A frota de veículos aumentou 27,3% em Caxias do Sul nos últimos sete anos, mas os acidentes de trânsito que poderiam acompanhar esse incremento diminuíram gradativamente no período. Em 2012, por exemplo, a cidade registrava média mensal de 665 acidentes. Neste ano, esse número caiu para 523 casos por mês – 21,36% a menos.
O número obviamente ainda é elevado, pois de um total de 2.615 acidentes neste ano, 617 deles produziram feridos ou mortos. Contudo, é sinal de que ações de repressão e campanhas estão revertendo o quadro e mantendo resultados.
Se a tendência persistir, 2016 pode ser o período com menos óbitos no município desde 2010: naquele ano, 67 pessoas perderam a vida em atropelamentos e colisões. Nos anos seguintes, as mortes foram caindo, chegando ao menor patamar em 2015, com 48 mortes. Até maio deste ano, morreram 18 pessoas.
A redução é verificada desde que as ações contra a embriaguez ao volante se tornaram sistemáticas no município, em 2012, embora não seja possível atribuir a mudança dos indicadores apenas a esse trabalho. As barreiras pela cidade foram desencadeadas após a morte de três jovens, que se acidentaram em São Pelegrino na volta de uma festa, no final de 2011.
Diretor de Trânsito de Caxias até agosto do ano passado, Jorge Catusso acompanhou de perto a evolução das abordagens e, consequentemente, a mudança dos números. Entre 2012 e 2014, as blitze em busca de motoristas bêbados se multiplicaram, especialmente à noite. Além da fiscalização de Trânsito, as barreiras têm a participação da Brigada Militar, da Polícia Civil, da Guarda Municipal e das polícias rodoviárias estadual e federal.
– Foram quatro anos de muito sacrifício, trabalho de madrugada de alto risco. Hoje, percebe-se que o jovem tem total noção das consequências. O condutor que viu um pai, um amigo ser flagrado bêbado, é quase totalmente consciente – avalia Catusso, hoje atuando na Secretaria do Meio Ambiente.
Menos condutores embriagados
Outro dado chama a atenção: menos condutores embriagados têm sido flagrados nos testes de bafômetro em Caxias. Em 2012, com as blitze sistemáticas, a cidade registrou alta no número de pessoas que misturavam álcool e direção: foram 1.847 casos, número 14 vezes maior do que o registrado no ano anterior. Antes desse período, a média anual não chegava a 80 flagrantes.
Depois do salto inicial de 2012, a quantidade de infratores vem caindo. No ano passado, foram 510 testes positivos contra 954 em 2014. De janeiro a maior deste ano, a fiscalização identificou 307 motoristas embriagados. Os resultados podem ser reflexo de uma maior conscientização por parte dos condutores.
Na visão de Natasha Gastal, coordenadora executiva da Fundação Thiago de Moraes Gonzaga - Vida Urgente, os dados refletem uma mudança de comportamento:
– A mudança que percebemos é que beber e dirigir era socialmente aceito, as pessoas diziam que dirigiam melhor quando bebiam. Embora hoje muitos ainda bebem e dirigem, eles têm vergonha de admitir. Mas reforçamos a importância das ações de fiscalização.
O diretor municipal de Trânsito, Érico de Oliveira, garante que o trabalho prossegue mesmo com um grupo menor de fiscais envolvidos nas abordagens.
– O que diminuiu foi o efetivo empregado nas fiscalizações, elas não deixaram de ocorrer semanalmente. O importante é que seja mantido o trabalho – pontua.
Apesar dos números, a redução de acidentes, porém, não é percebida no atendimento aos feridos. No Hospital Pompéia, referência para casos de traumatismo, a diferença foi notada quando a lei seca se fortaleceu na cidade, por volta de 2012.
– Quando surgiu a lei seca deu uma reduzida, mas nada de expressivo. Na prática, estamos em um contexto normal – analisa Renata Demori, coordenadora administrativa da urgência e emergência do Pompéia.
Casos de embriaguez triplicaram no Estado
- O mesmo movimento de embriaguez ao volante registrado em Caxias do Sul ocorreu no Estado: depois de um salto nas autuações, os números começaram a cair.
- Em 2013, foram flagrados 21,3 mil motoristas bêbados em todo o Estado, resultado 10% menor do que em 2012, com 23,7 mil casos. Em 2014, a curva voltou a crescer no Rio Grande do Sul, com 23,3 mil ocorrências, e tornou a baixar no ano passado (21,1 mil).
- Apesar da diminuição de casos verificada nas estatísticas, o Detran aponta que, em oito anos de lei seca (implantada em 2008), o número geral de embriagados no trânsito triplicou: de 6,8 mil em 2008, avançou para os pouco mais de 21 mil do ano passado.