Era para ser uma noite de emoção e reencontro com sucessos que fizeram gerações cantarem juntas Brasil afora. Mas foi muito além disso. As 14 mil pessoas que lotaram a Arena de Eventos da Festa Nacional da Uva para o último sábado da 34ª edição foram brindadas com dois shows que valeram o ingresso. Raça Negra e Bruno & Marrone usaram e abusaram dos hits que marcaram suas carreiras e os consagraram como dois dos grandes nomes da nossa música, dando o toque final no circuito de shows nacionais do evento.
Em uma apresentação para fã nenhum colocar defeito, Bruno & Marrone interpretaram sucessos de praticamente todas as fases da longa carreira. Poucos minutos tinham passado da meia-noite quando a dupla subiu ao palco, e chegou mostrando o tom que manteriam. Inevitável, Te amar foi ilusão e Deixa foi o trio escolhido para abertura.
Com um Bruno e sua voz inconfundível emocionado com a plateia, e Marrone acompanhando no violão e em interações com os espectadores, a apresentação seguiu, relembrando momentos importantes da carreira dos sertanejos. Outro ponto alto ficou por conta de participações especiais com ajuda da tecnologia. Parceiros de gravações, como Jorge, da dupla Jorge & Mateus, e Marília Mendonça, foram projetados nos telões e tiveram suas vozes reproduzidas nas canções Surto de Amor e Transplante, respectivamente.
Enzo Rabelo deu sua palhinha
Sem anúncio prévio, a grande surpresa da noite foi a presença do filho de Bruno, o cantor Enzo Rabelo. Ele juntou-se ao pai no palco para cantar algumas das músicas que já consagraram a ainda breve carreira, muito bem recebidas pelo público. O jovem artista cumprimentou fãs e roubou a cena, com destaque para a música Perfeitinha, a principal de sua trajetória.
Para encerrar o espetáculo, a dupla sertaneja desfilou modão. Vários sucessos do estilo embalaram para o gran finale, garantido pela clássica Dormi na Praça, que fez a Arena vir abaixo, e já com saudades de Bruno & Marrone.
Samba e pagode para quem ama Raça Negra
A expectativa de quem vai assistir o grupo Raça Negra costuma estar nas alturas. Culpa dos inúmeros sucessos e a forma descontraída com que o vocalista Luiz Carlos canta e interage com o público. E foi exatamente essa a entrega para os espectadores do show da noite do sábado, em Caxias do Sul.
Às 21h33min, quando os acordes revelaram que a abertura ficaria por conta de É tarde demais, os gritos e aplausos se misturaram, e seguiriam por quase duas horas de apresentação. Mesmo sem a melhor voz, o cantor segurou o ritmo lá em cima, passeando pela plateia, acenando e dando a mão para os fãs. E foi no resgate das principais canções da carreira que o Raça chegou ao ápice.
Deus me livre, Vida Cigana, Sozinho. Foram vários os momentos com participação quase total dos espectadores, ficando atrás somente do final e os dois golpes fatais da banda: a repetição de É tarde demais e, como não podia faltar, Cheia de Manias, a música mais cantada do show, que ainda contou com uma participação especial do cantor sertanejo de Minas Gerais, Evandro Jr.
Amigos, safristas e fãs de pagode
Os chapéus brancos não deixavam dúvidas para quem esbarrava com o grupo de amigos que foi junto ao show do Raça Negra, na Arena de Eventos: ali estavam fãs da banda. José Antônio Furtado, Wanderson Lopes, Igor Pereira e Jorsivan Souza, todos cearenses de Juazeiro do Norte, e Juliano Rehdain, da cidade de Cascavel, Paraná, se conheceram na colheita da uva e da maçã deste ano, e combinaram para assistirem às apresentações da noite juntos.
— Assim que soubemos que teria o show do Raça Negra, já fomos atrás dos ingressos. Não podíamos perder —afirma Juliano.
Os safristas estão instalados na localidade de Vila Oliva, em Caxias do Sul, onde devem seguir trabalhando nos próximos meses.
— Gostamos muito daqui, e é muito bom estar na grande festa da cidade — acrescenta Wanderson.
De Florianópolis para os shows da Festa
Entre os sotaques que invadiram a 34ª edição da Festa da Uva, não seria o dos vizinhos catarinenses que ficaria de fora. Vindos de Florianópolis ainda na sexta-feira (1º), Nady Albino e os pais Adir e Rosania Albino, e o casal de amigos Jair e Marta Horacio, eram só expectativa antes da música tomar conta dos pavilhões. Fã tanto de Bruno & Marrone, quanto de Raça Negra, a caravana decidiu de última hora pela viagem.
— Eu moro em Lajeado, e visitei meus pais no domingo passado. Foi quando dei a ideia de virmos. Os amigos também gostaram da ideia e estamos todos aqui desde sexta. Queremos aproveitar tudo — conta Nady.
E não foi a primeira visita da família. A mãe Rosania afirma que esta é a terceira vez do casal em Caxias do Sul, todas para a Festa da Uva.
— A gente adora a festa e a cidade, senão, não voltava — brinca empolgada.
Área para PCDs gera reclamações
Colada ao palco, separada por grades. Foi onde a organização da Festa da Uva destinou a área para pessoas com deficiência assistirem aos shows na Arena de Eventos. Apesar do espaço reservado, a falta de visibilidade para os cadeirantes gerou reclamações.
Presente no show da cantora Ana Castela, no primeiro fim de semana do evento, quando registrou problemas, Josiane Souza dos Santos, 40 anos, voltou aos pavilhões neste sábado para assistir Raça Negra e Bruno & Marrone e, novamente, saiu frustrada.
— Não melhorou em nada, mesmo com os apontamentos. Além da dificuldade com acessibilidade, inclusive no terreno com brita, nós enfrentamos a falta de bom senso dos andantes, que não entendem a situação. Acompanhantes de outros cadeirantes ou de pessoas com deficiência visual e auditiva, por exemplo, que ficam na nossa frente. Alguns ainda ficam brabos quando pedimos para dar espaço — lamentou Josiane.
Contraponto
A produtora responsável pelos shows nacionais da Festa da Uva, se manifestou por meio da seguinte nota:
Em relação ao show de Raça Negra e Bruno & Marrone, informamos que o setor destinado a pessoas com deficiência manteve-se em pleno funcionamento, com conforto, espaço adequado e segurança. Registramos a presença de cadeirantes, PCDs com muletas, deficientes visuais e intelectuais, todos devidamente acolhidos pela nossa equipe.
Além disso, um intérprete de Libras esteve, durante toda a apresentação, à disposição para atendimento a pessoas surdas. Não foi identificada a necessidade de atuação do profissional, que, mesmo assim, se manteve junto à equipe ao longo da noite.
No show de Ana Castela, reconhecemos, realmente houve lotação do setor, pois parte do público desrespeitou a área. Somado a isso, recebemos mais pessoas com deficiência do que esperávamos. Logo depois do show de abertura, tivemos uma reunião com a Coordenadora de Acessibilidade, vinculada à prefeitura, de quem ouvimos todas as sugestões de melhoria, aplicando-as na prática a partir das performances de Alok e Filipe Ret.
Lamentamos qualquer transtorno e seguimos à disposição para mais esclarecimentos.
AM9 Produções