Maior centro de comercialização de hortifrutigranjeiros do interior Rio Grande do Sul, a Ceasa Serra está completando 25 anos de atividades. Para celebrar a data, formalizada em novembro de 1998, está marcada para esta sexta-feira (8), às 17h, uma solenidade em alusão às duas décadas e meia de existência do centro de comercialização de itens alimentícios. Um estabelecimento onde atuam cerca de 250 produtores rurais e 40 atacadistas em pavilhões na Rua Jacob Luchesi, no bairro Santa Lúcia, em Caxias do Sul.
A comemoração remete ao dia 10 novembro de 1998, quando foi formalizado o consórcio entre 11 municípios da Serra para manter a central em Caxias do Sul. Isso aconteceu porque a Ceasa RS encerrou as atividades das unidades do interior do Estado. A antiga Ceasa de Caxias funcionava nas instalações desde o ano de 1983, e com o consórcio foi possível manter as portas abertas e promover melhorias ao longo destes 25 anos.
Para a solenidade de hoje, nos pavilhões da central de abastecimento, está prevista a participação de agricultores, da atual diretoria, de comerciantes, de ex-dirigentes, colaboradores e parceiros, representando as cerca de 5 mil pessoas que circulam semanalmente pela central.
É da Ceasa Serra que partem caminhões carregados de hortifrutigranjeiros produzidos na região para serem vendidos em todo o país. Também é possível comprar produtos de outros estados e até de fora do Brasil, que são vendidos pelos atacadistas.
A "pedra"
O espaço é dividido entre a “pedra", como são chamadas as vendas com as caixas de produtos que ficam no chão das instalações, e os boxes, onde há os atacados, que são principalmente para mercadorias provenientes de fora do RS. Na "pedra" estão demarcados os espaços para cada produtor expor e vender frutas e verduras.
Na última quinta-feira (6), véspera do ato em alusão ao aniversário, a movimentação era intensa. Até havia alguns espaços vazios, já que, devido à chuva intensa que atingiu a região, alguns produtores perderam a safra. Mas o corre-corre de sempre permanecia. Um dos frequentadores mais antigos é Luis Sachet, 81 anos, morador de Fazenda Souza e que comparece ao espaço há várias décadas, desde a inauguração da antiga Ceasa Caxias, em 1983.
— Começamos eu e meus amigos. Saímos de Fazenda Souza às duas da manhã e ficávamos dentro dos caminhões. Hoje está muito melhor, porque tem infraestrutura e segurança. A Ceasa é uma oportunidade para o produtor crescer — afirma Sachet, que atualmente não vende mais a produção, mas lembra com carinho de como tudo começou.
Alberto Riva, 71, também lembra daquela distante época:
— Na verdade, eu comecei ainda lá onde eram as "pedras" velhas, há mais de 30 anos, quando plantava verduras. Agora trabalho só com morangos. É só ter mercadoria boa que vende tudo, e volta sem nada de produto para casa — ressalta Riva, que é de Farroupilha e se desloca a Caxias uma vez por semana.
Já Jean Carlos Jacoby, 48, e Luciana Jacoby, 53 anos, moram na localidade de Nova Palmira, no distrito de Vila Cristina, em Caxias do Sul. Jean vai até a Ceasa há 30 anos, e conta com a ajuda da esposa há 17. A família produz tomate, berinjela, pimentão e pepinos.
— A nossa produção é toda em estufa. A gente produz, colhe e prepara a mercadoria. Para nós é essencial ter um espaço para vender o que produzimos. Faça chuva ou sol, nas segundas e quintas-feiras estamos aqui, até porque tem vendas que são fechadas um dia antes — conta Luciana, que inova no trabalho aos usar um tablet enquanto que muitos produtores ainda preferem continuar usando o caderninho para anotar os pedidos.
Produtos de fora do Estado ou importados
No pavilhão onde estão os boxes, há frutas e verduras que não são cultivadas no Rio Grande do Sul. É nesse espaço que os compradores encontram também mercadorias de fora do Brasil. No ponto, a movimentação é intensa para carregar e descarregar caminhões, enquanto chegam produtos ou saem mercadorias que vão para diversas cidades gaúchas ou para fora do Estado. Nas bancas há frutas como pitaia, romã, peras argentinas, pera alexandrina espanhola, laranja espanhola, damasco e cerejas. Com frota própria para buscar as mercadorias, Daniel Girelli, 35, vende frutas importadas. A família tem um box na Ceasa Serra e outro em Porto Alegre.
— A pera e a maçã a gente importa da Argentina, e outras frutas importadas compramos em São Paulo. A Ceasa Serra é a minha vida. Eu tenho no DNA a bagagem do meu pai que trabalha na Ceasa há mais de 30 anos. Desde os 16 eu ajudava ele, e agora estou aqui todos os dias. Com o tempo aprendi a entender o cliente, ler o mercado e encontrar as mercadorias que eles procuram — afirma.
"A qualidade dos produtos é melhor na Ceasa Serra", afirma comprador
Há 147 compradores cadastrados, sendo 53 mensalistas. A maioria vem ao menos de uma a duas vezes por semana, de diversos municípios da região, para comprar os produtos. Nessa lista há donos de mercados e fruteiras, e também os atacadistas que compram as frutas e verduras para revender os produtos. Proprietário de um mercado em Vacaria, Rudimar Poletto Sgarabotto, 62, vem a Caxias todas as segundas e quintas. E o caminhão geralmente retorna cheio de produtos para o município dos Campos de Cima da Serra.
— É vantajoso, pela qualidade, vir até Caxias. Eu já carreguei o caminhão na Ceasa de Porto Alegre, de Curitiba e de Florianópolis, mas prefiro comprar em Caxias. A qualidade dos produtos é melhor na Ceasa Serra, especialmente as leguminosas — ressalta Sgarabotto, que adquire os produtos na central de abastecimento há 28 anos.
Quem também vem a Caxias duas vezes por semana é Davi Antônio Sensolo, que leva cerca de quatro horas para comprar o que precisa e encher o caminhão para levar até o município de Marau.
— Eu tenho atacado, então eu compro frutas e verduras. Principalmente as da estação e produtos de fora do Estado. E revendo nos mercados.
Ceasa abastece mercados de várias partes
Há 25 anos, a central de abastecimento se chama Ceasa Serra, sendo que o consórcio é mantido pelos municípios de Antônio Prado, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Ipê, Nova Pádua, Nova Petrópolis, Nova Roma do Sul, Protásio Alves e São Marcos. Levando em conta fatores como a facilidade de acesso e logística, produtividade, diversidade, eficiência no abastecimento e competitividade, a Ceasa Serra se consolidou como maior central de abastecimento do interior do Estado.
— É um grande complexo comercial, que abastece o mercado com produtos de qualidade e bons preços, permitindo que os compradores encontrem inúmeros itens no mesmo lugar — afirma o diretor presidente da entidade e secretário da Agricultura de Caxias do Sul, Rudimar Menegotto.
O gerente operacional da Ceasa Serra, Alceu Thomé, enfatiza que a história começou em 1983, mas que a formação do novo consórcio para manter o estabelecimento foi há 25 anos.
— A Ceasa de Caxias que se tornou a Ceasa Serra foi a única remanescente do interior do Estado. A central cresceu e se tornou uma referência para a região. A Ceasa recebe compradores de todo o Rio Grande do Sul para comprar o que nossos produtores cultivam na região —ressalta Tomé.
Números
- Área total do complexo - 73.717 metros quadrados
- Área construída – 9.434 metros quadrados
- Compradores cadastrados – 147
- Compradores mensalistas – 53
- Comercialização em 2023 (até outubro) – 32,5 milhões de quilos, o que corresponde a R$ 113,3 milhões.