Os novos itens que passaram a fazer parte da cesta básica do brasileiro, com mais alimentos in natura e regionais e menos processados, incluídos na lista por decreto presidencial no mês de março, ainda precisam de adaptação aos hábitos de consumo da maioria da população de Caxias do Sul. Esta é a avaliação do economista do Instituto de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes), da Universidade de Caxias do Sul (UCS), professor Mosár Leandro Ness. O órgão acompanha a evolução e as modificações do conjunto de produtos essenciais no município ao longo das últimas décadas.
— O que se apresenta para nós, neste momento em Caxias, são os alimentos tradicionais. Não adianta inventar. Classes A, B e até C buscam essas alternativas mais saudáveis, mas a grande maioria consome uma matriz de carboidrato forte para se sustentar. Temos 47 itens que são de uso comum das famílias, entre alimentação, higiene e limpeza. Além do gás de cozinha — avalia Mosár.
A nova cesta básica terá produtos de 10 diferentes grupos: feijões (leguminosas); cereais; raízes e tubérculos; legumes e verduras; frutas; castanhas e nozes (oleaginosas); carnes e ovos; leites e queijos; açúcares, sal, óleo e gorduras; café, chá, mate e especiarias. Na opinião do economista, para a grande parte das famílias, o impacto da mudança será pequeno.
A alteração, contudo, pode fazer diferença no cálculo do salário mínimo que, como lembra o pesquisador, é impactado pelo consumo dos itens da cesta básica.
— Vai impactar na coleta dos preços, que irá refletir no salário mínimo. Alguns itens oscilam mais, como arroz e feijão. Com o foco no arroz integral e nesses novos, que têm uma oscilação baixa, muda o cenário. Quando se muda os pontos de coleta, obtém-se uma informação que não reflete a realidade dos preços. Isso muda toda a pesquisa. Mas aqui no Ipes não vai mudar. Nós pesquisamos o que o consumidor compra em Caxias. Nós pegamos o manual de economia e aplicamos o que observamos na realidade. Até pão caseiro, salame, vinho, que outras cestas não apresentam, nós temos. Quando coletamos a informação em campo, vemos o que está no rancho do consumidor — reforça o economista.
Os produtos da cesta básica de Caxias
Absorvente externo, açúcar cristal, alface, apresentados, arroz (polido e parboilizado), banana, batata-inglesa, biscoitos (doces e salgados), café moído, café solúvel, capeletti, carne bovina, cebola, cerveja, cigarros, creme dental, erva para chimarrão, farinha de trigo especial, feijão preto, frango inteiro, gás de bujão, laranja, leite longa vida, maçã, maionese, massa caseira fresca, massa com ovos, óleo de soja, ovos de granja, pãezinhos, papel higiênico, pêssegos em lata, queijo lanche fatiado, refrigerante, sabão em pó, sabonete, salame, salsichão, xampu, tomate, costela de suíno, coxa de frango, detergente líquido, leite condensado, mamão, pão caseiro e pão de forma.
Saúde e família mudam hábitos alimentares
Ainda que não sejam as primeiras opções de classes mais baixas, os alimentos naturais já estão consolidados em muitos mercados de Caxias. A reportagem esteve em dois estabelecimentos e registrou que, quando tem condições de buscar alternativas para uma alimentação mais equilibrada, o consumidor tem modificado hábitos por questões de saúde e como tentativa de influenciar a família. Aos 59 anos, o empresário Jaime Slongo tem priorizado a compra de frutas e grãos para acompanhar a esposa.
— Faz uns três anos que procuro alimentos mais saudáveis. A mulher começou em casa e foi me puxando. Acabei acostumando. Todo mundo precisa se cuidar um pouco —afirma Slongo.
Já o soldador Eduardo Gonçalves (33), que é pai de uma menina de um ano e seis meses, mudou a forma de alimentação para dar o exemplo à filha.
— Em casa, nós combinamos de comprar mais coisas saudáveis, tanto para a pequena, mas para nós nos acostumarmos e, quando ela crescer, a alimentação de todos ser melhor. Assim, ela aprende conosco — aponta Gonçalves.
Alimentos que compõem a nova cesta nacional:
Feijões (leguminosas)
Cereais
Raízes e tubérculos
Legumes e verduras
Frutas
Castanhas e nozes (oleaginosas)
Carnes e ovos
Leites e queijos
Açúcares, sal, óleos e gorduras
Café, chá, mate e especiarias
Regulamentação na Reforma Tributária
Segundo a Agência Brasil, quando anunciou os novos itens, em 5 de março de 2024, o governo federal não esclareceu, entretanto, se essa nova composição da cesta básica será incluída na regulamentação da Reforma Tributária, modificando os alimentos que terão alíquota zero, além da cesta básica nacional aprovada pelo Congresso Nacional.
O ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias, disse que essa decisão passa por um diálogo com o Congresso e defende que a cesta básica definida no decreto assinado seja referência para as isenções.
— Toda a defesa do presidente Lula é para que os alimentos que são essenciais ao nosso povo, a cesta básica como é conhecida, ela não seja tributada. Ou seja, seja isenta de tributos exatamente para impactar num custo mais baixo para a alimentação da nossa população — disse.