Celulares, computadores e meios digitais são, hoje, protagonistas na vida das pessoas. Seja no âmbito pessoal ou de trabalho, os dispositivos digitais carregam dados financeiros, documentos e informações preciosas. No entanto, é preciso estar atento aos riscos da falta de segurança na internet.
Senhas iguais em todas as redes sociais, acessos pessoais e profissionais misturados ou não ler os termos dos sites são posições de vulnerabilidade em que o usuário pode estar. De acordo com o ex-chefe de Polícia Civil do Rio Grande do Sul e ex-presidente do Conselho Nacional de Chefes de Polícia, delegado Emerson Wendt, que palestrou nesta segunda-feira (22), na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), a lógica dos criminosos digitais é de atacar possíveis vítimas por meio de gatilhos online, como promoções ou sorteios.
— Não existe sistema online que seja 100% seguro — alerta Wendt.
Conforme explica o delegado, o método utilizado pelos fraudadores é chamado de Engenharia Social, que explora falhas na comunicação e no relacionamento interpessoal, utilizando persuasão, excesso de confiança ou ingenuidade e, na maioria das vezes, falta de processos e mecanismos de defesa. A ideia é que a pessoa forneça alguma informação ou faça alguma atividade que possa causar dano. Um exemplo são as mensagens falsas recebidas em nome de bancos, confirmando transações de valores altos. A vítima se assusta com a mensagem e retorna a ligação para o número informado. Nesse momento, os criminosos conseguem convencer a pessoa a fornecer dados para, supostamente, cancelar a transação.
As vítimas não possuem um perfil específico, segundo Wendt, porque as vulnerabilidades atingidas em cada pessoa são diferentes. Além das pessoas físicas, o setor público e empresas privadas também são vítimas.
— 90% dos ataques cibernéticos são por falha humana, ou seja, quando a pessoa clica em um link ou site fraudulento. Os nossos dados são o petróleo do criminoso digital — revela.
Quem cuida desse tipo de ocorrência em âmbito estadual é a Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos e Defraudações do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Já em Caxias do Sul, as investigações são feitas pela 1ª, 2ª e 3ª Delegacias de Polícia, dependendo de onde a pessoa estava quando ocorreu o crime.
Em Caxias do Sul, de acordo com o delegado João Vitor Herédia, da Deic, o estelionato teve uma queda de 10% nos registros. No ano passado, até março, foram 4,6 mil ocorrências. Em 2024, foram registradas apenas 1,3 mil. No entanto, o sistema utilizado pela Polícia Civil não diferencia os crimes que ocorreram de forma online ou pessoalmente.
— O estelionato é um crime que vem crescendo, porque os criminosos migraram muito dos crimes violentos, que são crimes em que eles se expõem mais, as penas são maiores e o retorno financeiro é menor. Eles passaram a migrar para os estelionatos, em que não se expõem, usam dados falsos, as penas são menores e o retorno financeiro é maior — contextualiza Herédia.
No Rio Grande do Sul, os números são mais expressivos. A queda foi de 30% nos registros de estelionatos em março, comparando com o mesmo mês no ano passado. No trimestre, a queda é de 15%.
Tipos de golpes mais frequentes
- Golpe do Emprego: explora a ingenuidade, confiança e necessidade da vítima. Nesse caso, a pessoa passa documentos e dados bancários aos criminosos para conseguir um suposto emprego.
- Golpe do Pix: nesse caso, a vítima faz um depósito bancário com a promessa de receber, imediatamente, o triplo do valor de volta.
- Central telefônica do criminoso: esse golpe consiste em uma mensagem, supostamente enviada por um banco, informando que há uma transação de alto valor pendente. Para confirmar ou cancelar, a pessoa precisa ligar para uma central telefônica falsa. O criminoso solicita dados pessoais e financeiros, que depois são usados para criar contas falsas ou solicitar empréstimos.
- Romance Scamm: explora confiança, amor e relações sexuais da vítima. Algumas das variações são o golpe do falso militar, golpe da novinha, golpe dos nudes e golpe das russas. Em sua maioria, consistem no golpista procurando um suposto marido ou esposa. O objetivo é a extorsão.
- Golpe da mão fantasma: esse golpe consiste em enganar a pessoa informando, via ligação, que vai instalar um dispositivo de segurança no celular. No entanto, os criminosos instalam um aplicativo de controle remoto, pelo qual conseguem acessar redes sociais e contas bancárias.
Legislação já existe, mas pode avançar
De acordo com o delegado Wendt, a legislação para os crimes virtuais já existe e ajuda a Polícia Civil a tratar de forma mais correta esse tipo de ocorrência digital. Por enquanto, são três tipos: furto mediante fraude, estelionato virtual e cripto estelionato. Para essas ocorrências, as penas são de quatro a oito anos de reclusão.
No entanto, para crimes de ciberbullying, ataques com pedidos de resgate (sem violência ou ameaça grave), subtração de dados informáticos (com intenção e dolo específico) e comercialização de dados sem autorização ainda não existe uma legislação específica.
— Jamais sugiro que se negocie com os criminosos. Mas sim, entrar em contato com a Polícia e registrar boletim de ocorrência — explica.
Ele destaca que é importante, quando for vítima de um crime virtual, a pessoa tratar a situação com seriedade, imaginando uma cena de crime. Para esse tipo de ocorrência, segundo Wendt, são bilhões de possibilidades para investigações. Por isso, fotos, telefones e prints de tela são dados preciosos que podem auxiliar a polícia a buscar os criminosos.
Nos casos dessas ocorrências, a orientação é registrar boletim junto à Polícia Civil ou pela Delegacia de Polícia Online.
Como se proteger de crimes virtuais?
O delegado de polícia explica que, na internet, não existe nenhum sistema que seja 100% seguro. No entanto, existem meios de se proteger e tentar evitar ser uma vítima desses golpes. Algumas orientações do delegado são:
- Utilizar um gerenciador de senhas.
- Não usar e-mail pessoal e profissional no mesmo navegador.
- Restringir a privacidade no WhatsApp.
- Utilizar um celular reserva para grandes transações bancárias.
O delegado João Vitor Herédia amplia as orientações, já que, segundo ele, é melhor pecar pelo excesso de cuidado e conscientização:
— Se estiver recebendo qualquer tipo de contato via telefone, via mensagem, pedindo dinheiro, para entrarem em links, evitar. Mesmo que seja uma pessoa supostamente conhecida, porque eles se passam por uma pessoa conhecida justamente para tentar dar essa aparência de credibilidade. Tudo o que for pedido de dinheiro, pedido de pix, para entrar em link que a pessoa não conhece, baixar aplicativo que não conhece, sempre desconfiar — explica o delegado.
Segundo ele, a preocupação pode ajudar a evitar que a pessoa caia nesse tipo de golpe e perca dinheiro, porque, nesse tipo de caso, é muito difícil recuperar os valores:
— Depois que acontece, é muito difícil recuperar o dinheiro. Ele se dissemina em contas em todo o Brasil. Os golpes, em geral, são crimes que, em 99% das vezes, autor e vítima estão em cidades distintas. Temos investigações de vítimas do Rio Grande do Sul em que os autores estão em outros Estados: Ceará, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo... Isso é comum — destaca.