As temperaturas elevadas do verão associadas ao alto volume de chuva criam o cenário ideal para o surgimento de um incômodo bem conhecido das comunidades rurais: o mosquito borrachudo. A Vigilância Ambiental em Saúde, ligada à Secretaria da Saúde de Caxias do Sul, aproveita os dias sem chuva para reforçar o combate ao inseto. O Programa de Prevenção e Combate ao Mosquito Borrachudo ocorre durante todo o ano, mas é ampliado na primavera e no verão, uma vez que o ciclo de reprodução fica mais acelerado. Desde o fim de 2023, no entanto, essa estratégia está prejudicada em função do alto índice de chuvas, o que atrapalha a aplicação do larvicida biológico (BTI), utilizado para eliminar o inseto ainda na fase de larvas em riachos e arroios.
Esse trabalho é realizado na área rural do município, incluindo cinco distritos, quatro regiões administrativas e o primeiro distrito. Ao todo, Caxias do Sul possui mais de 1,1 mil quilômetros de arroios mapeados pela vigilância, onde atuam os agentes de campo.
Conforme o diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde, Rogério Poletto, além de prejudicar a ida dos agentes a campo para aplicar o larvicida, o excesso de chuvas aumentou a demanda de trabalho, uma vez que acabaram vertendo "córregos temporários", principalmente em beiras de estrada e próximos a pomares, onde o borrachudo também depositou ovos, ampliando o montante de locais onde a Vigilância precisa atuar. Segundo Poletto, o BTI precisa ser aplicado três vezes, uma a cada 15 dias.
Além da aplicação pelos agentes, a Vigilância Ambiental realiza a entrega do larvicida biológico para agricultores, que aplicam o produto nos arroios que passam nas suas propriedades. Eles já foram anteriormente capacitados e orientados para identificar os arroios com infestação e os momentos de aplicação e como executar esta aplicação.
Moradora de Forqueta, a produtora rural Rosita Biasibetti viu o número de mosquitos diminuir depois que aplicou o BTI em dezembro, em um rio da propriedade.
— Diminuiu bastante, agora dá pra sobreviver — conta.
Segundo o diretor técnico da Vigilância Ambiental em Saúde, Rogério Poletto, o produto funciona somente nos arroios com água corrente e onde há presença do borrachudo. O larvicida só mata a fase de larva do mosquito borrachudo, e é necessário fazer três aplicações com intervalos de 15 dias entre uma aplicação e outra para poder interromper todo o ciclo, atacando a fase de larva durante o desenvolvimento.
Sem doença, mas incômodo
No Rio Grande do Sul, o borrachudo não transmite doenças, mas é capaz de incomodar bastante, como conta o produtor rural Alexandre Bedin, da Linha 40, em Caxias.
— Muita coceira, incha, minhas filhas também incham, vivem se coçando porque é uma alergia bem complicada, o mosquito ele atrapalha muito a gente no trabalho — relata.
A família precisou adaptar o jeito de trabalhar e ficar em casa.
— Repelente até adianta uma hora, mas depois não adianta repelente, então é melhor ir de calça, de bota, de camisa de manga comprida, às vezes, com o calor mesmo, tem que estar sofrendo, suando, mas não dá pra ficar sem porque não dá pra aguentar o borrachudo.
A médica veterinária da Vigilância Ambiental em Saúde de Caxias do Sul, Adriana Rhoden, explica que os mais de mil quilômetros de extensão de arroios no interior do município potencializam o surgimento do inseto:
— Tem muitos locais e ele encontra muitas condições. São arroios bastantes encachoeirados, com bastante oxigenação e com a matéria orgânica também. Tem proliferação de algas que servem de alimento para as larvas do borrachudo — detalha.
Além da aplicação do larvicida três vezes, uma a cada 15 dias, outras medidas também são importantes:
— Paralelamente a isso, a gente sabe que precisa também as medidas de manejo ambiental, que são construções de fossa, replantio da mata ciliar e eliminação de fontes poluidoras. Resíduos de animais não deve ser despejados diretamente no arroio — orienta Adriana.
Para solicitar a capacitação e distribuição do BTI da Vigilância Ambiental, produtores rurais de Caxias do Sul devem entrar em contato pelo telefone (54) 3901-2503 ou diretamente com as subprefeituras.