Desde quando se converteu ao judaísmo e decidiu viver em Israel, em 2020, a caxiense Ainara Cardoso, 35 anos, não imaginou que conviveria no seu dia a dia com barulhos de sirenes e bombardeios. Mas, desde outubro de 2023, quando teve início o conflito armado entre Israel e Hamas, essa é a realidade na qual presencia.
Ainara vive na cidade costeira de Nahariya, com cerca de 60 mil habitantes e a alguns quilômetros da fronteira com o Líbano. Nesta semana, o aumento dos ataques entre Israel e o grupo extremista libanês Hezbollah tem causado medo e apreensão nos moradores de cidades do norte israelense.
Da janela da sua casa, no bairro de Amidar, Ainara conseguiu gravar os interceptadores do Domo de Ferro (sistema de defesa israelense) explodindo os mísseis vindos do Líbano no ar, antes que eles atingissem alvos em solo. Nas imagens, é possível ver os pontos de fogo e ouvir as explosões. A colega de trabalho israelense, Redva Meir também flagrou algumas intercepções.
— A gente escuta direto os bombardeios. Naquele dia que eu fiz o vídeo, não tocou a sirene na minha cidade, porque eles têm esse sistema de defesa (o Domo de Ferro), que só alertam a sirene quando é dentro dos limites da cidade. Possivelmente, o alvo seria o mar, e como moro ao lado da praia, deu para ver as interceptações — descreve Ainara.
A cidade de Nahariya não é rota de alvo do Hezbollah. Porém, no início de agosto, vários civis ficaram feridos ao sul da cidade, após Israel ter interceptado um drone lançado pelo grupo armado. Ainara, que trabalha como assistente de turma numa classe de alunos especiais em uma escola, relata que sente medo ao sair de casa.
— Com o tempo, infelizmente, a gente vai se acostumando a ouvir sirene, a ouvir estouros, a ouvir bombardeios. Agora que se intensificou, o medo aumentou um pouco mais, ainda mais quando escutamos as sirenes. A gente fica na tensão de imaginar que um dia pode acontecer na nossa casa. O medo maior meu é quando estou na rua ou quando estou no trabalho, porque como eu trabalho com crianças, é uma responsabilidade muito grande — relata.
A primeira vez que Ainara esteve em Israel foi em 2012, quando trabalhou como voluntária. Se apaixonou pelo país e pela cultura. Oito anos depois, realizou o sonho de morar no país. A família, em Caxias do Sul, também convive com as preocupações diante dos conflitos.
— Todo mundo fica preocupado, mas eu sempre tento acalmar bastante, sempre tento esclarecer bem como é que está a situação, para que fiquem o mais tranquilo possível. Existem três bunkers que, se acontecer alguma coisa, eu posso entrar, e sei que eu vou estar segura. Por enquanto, não tenho vontade de sair daqui, talvez, o máximo que eu penso é, se as coisas ficarem muito complicadas mesmo, talvez mudar de cidade, mas voltar para o Brasil, por enquanto, não é uma opção — finaliza Ainara.