Ao menos duas pessoas morreram, segundo a oposição, e várias ficaram feridas nesta quinta-feira em Libreville, quando as forças de segurança realizaram uma operação contra a sede da campanha do opositor Jean Ping, cuja derrota na eleição presidencial provocou distúrbios na capital do Gabão
"Há dois mortos e vários feridos, segundo uma fonte confiável", disse Ping à AFP.
Os distúrbios aconteceram após o anúncio dos resultados da eleição presidencial, com a vitória questionada do atual presidente Ali Bongo Ondimba.
De acordo com um porta-voz do governo, a Guarda Republicana realizou a ação contra a sede da campanha de Ping em busca de "criminosos", responsáveis pelo incêndio na quarta-feira da sede da Assembleia Nacional em Libreville.
Na manhã desta quinta-feira, o centro da capital do país permanecia deserto e isolado pela polícia, assim como pelos tanques das forças de segurança. Nos bairros da periferia foram registrados saques, ao mesmo tempo que as linha telefônicas e a internet foram cortadas.
Quase 200 saqueadores foram detidos desde a noite de quarta-feira, informou a polícia nacional gabonesa.
"Os saques prosseguem nos bairros populares", disse uma fonte policial, que citou seis agentes feridos.
"Atacaram à 01H00 (21H00 Brasília). Foi a Guarda Republicana. Primeiro bombardearam com helicópteros, depois por terra. Há 19 feridos, alguns deles muito graves", disse Ping ao relatar a ação contra a sede de sua campanha.
O porta-voz do governo, Alain-Claude Bilie-By-Nze, afirmou que "pessoas armadas que incendiaram a sede da Assembleia Nacional estavam no quartel-general de Jean Ping, assim como centenas de saqueadores e homens violentos".
A França, ex-potência colonial, expressou "grande preocupação" com os acontecimentos no Gabão e afirmou que "não espaço para a violência" no processo eleitoral.
Ali Bongo Ondimba está no poder desde 2009, seguindo a trajetória do pai, Omar Bongo, que permaneceu no poder durante 41 anos.
Tanto Bongo como Ping haviam proclamado vitória após as eleições de sábado, o que provocou os temores de uma repetição da violência que sacudiu o país depois das eleições de 2009.
Na terça-feira, a Comissão Eleitoral anunciou que o presidente em fim de mandato, de 57 anos, foi reeleito para um segundo período de sete anos com 49,80% dos votos, contra os 48,23% obtidos por Jean Ping, de 73 anos, outrora líder do regime de Omar Bongo, pai do atual presidente.
A diferença de votos foi de 5.594 de um total de 627.805 inscritos neste pequeno país petroleiro de 1,8 milhão de habitantes.
Os delegados de Ping questionam os resultados em uma das nove províncias do país, Alto-Ogooué, reduto da etnia Téké dos Bongo.
Ali Bongo Ondimba teria recebido nesta província 95,46% dos votos, com uma participação de quase 100% dos inscritos.
Após o anúncio do resultado, confrontos foram registrados entre as forças de segurança e opositores. Ao mesmo tempo, Ali Bongo elogiou uma eleição "exemplar".
A comunidade internacional pediu a publicação dos resultados de todos os locais de votação do país. A União Europeia (UE) considera a situação no Gabão uma "crise profunda" e fez um apelo de calma a todas as partes.
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