A Associação de Apoio a Pessoas com Câncer (Aapecan) de Caxias do Sul está mudando de endereço. A partir do dia 22 de março, sexta-feira, atenderá em uma sede própria, localizada na Rua Raul Pila, 136, no bairro Presidente Vargas, próximo ao Hospital Geral. A inauguração para a comunidade em geral e usuários será a partir das 10h. Autoridades e convidados vão conhecer o local um dia antes (quinta, 21), às 18h30min, em uma cerimônia fechada de pré-inauguração. Na casa anterior, que era alugada, a associação funcionava desde o ano de 2005, atendia em média 480 usuários ativos e prestava 3 mil serviços ao mês. A expectativa agora é dobrar os números no novo prédio, que tem três andares e 1.792,28 metros quadrados.
Os andares estão divididos na seguinte forma:
:: 1° pavimento (subsolo): conta com arquivo para guardar a documentação das 14 unidades da Aapecan; terá três caixas d’água de 15 mil litros cada, totalizando 45 mil litros de captação de água da chuva e utilização em jardins e descarga.
:: 2° pavimento (térreo): seis salas para a equipe técnica, dois espaços multiuso, recepção, lavanderia, despensa, cozinha, refeitório, quatro banheiros, auditório e estacionamento.
:: 3° pavimento (2° andar e Casa de Apoio): 14 quartos com 28 leitos, quatro banheiros, rouparia, sala de convivência e 237m² de terraço.
:: 4° pavimento (3° andar): setor administrativo.
Apoio e acolhimento
Há 19 anos, Paulo da Siqueira Vasques e um grupo de amigos fazia visitas voluntárias em hospitais de Caxias. Ao chegar no setor oncológico, conhecer os pacientes e se afeiçoar com eles, Vasques e os amigos perceberam que aquelas pessoas precisavam de um tratamento além do hospitalar.
— Percebíamos ali uma grande preocupação das pessoas em dar continuidade no tratamento pós-internação, devido ao grande custo de medicamentos, suplementos alimentares. Então, conhecendo essa realidade dos usuários, dos pacientes, nós focamos todas as nossas energias para o atendimento ao paciente oncológico, fundando a Aapecan — recorda o diretor-executivo da entidade.
A associação presta serviços assistenciais, psicológico e nutricional aos pacientes em tratamento e para as famílias, tudo de forma gratuita. Disponibiliza oficinas, oferece passeios e viagens, assistência jurídica para conquistar benefícios e medicamentos, além de proporcionar uma casa de acolhimento para aqueles pacientes que vêm de outros 48 municípios da Serra para tratamento nos hospitais Geral e Pompéia, em Caxias. O paciente e o familiar viajam a Caxias para o procedimento e, na maioria das vezes debilitado, o paciente precisa aguardar o transporte ou ficar na cidade para a continuidade do tratamento. Na Aapecan, ele possui um quarto, um espaço de convivência, alimentação, banho, medicação, enfim todo o suporte básico para passar esse momento. Em contrapartida, o familiar mantém o lugar organizado.
A casa que era alugada no bairro Sagrada Família contava com 16 leitos, divididos em oito quartos. A nova estrutura terá capacidade para 28 acomodações. O projeto da nova sede saiu do papel, segundo Siqueira, graças à comunidade. A associação se mantém por meio de recursos de doações da comunidade e por inscrever-se em editais governamentais. A construção da sede também depende dessas doações. Segundo a assessoria da Aapecan, até o momento não há contabilização de um valor exato dos custos da obra, pois ainda há muitos detalhes para serem finalizados.
— Trabalhamos há 19 anos em Caxias, sempre de forma transparente, mostrando para os doadores onde está indo o recurso deles. Estamos de portas abertas para qualquer pessoa vir ver onde o dinheiro está sendo investido. Percebemos que aquele espaço estava pequeno e há dois anos e meio viemos trabalhando nesta obra da sede. Mas, a prioridade sempre foi o nosso usuário. Nunca deixamos de fornecer um benefício por conta da obra — explica Siqueira.
Além da sede de Caxias, que conta com 50 funcionários diretos e inúmeros voluntários, a Aapecan tem outras 14 unidades no Estado.
Preparativos para a inauguração
Os usuários da Aapecan prepararam nos últimos meses a alimentação e os mimos que serão distribuídos na inauguração, por meio de oficinas que servem como terapia. A maioria dos voluntários que ministram oficinas e atividades de beleza na entidade é formada por pacientes que já passaram pelo câncer e que, atualmente, seguem em tratamento emocional.
Rosangela Seckler Gomes, 64 anos, é um exemplo de integrante que doa seu dia a dia para o trabalho na associação. Ela iniciou a ligação com a Aapecan como contribuinte, depois virou usuária devido a um câncer de pele. Seguidamente precisa retirar o protetor solar que usa no tratamento, e assim começou a frequentar a casa assiduamente. Ela é voluntária em diversas oficinas, dentre elas a Mão na Massa, e é diretora financeira.
— A gente se dispõe a vir e é muito bom. Literalmente, é o fato de sair de casa e desligar dos problemas. Em casa você pensa no teu câncer, mas aqui vê que o teu é bem menor do que o das pessoas. A Aapecan é minha segunda casa e aqui eu virei adolescente de novo. De vez em quando junta um grupo e vamos pra praia, fazemos a noite do pijama, eu sou feliz aqui — exemplifica Rosangela.
Junto com as demais integrantes do projeto Mão na Massa, Rosangela preparou os salgadinhos que serão oferecidos na inauguração. Durante a visita da equipe de reportagem na antiga sede, ela mostrou um dos freezers lotado com as mais de 900 empadinhas congeladas produzidas pela equipe. As alunas também produzem, semanalmente, pães e cucas. Os alimentos são vendidos a vizinhos e amigos. Além disso, a oficina tem páginas nas redes sociais que aceitam encomendas de salgadinhos para festas de aniversários, formatura, entre outros eventos.
Outra voluntária, Carmen Maria Tisatto, 69 anos, está coordenando uma equipe de usuárias e familiares que estão produzindo um presente que será entregue na inauguração. O chaveiro em forma de filtro dos sonhos (um acessório produzido com a intenção da passar as boas energias para os usuários) é produzido pelas mãos de pessoas que lutam e lutaram contra diversos tipos de câncer e utilizam essa oficina como terapia. Em volta da mesa, enquanto trançam as linhas com os dedos, aproveitam para trocar experiências, rir das situações do dia a dia, falar dos cabelos que voltaram a crescer ou que já caíram.
— Em 2014 eu tive câncer de mama e me tratei aqui na Aapecan por oito anos. Na minha época, fiz uma oficina para produzir mandalas. Eu fui tão bem acolhida e tive muita ajuda que resolvi me tornar também uma professora para passar a minha experiência. A gente passa uma tarde tão gostosa, significa tudo para mim estar aqui com elas. O que eu tenho pra dizer é gratidão — conta Carmen.
Algumas atividades da Aapecan são abertas ao público em geral, conforme a disponibilidade de material e vagas. Informações para participar podem ser obtidas com a entidade pelo telefone (54) 3026-9546.