Ao menos quatro pessoas morreram e dezenas ficaram feridas na Tailândia em meio a uma série de explosões registradas entre a quinta-feira e a manhã desta sexta, no sul do país asiático. Os ataques, que ainda não foram reivindicados por nenhum grupo, parecem ter sido coordenados.
Enquanto seguem as investigações, as autoridades de Bangcoc – temerosas pelo efeito que os ataques podem ter no turismo – excluem a hipótese de terrorismo, preferindo falar em "sabotagem local". O ataque mais grave aconteceu em Hua Hin, um dos mais famosos destinos turísticos da Tailândia, a cerca de 200 quilômetros da capital. Duas bombas explodiram em uma rua próxima a um popular mercado turístico, deixando um morto e mais de 20 feridos.
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Segundo a polícia, as bombas estavam escondidas em dois vasos de plantas e foram detonadas por meio de um telefone celular. Novamente em Hua Hin, outras duas bombas explodiram nas proximidades da Torre do Relógio, deixando mais um morto. Outra vítima foi registrada em Surat Thani, mais ao sul, depois de uma cerimônia que marcou o aniversário da rainha Sirikit.
Mais tarde, em Phuket, na zona turística de Patong, uma bomba menor explodiu, deixando um ferido. Além disso, outros artefatos menores foram identificadas e desativadas pela polícia.
Tanto as autoridades de Hua Hin quanto de Phuket pediram que os turistas evitem as áreas mais movimentadas das cidades. O sul tailandês, onde fica Hua Hin, abriga há 12 anos um movimento armado separatista. No entanto, ninguém reivindicou o atentado até agora.
Lar de belas praias, a região é procurada sobretudo por turistas europeus.
Repercussões
A polícia segue a pista de "uma sabotagem local" na investigação sobre as explosões que deixaram quatro mortos nas últimas horas na Tailândia. Os especialistas cogitam outras hipóteses.
Para Thitinan Pongsudhirak, cientista político independente da universidade de Chulalongkorn de Bangcoc, "o mais provável é que sejam as forças políticas que perderam o referendo" de domingo passado na Tailândia.
A polêmica nova Constituição foi adotada em referendo, em um contexto de fortes restrições das liberdades públicas. A junta militar havia proibido fazer campanha pelo não, sob ameaça de penas de prisão.
Os partidários da ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra, deposta pelos militares em 2014, denunciaram que o regime manipulou a consulta popular ao não permitir o debate. No entanto, Yingluck pediu aos seus simpatizantes, sobretudo aos chamados Camisas Vermelhas, que acatassem o resultado e se concentrassem nas eleições legislativas previstas para 2017. Ela condenou os atentados.
O fato das explosões terem sido cometidas nesta sexta-feira, aniversário da rainha Sirikit da Tailândia, parece um desafio lançado ao exército, que tomou o poder em 2014 em nome da proteção da monarquia.
Conflito separatista muçulmano
– Os culpados são provavelmente grupos rebeldes que combatem o Estado tailandês no extremo sul do país – especula Paul Chambers, especialista americano no exército.
Os separatistas do extremo sul da Tailândia dominam as técnicas de detonação de bombas à distância e os dispositivos de duplos artefatos para provocar o maior número possível de vítimas.
Nos dois anos em que os militares estão no poder não há soluções à vista para o conflito, que deixou milhares de mortos em uma década de confrontos.
O porta-voz policial Krissana Pattanacharoen disse nesta sexta-feira que havia semelhanças entre as bombas de fabricação caseiras usadas nos últimos atentados e as detonadas com frequência pelos rebeldes no extremo sul, mas não especificou quais.
O ministro da Defesa, Prawit Wongsuwon, rejeitou a hipótese.
– Estas bombas não estão relacionadas aos distúrbios no extremo sul da Tailândia – afirmou Prawit.
Se esta pista for confirmada, seria a primeira operação de envergadura dos rebeldes fora das províncias do extremo sul, onde operam. Por enquanto, não parecem vinculados ao terrorismo islamita internacional.
Defensores dos uigures
Há um ano uma bomba deixou 20 mortos no centro de Bangcoc. Foi o atentado mais mortífero da Tailândia. Os dois principais suspeitos são chineses da etnia muçulmana uigur, que se considera perseguida por Pequim. O julgamento começará em Bangcoc em 23 de agosto.
Piyapan Pingmuang, porta-voz da polícia nacional, afirmou que é examinado um possível vínculo entre os dois atentados.
– Acredito que a equipe de investigadores está levando isso em consideração – declarou.
Em relação ao atentado de 2015, as autoridades tailandesas evitam mencionar oficialmente a pista uigur, para não entrar em confronto com Pequim, afirmam os analistas.
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