Propriedades de até 48 hectares e com faturamento inferior a R$ 500 mil por ano configuram, em Antônio Prado, a agricultura familiar. O modelo de negócio tocado por pais e filhos se fortalece a cada ano no município por conta da diversificação das áreas de cultivo, permanência do jovem no campo, sucessão familiar e adesão à tecnologia.
Atualmente 1,1 mil propriedades estão incluídas neste modelo, e produzem uma grande diversidade de frutas, que têm como destaque a maçã. Segundo o IBGE, são 50 famílias, o que torna Antônio Prado o maior produtor desta modalidade no Estado dentro da agricultura familiar.
Assim como Bento Gonçalves e Flores da Cunha, a uva ainda é a fruta mais cultivada também por lá, com 1,7 mil hectares plantados.
No entanto, outras culturas começam a ganhar fatias no mercado. De acordo com a Emater, cítricos, como bergamotas e laranjas, já contabilizam 700 hectares de área plantada. Ao todo, são 6,2 mil hectares de diferentes frutas produzidas no município. Entre elas aparecem também pêssego, ameixa e morango. Esse último com 76 propriedades especializadas no cultivo.
— Antônio Prado só não produz jaca, o que tu imaginar se produz aqui — brinca o chefe do escritório da Emater/Ascar de Antônio Prado, Neudi Balancelli.
De acordo com ele, há ainda no interior plantações de banana e espécies exóticas, como a pitaya, que ocupa área de cinco hectares, e framboesa, que produziu na última safra 400 toneladas.
Em 2022, segundo dados da Emater, foram faturados R$ 250 milhões, que contribuíram para que a agricultura represente hoje 30% do Produto Interno Bruto (PIB) do município. Neste final de semana, uma feira inédita no município apresentará 70 expositores com soluções de manejo e tecnologia. A ExpoAgro ocorre desde sexta-feira (13) e tem entrada e estacionamento gratuitos, no Centro de Eventos de Antônio Prado. O evento segue até domingo (15).
Entre as novidades apresentadas estão as soluções dadas por estações de meteorologia e dados climáticos. Ainda neste mês, duas máquinas de controle de granizo serão instaladas no interior e cobrirão uma área de 160 hectares.
— É um investimento de R$ 800 mil, incentivado pela Emater e financiado por 13 famílias, que terão os respectivos cultivos protegidos. A tecnologia é controlada por satélite, emite ondas supersônicas que pulverizam o granizo e o transforam em chuva antes que atinja as produções — explica Balancelli.
Produção diversificada e tecnologia para driblar intempéries
Na propriedade de Sidnei Augustini, 33 anos, na Linha Gomercindo, o plantio das frutas com caroço mudou a dinâmica da produção familiar há cerca de 10 anos. Ameixas e pêssegos, aliás, somam juntas uma fatia de aproximadamente 1,1 mil hectares em todo o município.
— Antes, quando a gente plantava alho e cebola, era preciso mexer na terra todos os anos. Na fruticultura, pelo contrário, se planta apenas uma vez. E no ano passado as (frutas) de caroço tiveram o melhor preço entre as culturas que produzimos, quando pagavam até R$ 6 o quilo. Mas não ficamos reféns de uma cultura apenas, caso dê geada ou por algum outro motivo, até em questão de valores de mercado, conseguimos variar — diz Agustini.
A diversificação citada pelo agricultor também compreende, na propriedade de 34 hectares, o cultivo de bergamota e laranja, que têm manejo ainda mais simples, sem a necessidade de podas ou raleios, prática que retira frutos recém brotados para dar espaçamento e aumentar a produtividade.
Para armazenar a produção dos citrus, colhidos em agosto, e das frutas de caroço, colhidas entre novembro e janeiro, Agustini conta com a câmara fria, movida por energia solar e que também tem o funcionamento garantido, em caso de necessidade, por um gerador. No pessegueiro mais jovem, um método antigeada foi instalado:
— É um sistema de aspersão que molha a planta e a mantém em 0ºC, que não queima o fruto quando a geada se forma.
Tecnologias como as utilizadas por Agustini, de controle climática, geração de energia e até a esteira que utiliza para classificar as frutas, produzida em Antônio Prado, estão sendo apresentadas desde sexta-feira (13) na ExpoAgro.
Muitas delas utilizadas também pelo presidente do evento, o engenheiro agrônomo Felipe Tessaro, 36, na sua propriedade, na Capela Santo Antônio:
— Estamos assegurando nossa produção com irrigação, telas antigranizo e tecnologias que assegurem o máximo a produção. O agricultor quer produzir, não quer perder e se frustrar, trabalhar um ano inteiro para perder a renda.
Por isso, de acordo com Tessaro, o evento é uma forma de valorizar o agricultor do município, que tem sofrido com as mudanças climáticas, mas que está cada vez mais aberto a inovar:
— Se voltarmos 30 anos, nossos pais passaram por duas etapas, a braçal e a inserção do maquinário na propriedade. Hoje já falamos sobre drones e até robôs para colheita num futuro de até cinco anos. É um ramo sofrido, mas estamos tendo retorno, e a tendência é aumentar. O clima não tem permitido mais supersafras e isso dá valor de mercado para quem consegue produzir.
As vantagens do morango
De grande capacidade produtiva e colheita que se estende por praticamente todo o ano, o morango tem sido a escolha de muitos agricultores de Antônio Prado. De acordo com a Emater, são atualmente 76 propriedades, como a da família Tolardo.
Às margens da RS-122, José Tolardo, 57, e os dois filhos ocupam toda a extensão do 0,9 hectare do cultivo que se iniciou há uma década com investimento aproximado de R$ 100 mil em 17 mil mudas.
— Exige mão de obra e empenho, mas dá em troca. O ideal é que cada planta produza um quilo, que é vendido por até R$ 10, então o retorno é rápido, porque a primeira colheita é feita em até 80 dias — explica.
Mas os custos aumentaram aos longo do anos, com relação a quando os irmãos Lucas, 30, e Maicon, 34, deixaram os respectivos empregos para trabalhar com a agricultura. A Emater calcula que hoje sejam necessários cerca de R$ 170 mil para a instalação de 10 mil mudas.