O mesmo movimento gerado para preservar o talian, falado entre poucos descendentes de italianos e hoje elevado ao status de língua brasileira de imigração, começa a ser fortalecido para manter vivos dialetos e idiomas pouco difundidos em Caxias do Sul e região. É pelo interior que são mais ouvidas, mas as linguagens que lembram os povos que ajudaram a formar a Serra Gaúcha também são percebidas em praças e parques centrais, graças a pessoas que aprenderam com antepassados ou ao esforço de quem se dedica a ensinar. Alguns lugares, como Serafina Corrêa, já servem de modelo, mas há outras ações pela região.
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Reconhecido como referência cultural brasileira pelo Iphan, o talian surgiu como dialeto, mistura de falares de imigrantes de diversas regiões da Itália acrescida de palavras em português. Desde 2009, o talian é língua co-oficial em Serafina, cidade de 14 mil habitantes colonizada principalmente por italianos. A criação de uma lei respaldou o município para investir mais na preservação, mas ainda faltam avanços para que o talian integre o currículo escolar, a exemplo do que já ocorre com o italiano. Por enquanto, o talian é ensinado em oficinas em alguns dos 11 colégios municipais.
Na escolinha Jeito de Criança, o talian é ensinado desde o berço. Crianças de zero a quatro anos são incentivadas com canções, orações, histórias, teatro e receitas típicas. Os maiores já rezam o Pai Nosso e a Oração da Criança em talian.
– O ser humano precisa conhecer a história dos seus antepassados para dialogar com propriedade sobre a sua história. Para não se perder, temos que começar pela base – acredita a diretora, Adriane Maria Scalco Mezzomo.
Alguns eventos na cidade ocorrem também em talian, como a via sacra. Responsável na prefeitura pelo desenvolvimento do talian, Solange Maria Soccol analisa os avanços:
– As crianças estão aprendendo músicas, jogos, isso vai criando uma consciência coletiva. A escola seria o principal ponto de referência para um trabalho de longo prazo no futuro. O importante é criar esse amor dentro da gente.
Assim como ocorreu com o talian, que avançou até virar língua, entusiastas trabalham para difundir outros idiomas ou ampliar o status de dialetos. Um movimento para que, aos poucos, mais falares e mais cultura sejam multiplicados.
– Uma língua deixa de ser falada não quando morre seu último falante, mas quando deixa de ser transmitida desde o lar – entende Marley Terezinha Pertile, linguista e doutora em Letras.
Línguas e dialetos pela região
Pesquisadores divergem quanto ao talian
O estudo do talian não é unanimidade entre pesquisadores da Serra. Professor particular e autor do Dissionário Talian Veneto Brasilian Portoghese e Dicionário Português Talian, o pesquisador Darcy Loss Luzzatto não tem dúvidas de que a língua deva ser incluída nas grades escolares. Na visão de Luzzatto, é importante criar uma cadeia educativa para propagação do talian.
– Eu acho errado ensinar o italiano. A Itália não nos deu nada. Ficaram felizes da vida que a gente saiu de lá, nos empurraram para fora. Se é para ensinar um idioma, claro que eu defendo o talian – afirma.
O pensamento da doutora em Educação e pesquisadora da dialetologia e da linguagem italiana Vitalina Maria Frosi diverge de Luzzatto. Para Vitalina, é a língua italiana que deve ser ensinada, como já ocorre em algumas escolas da região. O conhecimento do talian viria a reboque, junto com o estudo da cultura italiana. Vitalina lembra que o talian sempre foi uma língua de tradição oral e acredita que, por ser falada por uma minoria no Brasil, deva ser estimulada em outras áreas, como teatro.
– Sou radicalmente contra ensinar o talian nas escolas, porque o que sobrou do dialeto é uma mistura com predominância do português – avalia.