Um dos sobreviventes da tragédia que matou mãe e três filhas no dia 10 de março em Vacaria trouxe uma informação importante para a investigação do caso. Maique Santos da Silva, 31, disse à Polícia Civil que um gerador de energia elétrica permaneceu ligado na casa da família enquanto todos dormiam. Ele afirmou que havia o costume de ligar outras vezes o equipamento dentro de casa, mas que alguém sempre desligava após algum tempo de uso.
Esse equipamento é movido a gasolina e produz monóxido de carbono. A intoxicação com o gás expelido pela queima do combustível é a causa provável das mortes, conforme indicado na certidão de óbito encaminhada ao delegado Anderson Silveira de Lima, responsável pela condução do inquérito.
Maique, que recebeu alta hospitalar na segunda-feira (18), prestou depoimento na manhã desta quarta-feira (20). Segundo a Polícia Civil, o homem esteve na delegacia, por volta das 10h30min. Acompanhado por um advogado, ele conversou com o delegado por cerca de 20 minutos. O depoimento foi gravado em vídeo.
A família foi encontrada desacordada dentro da casa onde morava. A mãe das crianças e companheira de Maique, Cíntia de Moraes Costa, 36, já estava morta quando os socorristas chegaram no local. As irmãs Ana Júlia Costa da Silva, 15, Cintia Maria Costa da Silva, 11 e Samara Costa da Silva, três anos, morreram no hospital. Além de Maique, os irmãos Elias Costa da Silva, nove anos, e Vitória Costa da Silva, sete, também sobreviveram. Eles seguem internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Universitário de Santa Maria. As crianças têm o quadro de saúde estável, estão sem sedação e se alimentam bem.
O depoimento
De acordo com o delegado Anderson, Maique afirmou que a família tinha o costume de colocar o gerador dentro de casa. O equipamento era um improviso, pois não havia energia elétrica na casa.
Contudo, Anderson ficou surpreso ao saber que o gerador era ligado dentro da moradia. O delegado vai ouvir demais testemunhas para confirmar essa versão.
— Ele (Maique) disse que não sabe quem colocou o gerador para dentro porque costumava ficar quase sempre dentro da casa. No depoimento, ele falou também que, por várias vezes, o gerador tinha sido colocado para funcionar dentro de casa. Também afirmou que a família tinha esse costume de deixar ligado, o que me surpreendeu porque é uma nova versão.
O delegado solicitará informações à perícia para saber se é possível que tenham usado o gerador anteriormente sem que tenha acontecido uma intoxicação como a que acabou matando quatro pessoas.
— Eu acreditava que na primeira vez que eles usassem dentro de casa, aconteceria a tragédia que aconteceu — pondera Anderson.
Ainda conforme o policial, esse gerador ficava em uma peça nos fundos da casa. Ao ser questionado sobre os motivos para o aparelho estar dentro da moradia, Maique reafirmou que a família temia que fosse roubado — um outro gerador já teria sido levado por ladrões.
Maique também respondeu sobre a decisão de ligar o gerador dentro de casa:
— Questionei por que funcionar dentro de casa e ele respondeu: "porque a gente tinha medo que roubassem." Perguntei por que ficar funcionando quando todos estavam deitados e ele respondeu: "porque os celulares ficavam carregando" — detalha Anderson.
"O gerador ficou funcionando"
O delegado afirma ainda que Maique contou que o gerador era desligado depois de um tempo. Ele também disse que geralmente as janelas ficavam fechadas mesmo com o equipamento em funcionamento.
— Segundo ele, alguém sempre ia lá e desligava o gerador, mas ele afirmou que esse gerador funcionava um pouquinho dentro de casa até que alguém desligasse. Dessa vez, ele disse que: "todo mundo dormiu e ninguém desligou, então o gerador ficou funcionando." Talvez eles tenham desmaiado e não dormido. Vamos seguir investigando para verificar o que aconteceu realmente — esclarece o delegado.
As duas crianças só prestarão depoimento se for imprescindível a participação delas na investigação.
Causa da morte será confirmada com o laudo da perícia
O delegado ressalta ainda que a Polícia Civil recebeu a certidão de óbito das vítimas. No documento está escrito: "morte decorrente de asfixia por monóxido de carbono." Contudo, conforme Anderson, o documento oficial que comprova a causa da morte são os laudos do Instituto-Geral de Perícias (IGP). Entre esses documentos, estão os exames de necropsia das vítimas, o laudo do local de crime e o laudo sobre o funcionamento do gerador. Os laudos ainda não está concluídos.
— O documento criminal específico, válido de verdade, é o laudo de necropsia. Esse a gente não recebeu ainda. Todavia, tanto a certidão de óbito quanto o laudo de necropsia, eles são elaborados pelo mesmo perito médico. Ou seja, a certidão de óbito vem assinada pelo mesmo médico que vai assinar os laudos. Extraoficialmente, ele já disse, na certidão de óbito, que é asfixia por intoxicação por gás carbônico — explica o delegado.
Caso é investigado como homicídio culposo
O caso é investigado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.
— A versão dele que eles costumavam deixar o gerador ligado dentro de casa, já me parece falta de cuidado. Mesmo que não tenha sido ele que colocou o gerador dentro de casa ou esqueceu de desligar, ele era adulto e tinha a obrigação de saber que era perigoso. Se você é adulto e está em uma casa com crianças, a responsabilidade pelo cuidado com elas é tua também.
Relembre o caso
- Por volta das 8h30min de domingo, 10 de março,, Jonas Borges de Oliveira,32, chegou na casa da namorada, Ana Júlia Costa da Silva, na Rua Noel Rosa, no bairro Vitória, em Vacaria. A adolescente morava com a mãe, Cíntia de Moraes Costa, cinco irmãos e o padrasto, Maique Santos da Silva.
- Ele estranhou a demora da família para abrir a porta e conseguiu entrar na casa pela janela, quando encontrou todos desacordados. Jonas chamou os socorristas e a Brigada Militar (BM). Quando as equipes chegaram, Cíntia já estava morta.
- Os filhos e o companheiro dela foram encaminhados ao Hospital Nossa Senhora da Oliveira, em Vacaria.
- Samara Costa da Silva, Cintia Maria Costa da Silva e Ana Júlia Costa da Silva morreram domingo na instituição de saúde.
- Vitória Costa da Silva e Elias Costa Costa da Silva, além de Maique, foram hospitalizados. Vitória e Elias foram transferidos ainda no domingo para um hospital de Santa Maria. O padrasto continua internado em Vacaria.
- Na casa, a polícia encontrou um gerador de eletricidade movido a gasolina. Esse equipamento, segundo informações preliminares, ficava sempre no lado de fora. Por esse motivo, a investigação aponta para uma provável intoxicação por monóxido de carbono gerado pela queima da gasolina.