O semblante triste da dona de casa Nara Maria Soares Flores, 59 anos, têm motivo: saudades. São 90 dias sem saber o paradeiro do irmão Delci Soares Flores, 53, que desapareceu no dia 17 de junho deste ano. Sem informações de onde ele possa estar, a família se apega às lembranças.
– O Delci nunca ficou um dia sem falar comigo, era meu conselheiro, meu amigo. Sempre foi trabalhador, responsável e guardava as economias para ter uma vida melhor. A ausência dele dói, mas o pior é não ter a mínima ideia de onde ele possa estar – desabafa Nara.
Flores trabalhava como carpinteiro na Viezzer Engenharia e morava sozinho em uma casa do bairro Serrano. Dias antes de desaparecer, a família conta que não notou nada de estranho com ele. Ele havia trabalhado normalmente no dia anterior ao sumiço. Na manhã seguinte, não apareceu na empresa. Quando a família foi procurá-lo em casa, encontrou os documentos e objetos pessoais que ele costumava carregar.
– Meu irmão tinha uma vida humilde e tranquila. Não consigo encontrar respostas para ele ter sumido. Ele não tinha inimigos – conta a irmã.
Segundo a família, existem três hipóteses: Flores pode ter sido sequestrado e morto, foi embora para outra cidade ou tirou a própria vida.
O drama vivido pela família Flores é o mesmo da família de Sérgio Antônio da Silva Corrêa: no dia 19 de novembro de 2014, ele disse que iria para Cambará do Sul e retornaria no mesmo dia. Ele saiu num Vectra. Desde então, a família não teve mais notícias dele. Corrêa era patrão do Piquete de Laçadores Potreiro Velho, em Caxias do Sul, e passava os finais de semana em festas campeiras e rodeios.
A saudade do pai alegre e carinhoso faz com que as filhas não percam a esperança do reencontro.
– Essa época de Semana Farroupilha é a mais triste, porque o que ele mais gostava era de laçar. Eu e minhas irmãs temos crises vez ou outra. Falam para a gente encarar o luto mesmo sem ter a certeza se está vivo ou morto, mas eu não consigo pensar assim – desabafa uma das filhas, Aline Corrêa, 26.
Um dos casos já tem suspeitos
A Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD) está responsável pela investigação sobre os dois desaparecidos. Em relação ao caso de Sérgio Antônio da Silva Corrêa, há um suspeito de envolvimento no sumiço. O tradicionalista, na época com 47 anos, residia no bairro Santo Antônio com a esposa e duas filhas.
Segundo o delegado Rodrigo Kegler Duarte, o Vectra de Corrêa foi encontrado há cerca de quatro meses em poder de um homem que comprou o carro de um terceiro. Apesar do veículo ser de Corrêa, os documentos estavam no nome de outra pessoa. Uma hipótese é de que uma negociação envolvendo o Vectra tem relação direta com o desaparecimento.
– Quebramos o sigilo telefônico do sumido e não descobrimos nada. Paramos nessa venda do veículo que foi realizada em Arroio do Sal. Em tese, o homem (Corrêa) ainda é considerado sumido. Se por acaso se tratar de homicídio, já temos um suspeito principal _ diz Duarte.
Sobre o sumiço de Delci Soares Flores, ainda não há novidades. Denúncias podem ser encaminhadas para o 197 da Polícia Civil ou para o 181 do Disque-Denúncia.
O QUE FAZER QUANDO UM FAMILIAR DESAPARECER
– Antes de registrar o desaparecimento na Polícia Civil, você deve manter contato com parentes, amigos, namorados e vizinhos.
– Tente rastrear os últimos passos da pessoa desaparecida.
– Tente identificar as roupas usadas em seu último aparecimento, levando em consideração itens como cores.
– Se você possui familiares que residam em outras localidades, tente entrar em contato com os mesmos, pois muitos desaparecidos costumam se refugiar em casas de amigos ou parentes que moram em outras localidades.
– Converse com as últimas pessoas que tiveram contato com o desaparecido para avaliar a sua situação psicológica e emocional (estado de espírito) tentando obter uma possível indicação do motivo e/ou destino do mesmo.
– Ao registrar a ocorrência, se possível, leve uma foto recente do desaparecido, de maneira a permitir melhor identificação das características físicas da pessoa (altura, cor, etc.).
– Entre em contato com os hospitais, Departamento Médico Legal (DML) para saber se o desaparecido não sofreu algum acidente ou foi vítima de violência.
– Em caso de o desaparecido ser criança: tente identificar as roupas, se fala, se sabe indicar onde mora, sabe escrever/telefonar, se costuma ir a casa de amigos sem avisar.
– Em caso de pessoas com debilidade mental, tente informar quantas vezes já desapareceu, onde foi encontrada, se estava recolhido a algum hospital ou casa de tratamento.
*Fonte: Polícia Civil do Estado do Rio Grande do Sul