Anunciada em 2014, a terceira fase do Programa de Asfaltamento do Interior (PAI 3) ainda passa por ajustes para a liberação do financiamento das obras e só deve sair do papel em 2017. Serão pavimentados 16 trechos, totalizando pouco mais de 68 quilômetros de estradas de Caxias do Sul. Já as localidades não contempladas nesta etapa amargam uma espera ainda mais longa: se não há data certa para iniciar o PAI 3, tampouco há previsão de quando outros trechos serão atendidos.
O dinheiro que pagará o asfalto – US$ 33 milhões (R$ 116 milhões) – virá de empréstimo e inclui o custo da construção de uma rotatória e de uma passarela no projeto de reformulação do acesso ao bairro Planalto, pela BR-116. O financiamento foi aprovado no dia 10 de maio pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.
De acordo com o secretário municipal de Gestão e Finanças, Gilmar Santa Catharina, falta ajustar exigências feitas pelo governo federal para obter o empréstimo da Cooperação Andina de Fomento (CAF), instituição financeira que repassará os recursos do PAI 3.
Tão logo se encerre essa etapa, deve ser firmado o contrato entre o governo federal, o município e a CAF. A partir daí será possível encaminhar as licitações, que também demoram. A expectativa do secretário é abrir os certames ainda neste ano, para que em 2017 máquinas possam ser vistas trabalhando pelos distritos e outras localidades.
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O secretário destaca que as exigências têm sido maiores em relação à captação de recursos para o PAI 1 e o PAI 2, que também envolveram a CAF. O motivo é a dificuldade financeira enfrentada pelo país.
– Nossa capacidade está restrita para novos endividamentos em função da receita baixando e despesa crescendo – pontua.
De acordo com Santa Catharina, existe a possibilidade de mais trechos serem contemplados ao final do PAI 3, se houver sobra de recursos. Se existir essa margem, a prefeitura decidirá quais são os pontos prioritários.
Cerro da Glória pede atenção
No Cerro da Glória, na 2ª Légua, perto de Vila Cristina, os prejuízos se acumulam por conta da estrada de chão batido. A localidade não será atendida no PAI 3, a exemplo de outras comunidades. Como o lugar é alto, é comum caminhões não conseguirem vencer a subida. A solução é transportar a produção em cargas menores em pequenos caminhões ou tratores. A 2ª légua é uma das principais produtoras de uva da cidade e a estimativa é de que cerca de 80 famílias dependam da estrada.
– A única coisa que pedimos é o asfalto – resigna-se Daniel Antônio Guerra, 24 anos.O pedido é antigo: o vizinho Jair Antonio Massuchini, 45, estima que a obra é requisitada há 30 anos.
Parte da uva da propriedade de Massuchini viaja de carreta até o Paraná, mas a carga precisa sair da comunidade fracionada em pequenos caminhões. Ele também acredita que a passagem do ônibus interdistrital, que custa cerca de R$ 9, poderia ser mais barata se a estrada fosse boa.
– Nosso prejuízo é incalculável. Perdemos clientes que não conseguem subir aquele morro – reclama.
Moradores alegam que a via chega a ficar até oito meses sem ser patrolada. O subprefeito de Forqueta, Gil Marcel Rodrigues, rebate afirmação e garante que o trabalho é feito periodicamente e reforçado em épocas de chuva. Ele assume, no entanto, que a roçada tem demorado porque todo o interior de Caxias tem apenas duas roçadeiras com trator – uma terceira é mais antiga e utilizada em poucos casos.
– O Cerro da Glória tem um morro bem forte, bem íngreme. Às vezes, nós descemos com a patrola lá apenas para fazer aquele morro – afirma Rodrigues.
Comunidade São Paulo Comemora
Se a sensação é de abandono no Cerro da Glória, uma comunidade distante cerca de 10 minutos está de sorriso largo: a estrada que passa pela Comunidade de São Paulo, na 3ª Légua, será pavimentada dentro do PAI 3. Moradores perdem a conta ao citar as vantagens que o asfalto vai trazer.
Para o motorista Gilberto Pereira Ramos, 39, todo o trajeto de casa até o trabalho será feito sem enfrentar pó. Ele mora na Rua Pedro Fim, que será pavimentada, e trabalha em uma vinícola na Estrada do Vinho, asfaltada em outra fase do PAI.
–Um dia tive que manobrar o caminhão e voltar, porque choveu muito e não dava para passar. Vai ficar mais seguro para a gente andar –projeta.
Cerca de 50 produtores de uva utilizam a via, muitos deles em direção às oito vinícolas da Estrada do Vinho. Além disso, há expectativa de avanços para o turismo, já que o asfalto vai ligar Estrada do Imigrante e Estrada do Vinho, ambas pavimentadas.
– Vai ser um ponto muito forte para o turismo e também vai melhorar para o transporte escolar, vai escoar melhor a produção – comemora Marilise Faoro, 44, que representa a Estrada do Vinho.