
– Essa pesquisa vai nos ajudar no sentido de sabermos onde estamos e pautar onde teremos que chegar, dizer onde estão as urgências. Talvez, no futuro, poderemos ter um trabalho de prevenção: se você ataca o problema na raiz, você pode sonhar com uma cidade com índices melhores e capaz de solucionar os seus problemas. Queremos tratar a questão de forma científica –Voluntários criam vaquinha digital para ajudar haitiana a trazer os filhos para Caxias do Sul comenta Bettega.