Em novembro, o Pioneiro completa 75 anos de histórias emocionantes e de fatos marcantes na Serra. Para celebrar, acompanhe a série Olho Mágico, que mostra os bastidores de lugares simbólicos de Caxias do Sul onde poucas pessoas entram ou que quase ninguém tem acesso.
Uma sala dentro de outra, com isolamento acústico, que abriga um enorme cofre e onde o único computador funciona sem estar conectado à internet. Particularidades de um ambiente onde estão concentradas todas as atividades de preparação das questões do vestibular de Medicina da Universidade de Caxias do Sul (UCS), o único da instituição que é presencial e que segue um rito semelhante a concursos e exames nacionais. A prova é o critério para definir quem, entre uma média de cerca de quatro mil candidatos, poderá se matricular nas 50 vagas oferecidas por semestre no único curso de Medicina disponível na Serra.
As etapas são feitas atendendo a protocolos de segurança para garantir a lisura do processo. Para se ter uma ideia, no último vestibular, em junho deste ano, cada vaga do curso de Medicina na UCS foi disputada por 80 candidatos. Por isso, a sala destinada para a elaboração da prova pode ser acessada apenas por professores convidados para definir as questões, além dos quatro integrantes da Comissão Permanente de Seleção da UCS, atualmente liderada pelo coordenador administrativo Juliano Luiz Duarte. Como exceção, a reportagem acessou o local acompanhada pelo coordenador.
O espaço tem isolamento acústico para que ruídos externos não atrapalhem o trabalho dos 20 professores responsáveis por todas as etapas. Celulares também precisam ser deixados do lado de fora. Há ainda grandes armários que armazenam provas antigas e documentos, além de livros didáticos, que formam uma espécie de banco de questões que pode auxiliar no processo de definição das questões.
A prova entregue aos candidatos tem 24 páginas e é composta por uma redação e 50 questões divididas entre Língua Portuguesa, Espanhol ou Inglês, Conhecimentos Gerais, Biologia e Química. A definição das perguntas envolve ainda a separação por aquilo que os professores entendem como questões de nível baixo, médio e outras mais difíceis - a maior parte é de nível médio. Todas elas possuem o mesmo peso, com a redação como principal critério de desempate.
— Ao contrário de outros cursos, a Medicina envolve muitos candidatos e são poucas vagas disponíveis. Precisa de um processo diferenciado e precisa selecionar bem o estudante. É um curso que demanda dedicação. A base dessa prova é feita pensando em quem está saindo do Ensino Médio e isso nos faz sempre atualizar o acervo de questões. São, em média, seis professores por semana que passam pela sala para debater o processo — comenta Duarte.
Após a definição do que estará na prova, os professores organizam o caderno de questões com a ajuda de um programa de computador, que também está na sala. O equipamento eletrônico possui duas telas (uma na vertical, para facilitar a leitura) e não fica conectado à internet - o que inviabiliza qualquer possível tentativa de ataque ou cópia. Todos os papéis que entram ali e que precisam ser descartados, por exemplo, vão para um recipiente considerado confidencial, ou seja, não vão para o lixo comum.
Em seguida, um grupo de professores revisa o material, com foco no conteúdo e na formatação das questões. Por fim, um docente será responsável por resolver as questões ainda antes de elas chegarem aos estudantes.
— Esse professor resolutor vai fazer o primeiro teste da prova. Ele pode assinalar, por exemplo, que determinada questão pode ter duas respostas certas e outro professor é responsável por substituir esse questionamento. É um trabalho que não para. Termina um vestibular e a gente começa a pensar e trabalhar para o próximo — explica Duarte.
Os segredos do ambiente também se estendem ao mobiliário do local. O que mais chama a atenção na sala é um enorme cofre, onde ficam armazenadas as questões que estão definidas para o próximo vestibular de Medicina. Não mais do que três pessoas sabem o segredo para abri-lo.
— É o nosso cão de guarda, o processo seletivo está todo ali. Ficam registradas desde as primeiras versões da prova até a que vai para o aluno — conta o coordenador.
Todas as redações são lidas
Uma das principais etapas do vestibular - seja de Medicina ou para os demais cursos - é a redação. No dia da prova, os candidatos recebem três sugestões de tema e devem redigir um texto dissertativo manifestando, de forma explícita, seu posicionamento crítico, com a devida argumentação sobre um único tema escolhido.
Diferentemente de vestibulares de instituições federais, todas as redações são lidas e corrigidas.
— Ao menos dois professores corrigem as redações. Se as notas estão discrepantes, uma terceira correção é feita — explica a coordenadora pedagógica da comissão que aplica o vestibula, Luciane Todeschini.
Impressão da prova é supervisionada
O único movimento feito fora da sala é a impressão dos cadernos de questões, que é feita por uma empresa terceirizada, contratada pela UCS a cada vestibular. O arquivo é enviado por meio de um dispositivo físico, ou seja, mais uma etapa sem a utilização de internet.
Uma das exigências da contratação da gráfica é que a impressão da prova seja feita fora do turno habitual da empresa (normalmente à noite) e que os integrantes da Comissão Permanente de Seleção e um profissional da TI acompanhem todo o processo. Quem trabalha também é "pré-selecionado".
— A gente pede também um histórico do funcionário dessa gráfica, principalmente se ele tiver filhos. Não envolvemos mais do que cinco pessoas dessa empresa, ou seja, todos eles precisam saber as etapas de impressão para que seja necessário o menor número de funcionários — explica o coordenador administrativo Juliano Luiz Duarte.
O nível de sigilo exige ainda que falhas de impressões sejam trituradas antes de serem descartadas. Com o caderno de questões impresso, os funcionários da comissão organizam o material em malotes, que depois são entregues para os responsáveis pela aplicação nas salas de aula durante o vestibular, que está marcado para o dia 19 de novembro.
O malote fica lacrado até chegar na sala - em média, 20 estudantes são organizados por ambiente. O transporte das provas também é feito em um veículo da UCS, que possui câmera de monitoramento.
Após o vestibular, a folha de respostas (onde o aluno assinala a letra correspondente à alternativa escolhida entre as 50 questões) passa por um equipamento, uma espécie de scanner, que faz a correção automática. A etapa é importante para que o resultado do vestibular seja disponibilizado em até três dias após a prova e que as inscrições em primeira, segunda ou terceira chamada possam ser realizadas.
— A correção do cartão do curso da Medicina inicia logo após o término do vestibular, no mesmo domingo. Essa agilidade não significa desleixo com o processo, muito pelo contrário — garante Duarte.
Saiba mais:
- Vestibular de Medicina é composto por 50 questões, de seis diferentes áreas do conhecimento: Língua Portuguesa, Espanhol ou Inglês, Conhecimentos Gerais, Biologia e Química (estudantes escolhem entre inglês ou espanhol).
- Candidatos têm cinco horas para a realização do teste.
- Curso tem duração de seis anos.
- A graduação em Medicina foi lançada pela UCS em 1968.
- Segundo a instituição, 2.564 médicos foram formados em Caxias até hoje.
- As inscrições para o Vestibular de Medicina da Universidade de Caxias do Sul são recebidas até domingo (12) e custam R$ 275 (é possível realizar na modalidade treineiro com inscrições a R$ 80).