Os produtos de pele têm se tornado uma opção de presente para o Dia das Crianças, comemorado no próximo sábado (12). Essa é uma tendência justamente porque as crianças tendem a seguir o exemplo dos adultos. O comportamento pode estar associado desde o uso de roupas e calçados dos pais, brincando de profissões que a gurizada se identifica, ou ainda usando maquiagens.
Contudo, especialistas médicos e de estética alertam para os cuidados que os adultos precisam observar na hora da compra e uso de produtos de pele pelo público infantil.
A dermatologista de Caxias do Sul, Patrícia Borchardt Bolson, relata que este tema é complexo e não há uma idade definida para a criança começar a usar maquiagem. Porém, os profissionais da área orientam que não deve ser usado antes dos seis anos, e até os 12 anos é preciso escolher produtos específico para a idade.
— A criança tem a pele em formação, é sensível. Por isso, está predisposta à alergia e à rápida absorção dos produtos. Então, tem que se ter muito cuidado com tudo que se coloca na pele da criança. Os pais têm que ser firmes nisso e definir, por exemplo, um dia da semana para ser o dia da maquiagem e por pouco tempo de uso — orienta Patrícia.
A profissional destaca ainda que o uso frequente e incorreto dos produtos gera irritação, ressecamento, coceira, alergia e outros tipos de dermatites, além de acnes precoces. Portanto, ao adquirir a maquiagem o adulto deve analisar a composição, evitando aqueles que contém conservantes, corantes, perfumes e ácidos em sua fórmula.
Patrícia atenta também ao uso de bases, corretivos, pó compacto e outros produtos que são indicados para a cobertura da pele. Assim, não há necessidade ou recomendação do uso por menores de 12 anos. A atenção, nesse caso, se refere a produtos de limpeza de pele.
— O que temos de ensinar para as crianças é a noção do autocuidado, isso é muito positivo. A higienização do rosto com sabonete adequado para a pele dela, uso de filtro solar, essas coisas — afirma a dermatologista, complementando que cremes pesados podem entupir os poros da pele.
Patrícia sugere aos pais que levem as crianças para consultas frequentes com dermatologistas. Os profissionais podem ajudar a avaliar o tipo de pele, recomendando os produtos adequados.
Dicas para a hora da compra
Brenda Rolt, especialista em química da maquiagem, explica que é possível presentar as crianças com produtos cosméticos, mas há ressalvas. Confira as orientações dela:
- "A primeira coisa que eu chamaria atenção é procurar a informação do pH do produto no rótulo. Cosméticos infantis devem ter um pH neutro ou próximo do pH natural da pele das crianças, que é cerca de 5,5. A pele adulta é levemente mais ácida, com pH em torno de 4,5, existindo cosméticos adequados para crianças e para adultos, pois para a pele absorver a composição do produto ele deve estar na mesma faixa de pH daquela região".
- "Prefira produtos à base de água, com muitas moléculas hidratantes, fáceis de remover, sem tanta fragrância, corantes, que contenham ingredientes de origem natural, ou extratos glicólicos naturais (extrato de aloe vera, extrato de camomila)".
- "Evite moléculas sintéticas em alta concentração, como parabenos, petrolatos e parafinas, derivados do refino do petróleo, e também produtos com muitos silicones, resinas e formadores de filme na pele".
- Se for presentear a criança com algum produto que tenha proteção solar, prefira protetores físicos do que químicos. Os protetores físicos agem por reflexão dos raios UV e não são absorvidos pela pele: o efeito de proteção solar é instantâneo. Já os protetores químicos contêm moléculas que absorvem a radiação e transformam-na em calor antes mesmo dela entrar em contato com a pele. A diferença você pode facilmente identificar na tabela de ingredientes".
- "Sempre fique atento à presença de registro Anvisa nos produtos. Eu acrescento aqui uma atenção especial aos conjuntos de maquiagem infantil que contém paletas de sombra: esses são os produtos que você mais deve ter rigor e procurar pela liberação da Anvisa, porque já foi identificado produtos sem liberação ou até mesmo falsificados com alta concentração de metais pesados, como o chumbo, proibido pela Anvisa em cosméticos (principalmente em contato com os olhos). O chumbo é altamente cancerígeno e não é permitido nos produtos pela legislação brasileira vigente".
- "Também se atente ao material usado. Como geralmente umedecemos as esponjas de maquiagem e elas são reutilizadas muitas vezes, confira se existem pontos pretos na superfície ou até mesmo no interior da esponja. Se sim, é um sinal de que o produto mofou e essa contaminação microbiológica pode se espalhar pelo rosto, então descarte imediatamente a esponja".
- "Para desinfetar os pincéis corretamente, recomendo o uso de sabonete enzimático porque contém enzimas que quebram proteínas, gorduras e resíduos orgânicos presentes nos produtos de maquiagem".
Maquiagem para eventos
Há cinco anos, a maquiadora Bruna Salvati atende clientes para eventos como casamentos, formaturas e outras festividades, incluindo as crianças. É comum a circulação da gurizada pelo espaço dela, na busca de maquiagem para elevar a autoestima.
— Normalmente elas também não conseguem dormir direito quando têm evento e ficam com uma olheira leve, então uso blush, iluminador, rímel e arrumo a sobrancelha. Mas, tudo extremamente sutil. Algumas pedem uma sombra e com autorização dos pais eu uso. Quando trabalhamos como maquiador, temos muita preocupação em usar produtos de qualidade, que sejam hipoalérgicos e testados de todas as formas.
A principal orientação repassada por ela para as clientes é a remoção dessa maquiagem o quanto antes. O uso deve ser pontual e a remoção deve ser total após o uso. A maquiadora também evita utilizar, em crianças, referências trazidas por meio da internet, como, por exemplo, de influenciadoras nas redes sociais. Ela alerta para o uso de produtos que são divulgados e "testados" em frente às câmeras.
— Às vezes eles usam tantas coisas que não são adequadas para pele porque vem no tiktok ou coisa assim. Mas, na verdade não é receita de bolo, o que pode para um não pode para outro — ressalta ela.