
A reconstrução das estradas na Serra continua. A liberação de vias, com exceção daquelas que foram completamente destruídas, foi apenas o primeiro passo de ações que buscam a retomada da normalidade no Estado após as enchentes de maio. Na região, pelo menos 19 trechos de nove estradas ainda seguem com interdições totais ou parciais (confira no fim desta reportagem). Os casos emergenciais ainda se concentram na BR-116, na ponte que liga Caxias do Sul e Nova Petrópolis, e na BR-470, entre Bento Gonçalves e Veranópolis. Os dois pontos seguem completamente bloqueados.
As projeções mais otimistas são de soluções provisórias para restabelecer as conexões. Tanto o trecho na BR-116, quanto o da BR-470, devem ter liberações parciais até o final de junho, conforme estimativa do próprio governo federal. No caso da ponte sobre o Rio Caí, entre Caxias e Nova Petrópolis, uma ponte provisória está sendo montada em uma estrada secundária, paralela à principal. A estrutura ficará em um desvio de cerca de dois quilômetros, com entrada e saída na BR-116. Em visita à Serra no último dia 4, o ministro dos Transportes, Renan Filho, afirmou que o Exército tinha até 15 dias para montá-la, mas que a entrega poderia ocorrer antes.
Enquanto isso, os trechos entre os kms 178 e 201 na BR-470 devem ser liberados até o fim deste mês, de acordo com projeção do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). Assim como ocorre na BR-116, entre Campestre da Serra e São Marcos, o caminho entre Bento Gonçalves e Veranópolis deve ser parcialmente liberado, com controle de horários para a passagem de veículos.
— Estamos trabalhando para dentro do mês de junho ter uma liberação parcial, com horário e controle de tráfego para poder voltar a ter uma ligação mínima entre Bento e Veranópolis — explica o superintendente do Dnit no RS, Hiratan Pinheiro.
Ainda segundo a assessoria do Ministério de Transportes, os trabalhos nos trechos entre Bento e Veranópolis estão voltados para a limpeza de barreiras e dispositivos de drenagem, reconstrução de partes da rodovia que foram destruídas pelos deslizamentos, reconstrução de berços e galerias, e implantação de caminhos de serviços para obras maiores, como as contenções, por exemplo.
Contratação dos trabalhos de contenção
Com exceção da ponte sobre o Rio Caí — que já está com a ordem de serviço autorizada —, os trechos da BR-470 e da BR-116 também passam por topografia e estudos geotécnicos. A expectativa do Dnit é ter este levantamento concluído ainda este mês. Com os dados, Pinheiro explica que o próximo passo é a contratação dos trabalhos de contenção para os pontos.

— De Campestre da Serra até Vila Cristina e Nova Petrópolis, vamos precisar de trabalhos de contenção. As obras desse evento de maio ainda não começaram, nem contratamos ainda. A equipe está em campo levantando tudo desde os primeiros momentos. Assim, vão ter muitas obras a serem feitas ainda para a rodovia poder voltar ao que era antes — destaca Pinheiro, sobre a 116.
Os trabalhos na 116 estão no km 108, entre Campestre da Serra e São Marcos, além dos kms 161,162 e 170, em Caxias do Sul. Nos trechos entre Campestre da Serra e São Marcos e nos kms 160 e 170 existe o controle de tráfego com horário, atualmente entre 6h e 18h. Como os trabalhos de desobstrução seguem no ponto e há previsão da melhorias de sinalização, o horário também pode ser estendido em breve.
Como explica o superintendente do Dnit, os prazos para as obras de contenção só serão definidos depois que os contratos forem firmados.

Ponte em até oito meses
A ponte sobre o Rio Caí deve ser concluída em até oito meses, conforme o Ministério dos Transportes. Na última sexta-feira (7), equipes iniciavam o trabalho de demolição da estrutura antiga. Ela será completamente substituída. A travessia não será a única reconstruída na região com verba federal.
Entre Bento Gonçalves e Cotiporã, uma nova ponte será colocada de forma emergencial. A antiga travessia, com acesso pela RS-431, foi destruída durante a cheia de maio. Conforme a prefeitura de Cotiporã, o governo federal disponibilizou R$ 4,5 milhões para a nova construção.
Os recursos devem ser depositados nesta semana, com a obra iniciando logo após o recebimento da verba. Não existe ainda um prazo para a conclusão. Por mais que seja um trecho estadual, os recursos foram solicitados a partir de um programa do governo para a recuperação do Rio Grande do Sul por conta da chuva.
1,2 mil servidores nas rodovias gaúchas
Em contato com a reportagem, a assessoria do Ministério dos Transportes afirmou que cerca de 1,2 mil servidores do Dnit atuam nas rodovias gaúchas neste momento, incluindo a BR-116 e a BR-470. A pasta esclarece que ainda não há como contabilizar o recurso investido nas rodovias federais da Serra. Mas, para todos os trechos do Estado, foram disponibilizados R$ 1,2 bilhão de forma emergencial, além de R$ 1,7 bilhão já previsto do orçamento anual.
Ainda de acordo com a pasta, a avaliação é de que os trechos mais afetados da 116 são na Serra e na Região Metropolitana de Porto Alegre. Como explicado pela assessoria, o primeiro movimento foi o de restabelecer a conexão entre o Estado e o restante do país.
Rodovias estaduais
No início de junho, o governo do Estado anunciou rodovias que são consideradas prioritárias para a reconstrução. As obras fazem parte do Plano Rio Grande. Neste momento, 30 trechos de todo o RS foram listados. A estimativa é de um investimento de R$ 9,9 bilhões para 8,4 mil quilômetros de estradas estaduais.

Na Serra, sete pontos são destacados: seis estradas e a ponte da RS-441, entre Vista Alegre do Prata e Nova Prata. Algumas das rodovias são a RS-448, entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, a RS-453 (Rota do Sol), no trecho em Vila Seca, em Caxias, e a RS-444, entre Monte Belo do Sul e Santa Tereza, que será totalmente recuperada.
De acordo com o Estado, as principais obras estão em fase de contratação. Elas devem ser feitas em dispensa de licitação, o que agiliza o andamento do processo. A partir dos contratos é que um prazo deve ser divulgado. No caso da ponte entre Vista Alegre do Prata e Nova Prata, por exemplo, a empresa responsável pela reconstrução deve ser conhecida. Ao mesmo tempo, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) atua em melhorias nos pontos. São trabalhos de limpeza, desobstrução e manutenção do asfalto.
Há ainda trabalhos em andamento pelos impactos do ano passado, como na ponte de Santa Bárbara, entre São Valentim do Sul e Santa Tereza, na RS-431. Conforme a assessoria do Estado, o edital para a licitação por pregão eletrônico foi publicado no início de maio. A abertura de propostas das empresas deve ocorrer no fim de julho, a partir de determinação da Lei de Licitações. Se não houver impedimentos, em julho é expedida a ordem de serviço, que inclui o projeto básico, o projeto executivo e a execução da obra.

Outra atualização é sobre a empresa responsável pela balsa que opera no local. Ela também sofreu as consequências das enchentes. A expectativa é de que até o final de junho a empresa retome as operações de transporte entre São Valentim do Sul e Santa Tereza.
As obras na Serra
Confira abaixo os trabalhos em andamento nos trechos da região das rodovias estaduais e federais:
- RS-448: o Daer está realizando consertos emergenciais no pavimento.
- RSC-453: no ponto em que ocorreu rompimentos de adutoras, em maio, no km 157, o Samae realiza o deslocamento da estrutura para o outro lado da via. No trecho, cerca de 170 metros acima da adutora, rachaduras também atingiram a base de uma torre da linha de alta tensão, no sentido Litoral-Caxias do Sul. O trajeto segue em monitoramento. Uma equipe do apoio técnico do Daer realiza levantamentos e monitoramento constante dos pontos críticos e do deslocamento da encosta. Além disso, as equipes do Daer seguem fazendo serviço de tapa-buraco no segmento, entre os kms 147 e 200.
- RS-444: a prefeitura de Santa Tereza auxiliou na desobstrução da rodovia, na Estrada do Vinho, em parceria com o Daer. Será realizada uma contratação integrada emergencial para recuperar totalmente a rodovia.
- RS-431: do km 22,8 até São Valentim do Sul, há diversos pontos com bloqueios totais e parciais. As equipes estão tentando mobilizar recursos para iniciar os serviços de limpeza, mas a falta de acessos à região dificulta o progresso dos trabalhos. As equipes técnicas seguem fazendo levantamentos dos pontos críticos para posterior apresentação de propostas de contenções.
- RS-437: equipes do Daer executam a manutenção do trecho para garantir o tráfego, com serviços de revestimento primário e laminagem.
- RS-441: em Vista Alegre do Prata, no km 22, a ponte desabou. Está em fase de contratação integrada emergencial a nova ponte. Na próxima semana deve ser conhecida a empresa vencedora.
- RS-484: o Daer está fazendo a manutenção da rodovia por meio do contrato de conserva da malha não pavimentada.
- BR-116: no geral, os trechos da Serra passam por limpeza, manutenção da pista, melhorias de sinalização, além de topografia e estudos geotécnicos.
- BR-470: os trechos entre Bento Gonçalves e Veranópolis recebem limpeza de barreira e dispositivos de drenagem, reconstrução de partes da rodovia que foram destruídas por deslizamentos, reconstrução de berços e galerias e implantação de caminhos de serviços para obras maiores.