Com gritos de "ABA salva vidas", "Queremos nossos direitos" e "ABA no autismo", um grupo de pais tomou as ruas da área central de Caxias do Sul na manhã deste sábado (16). O protesto pediu a manutenção e regulamentação da terapia Análise do Comportamento Aplicada (ABA), voltada ao transtorno do espectro autista. Mães, pais e profissionais se reuniram na Praça Dante Alighieri por volta das 9h. Cerca de uma hora depois, seguiram pela Avenida Júlio de Castilhos até a Coronel Flores e acessaram a Rua Sinimbu em frente à sede da Unimed Nordeste-RS.
Considerada uma das abordagens mais efetivas no desenvolvimento dos autistas, o tratamento tem cobertura pelos planos de saúde. No entanto, recentemente, pais têm sido comunicados pela Unimed que o serviço será suspenso. Atualmente, a terapia é aplicada no ambiente escolar e na casa das famílias por uma profissional especialista no método.
As mães ressaltam que a metodologia é essencial para o desenvolvimento das crianças. Terapeutas especialistas em aplicação de ABA, terapeutas ocupacionais e fonoaudiólogas também apoiaram a manifestação.
A farmacêutica Gislaine Basso, 42 anos, é mãe da Júlia Basso de Oliveira. A menina, de 11 anos, é autista e tem síndrome de Down. A família mora no bairro Jardim das Hortências, e Júlia fazia terapia ABA desde 2020. Contudo, em 31 de dezembro do ano passado, o plano solicitou documentos e, após, rescindiu os contratos e recusou renovações e novos pedidos.
— O plano cortou a terapia ABA dela e não nos deu outra alternativa de terapia. Minha filha está sem atendimento desde então. Essa terapia é essencial, principalmente, na comportamental, que ela precisa bastante dessa ajuda.
A família tem o plano de saúde desde antes da filha nascer. Segundo Gislaine, a intenção da Unimed é direcionar os atendimentos para uma clínica.
— Para as famílias é inviável, porque não tem como a gente passar 30 horas por semana dentro de uma clínica fazendo terapia. O ideal é a terapia no ambiente onde a criança está vivendo, onde ela precisa aprender, que é na escola e em casa.
Outra mãe ainda não perdeu a terapia, mas recebeu um comunicado do plano com um prazo para enviar a documentação. Viviane Borges Vieira Basi, 41, é corretora de imóveis e mora no bairro Cinquentenário.
— Eu tenho um exemplo vivo em casa, porque meu filho ficou sem terapia um tempo. Ele começou com terapia ABA em 2022 e foi só com o atendimento que ele conseguiu entrar e ficar na sala de aula — afirma.
O filho dela, Davi, tem autismo grau 2 de suporte. A mãe está apreensiva com a situação:
— Agora na segunda-feira começa a aula do meu filho, e eu preciso da terapia ABA. É na terapia que ele se desenvolve. Meu filho vai regredir muito — lamenta.
O que diz o plano de saúde
Representantes da Unimed foram até o grupo, por volta das 10h20min, e pediram que parte das mães entrasse no prédio para conversar. Segundo as manifestantes, o plano se comprometeu a receber um grupo na segunda-feira (19) para tratar do assunto.
Alexsandra Pohreen 46, foi uma das mães que participou do encontro com a Unimed. O filho dela, Alexandre, oito anos, é autista e tem uma síndrome rara, de Dravet:
— Ele é o único paciente da cidade com esse síndrome. Convulsiona com frequência e as crises começaram a reduzir com a ABA. Não vamos aceitar que nossos filhos regridam.
À imprensa, o plano se manifestou por nota onde afirma que "o tratamento com assistente terapêutico em domicílio para casos de Transtorno do Espectro Autista (TEA) não possui cobertura contratual e nem está previsto pelo rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)", a qual é subordinada quanto a regulação e fiscalização. Sendo assim, a operadora afirma não ter como autorizar o serviço, "mas garante o mesmo atendimento, quando realizado em clínica de sua rede de prestadores".
A nota diz ainda que:
"Engajada no assunto, a cooperativa vem concentrando esforços no acolhimento dessas famílias e por isso investiu, substancialmente, na construção da Casa Semente, espaço de referência para o atendimento de crianças com TEA, a ser inaugurado nos próximos meses.
A Unimed Nordeste-RS reforça, ainda, que trabalha sempre pela gestão sustentável de seus recursos, a fim de assegurar que todos os beneficiários com casos cobertos pelo rol da ANS recebam tratamento adequado e de qualidade. Nossa equipe de atendimento está sempre à disposição para ouvir nossos clientes, esclarecendo dúvidas e orientando-os para que cada caso seja atendido com zelo e cuidado".