Com as prisões de Eduardo Junior da Rosa, 31 anos, o Foguinho, na semana passada, e de Luciano da Silva de Godoi, 19, o Lucianinho, no último sábado, a Polícia Civil acredita ter neutralizado parte de um grupo envolvido numa disputa sangrenta pelo tráfico de drogas no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, a Vila do Cemitério, em Caxias do Sul.
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O conflito deixou oito mortos entre agosto de 2015 e maio deste ano. A guerra entre os bandos rivais foi escancarada na Operação Sepultura, deflagrada em dezembro do ano passado, a maior ação policial já vista na comunidade. A Polícia Civil imaginava que a operação cessaria os crimes, o que não ocorreu. Foguinho é apontado como o líder do grupo que desafiou o bando chefiado por Robson Luiz Fiorentina Neto, que está foragido. Lucianinho, por sua vez, é aliado de Foguinho.
A ficha de Foguinho registra três indiciamentos por homicídio e outros sete por roubos. A intenção dele, segundo a Polícia Civil, era retornar para a Vila do Cemitério, de onde foi expulso havia alguns anos por conta de uma rixa com traficantes já mortos.
Neto é companheiro de Cristiana Aparecida Moraes Martins, a Cristianinha, também apontada como uma liderança no tráfico, mas que não está indiciada no inquérito da Operação Sepultura.
– São diversos casos interligados que demandaram bastante trabalho e investigação policial. Após a deflagração da operação, imaginávamos que diminuiria a violência na região. Entretanto, em razão de não conseguirmos capturar um dos principais membros de um dos lados, que é o Lucianinho, foram praticados mais alguns homicídios. A partir das prisões dele e do Foguinho, a expectativa é que a coisa fique mais tranquila. Porém, vamos ter que monitorar pois, provavelmente, alguma outra força irá querer tomar aquela região – alerta o titular da Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD), Rodrigo Duarte.
Os investigadores conseguiram comprovar a participação de Lucianinho em dois assassinatos e outras duas tentativas. O rapaz ainda é o principal suspeito de um terceiro assassinato. A relação entre as mortes foi um dos trunfos da investigação, que justificou a manutenção das prisões.
– Já são mais de seis meses de prisão preventiva (dos presos em dezembro), ou seja, está bastante clara a ligação dos casos. Foi isto que deixou evidente o abalo da ordem pública – conclui o delegado Duarte.
O início do conflito
O bairro Euzébio Beltrão de Queiróz tem sua história marcada por disputas de traficantes. O conflito atual é uma herança de desavenças antigas, porém, a apuração da DHD consegue apontar um ponto de partida. Em maio do ano passado, talvez prevendo a formação de um novo grupo, Elton Pontes da Rosa, 26, o Pinujo, aliado de Robson Luiz Fiorentina Neto, liderou uma tentativa de homicídio contra Matheus Jesus Manfredini, 20, aliado de Foguinho e Lucianinho.
A investigação apontou que Pinujo tinha uma posição central em sua quadrilha, sendo o responsável por "manter a ordem" na vila. Porém, 18 dias após o ataque, ele foi preso pela Brigada Militar (BM) em um esconderijo no bairro Marechal Floriano. O recolhimento dele ao sistema prisional desencadeou a sequência de ataques e assassinatos.
Sequência de crimes
31 de maio de 2015
O primeiro sinal do conflito foi uma tentativa de homicídio contra Matheus Jesus Manfredini no bairro Cinquentenário. Por este crime, a DHD indiciou Elton Pontes da Rosa, o Pinujo, Edson Giovani Macedo Moreira, o Ranho, e Glaucemir Jorge Soares, o Camelo. Os quatro homens faziam parte do grupo de Robson Luiz Fiorentina Neto, rival de Manfredini e também de Eduardo Junior da Rosa, o Foguinho, e Luciano da Silva de Godoi, o Lucianinho. O controle do bairro enfraqueceu após a prisão de Elton de Pontes da Rosa, o Pinujo, aliado de Neto. Ele foi flagrado em uma moradia do bairro Marechal Floriano com uma pistola, uma espingarda, pedras de crack e 21 gramas de cocaína, além de aparelhos eletrônicos e câmeras de monitoramento. Patrick Moraes Maciel, comparsa de Elton, também é preso.
14 de julho de 2015
Integrantes do grupo de Foguinho e Lucianinho, aliados de Manfredini, realizaram um ataque contra Glaucemir Jorge Soares, o Camelo. Na época, ele afirmou aos policiais que tinha sido vítima de um assalto frustrado na Avenida Júlio de Castilhos, versão desmentida posteriormente.
19 de julho de 2015
O bando liderado por Neto atacou a tiros a casa da família de Lucianinho e do irmão dele, Fabiano da Silva de Godoi. Os autores seriam Robson Luiz Fiorentina Neto, Edson Giovani Macedo Moreira, o Ranho, e Glaucemir Jorge Soares, o Camelo.
1º de agosto de 2015
Vinícius Teles de Souza, 22, integrante do bando de Neto, foi o primeiro a tombar na disputa. Ele foi executado com tiros na cabeça e no peito na Rua Cristóforo Randon, no Euzébio Beltrão de Queiróz.
16 de agosto de 2015
Gedson Pires Braga, 24, o Cavernoso, também do grupo de Neto, foi morto a tiros na Rua Henrique Cia, no Euzébio Beltrão de Queiróz. Lucianinho foi indiciado pelo crime. Cavernoso é suspeito de ter matado a estudante Ana Clara Adami durante um assalto no bairro Pio X.
No mesmo dia, em represália pela morte de Cavernoso, Neto comandou uma emboscada contra João Carlos Ferreira dos Reis, 27, em frente à Penitenciária Industrial de Caxias do Sul (Pics). Reis, integrante do grupo de Foguinho, foi baleado, mas sobreviveu. A vítima fatal do ataque foi Mauricio Lopes do Rosário da Silva, 21, que visitava a namorada apenada. Ele era conhecido de Reis, mas não teve ligação comprovada com a criminalidade do bairro. Neto foi indiciado pelo crime.
21 de setembro de 2015
Paulo Ricardo Dall'igna, 45, do grupo de Neto, foi executado com cinco tiros na esquina da Rua Vinte de Setembro com a Rua José do Patrocínio, no Euzébio Beltrão de Queiróz.
22 de outubro de 2015
Ronaldo de Oliveira, 27, outro integrante da quadrilha de Neto, foi encontrado morto com tiros nas costas e cabeça na escadaria de acesso à Rua Cristóforo Randon, no Euzébio Beltrão de Queiróz.
2 de dezembro de 2015
A Polícia Civil desencadeou a Operação Sepultura, que resultou em sete prisões preventivas e uma temporária. Quatro suspeitos não foram localizados, incluindo os líderes rivais Neto e Lucianinho. A polícia imaginava que os crimes iriam cessar, o que não ocorreu.
17 de dezembro de 2015
Isaac de Oliveira, 25, o Campana, do grupo de Neto, foi executado com sete tiros em uma residência do Euzébio Beltrão de Queiróz.
16 de fevereiro de 2016
João Vitor Santos da Silva, 15, o Vitinho, do grupo de Neto, foi assassinado com um tiro na cabeça na Rua Henrique Cia, no Euzébio Beltrão de Queiróz.
1º de maio de 2016
Tiago Wolf da Rosa, 14, do grupo de Neto, foi morto a tiros enquanto dormia em uma casa da Rua Henrique Cia, no Euzébio Beltrão de Queiróz. Lucianinho, foi indiciado pelo crime.
20 de julho de 2016
Eduardo Junior da Rosa, o Foguinho, 31, foi preso pela Polícia Civil. Na casa dele, no bairro Rio Branco, os agentes apreenderam uma submetralhadora.
23 de julhoAção conjunta da Polícia Civil e da BM resulta na prisão de Lucianinho. Ele estava armado com um revólver.
Grupo de Robson Luiz Fiorentina Neto
- Robson Luiz Fiorentina Neto: foragido.
- Elton de Pontes da Rosa, o Pinujo: em liberdade provisória desde maio.
- Edson Giovanni Macedo Moreira: foragido.
- Glaucemir Jorge Soares, o Camelo: preso.
- Peterson Pereira: foragido.
- Tiago Moraes Maciel, o Sal: preso.
- Patrick Moraes Maciel: foragido.
- Vinícius Teles de Souza: assassinado.
- Paulo Ricardo Dall'igna: assassinado.
- Gedson Pires Braga, o Cavernoso: assassinado.
- Ronaldo de Oliveira: assassinado.
- Isaac de Oliveira, o Campana: assassinado.
- João Vítor Santos da Silva: assassinado.
- Tiago Wolf da Rosa: assassinado.
Grupo de Eduardo Junior da Rosa, o Foguinho.
- Foguinho: preso.
- Luciano da Silva de Godoi, o Lucianinho: preso.
- Fabiano da Silva de Godói, o Fabianinho: preso.
- João Carlos Ferreira dos Reis: preso.
- Paulo Giovani Giacomoni Pereira, o Dezenove: preso.
- Maicon Luís da Silva Rodrigues: preso.
- Jonathan Pereira Jesus, o Diou: preso.
- Matheus Jesus Manfredini: preso.
- Emerson Cristiano Ribeiro, o Pila: preso.
Vítima sem lado:
Maurício Lopes do Rosário da Silva: era conhecido de Reis e foi morto no dia 16 de agosto de 2015. Não tem ligação com os grupos citados na investigação.
Guerra do tráfico
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Leonardo Lopes
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