Com previsão de 61 milímetros de chuva para Caxias do Sul, este domingo, segundo do mês de maio e que celebra o Dia das Mães será diferente para milhares de famílias gaúchas. As estradas bloqueadas impedirão que muitas se reúnam para celebrar a data. Em abrigos, voluntários distraem crianças que criam cartões e presentes para suas mães. E há ainda quem, por força do trabalho, precise se distanciar dos filhos às vésperas da data.
No meio da catástrofe climática que assola o Estado, o privilégio de ter o filho por perto será ainda maior. Quando salvos de áreas de risco, como o que ocorreu com a família Brum na última sexta-feira(3), o abraço será de alívio.
Moradores da comunidade São Pedro, no distrito caxiense de Vila Cristina, pai, mãe e duas crianças deixaram a casa onde moram às margens do Arroio Pinhal pelo meio do mato. Com os poucos pertences que conseguiu carregar às pressas, Franciele Nunes, 32 anos, tentava explicar para os filhos Luiz Eduardo, 10, e Ana Carolina, 7, o que também não entendia.
— Se o arroio subisse a ponto de inundar nossa casa, deixaria a vila inteira embaixo d’água. Mas a Defesa Civil se preocupou com os deslizamentos. Então, saímos durante a tarde. Mas a casa está lá, inteira à nossa espera — diz
Na evacuação, o esposo de Franciele, Edemar Brum,43, teve um corte profundo em um dos dedos. A família está abrigada no Ginásio do Sesi, onde as crianças brincam com outras, também moradoras de áreas de risco e que foram removidas pela prefeitura e Defesa Civil.
— É bom estar em segurança e perto deles. Sempre quis ser mãe, somos muito próximos, eles são carinhosos e grudados em mim. Não sabemos quando vamos voltar, isso cria uma ansiedade de querer estar em casa enquanto estamos em um ginásio, compartilhando uma estrutura improvisada com outras pessoas — conta Franciele.
Na equipe que auxiliou a família a avançar pelo mato até a sede do distrito, estava outra mãe, a soldado Bruna Zacarias Saruba, 36 anos, que trabalhava agradecendo pela segurança do filho. Ele estava na casa de um colega, enquanto Bruna e o esposo, também bombeiro, trabalhavam na linha de frente dos resgates. Nesta semana, foram três dias longe de Pedro Saruba, nove.
— A gente fica com dois corações, apertado por ter que deixar ele na casa dos outros e ao mesmo tempo gratos por ajudar quem precisa. Retiramos bebês e crianças das comunidades de São Pedro e Vila Maria. Sempre com o coração apertado por deixar nosso filho e não saber o quanto ele está entendendo de tudo isso. Não temos família aqui, então precisamos de ajuda das famílias dos colegas de escola dele — diz
Naturais de Quaraí na fronteira com o Uruguai, a família Saruba está há 12 anos em Caxias e a mais de 700 quilômetros distante dos parentes. Franciele, resgatada pela soldado Bruna é de Liberato Salzano, no norte do Estado. Os parentes, de Canoas, viriam para o almoço de Dia das Mães, não fosse o bloqueio das estradas, e a cheia do Guaíba:
— Tinha encomendado um bolo, imaginava que meus primos viriam, mas aconteceu tudo isso, e eles também estão fora de casa. Lá a água subiu até o telhado, mas nos falamos todos os dias e sabemos que eles estão seguros — diz Franciele.
Cada uma a seu modo, as famílias celebrarão este Dia das Mães da forma como a realidade lhes é apresentada. Bruna, de plantão no quartel do Corpo de Bombeiros, à espera do momento preparado pela escola e remarcado para a próxima sexta-feira (17) em função da chuva. E Franciele, no abrigo, no Ginásio do Sesi, mas não sem ganhar um presente, já adiantado pelo filho Luís à reportagem, mas que é guardado em segredo.