Para comemorar o aniversário de 75 anos, a série Gavetas da História promove o reencontro de personagens que marcaram a trajetória do Pioneiro com antigas fotografias e jornais. Confira:
Uma conquista inédita, diante de um Maracanã lotado: o feito do Esporte Clube Juventude, ao se tornar o campeão da Copa do Brasil de 1999 diante do Botafogo, não é apenas a lembrança mais especial da maioria da torcida juventudista. É também a cobertura mais importante do fotojornalista Gilmar Gomes, 63 anos. Desses, 15 foram dedicados a eternizar momentos da Serra, sempre com o olho numa lente e o dedo indicador pronto no disparador. Entre esses episódios, a jornada vitoriosa do time caxiense na competição nacional.
Era 27 de junho de 1999, o time gaúcho viajava para a Cidade Maravilhosa com um placar de 2 a 1, o jogo de ida, em casa, com gols de Fernando Rech e Márcio Mixirica. Para ganhar a taça, o Papo podia empatar ou vencer o jogo da volta. Ou seja, o O a O foi suficiente para frustrar a festa do time carioca diante de mais de 100 mil torcedores.
Gomes relembra que um time embalado dava a esperança que o título da Copa do Brasil daquele ano era do Ju. Tanta confiança que Gomes e dois jornalistas (Márcio Serafini e Daniel Angeli, então editor e repórter de Esporte) saíram de terras caxienses rumo ao Rio de Janeiro - Angeli, inclusive, de ônibus, numa viagem de 25h com torcedores.
Apito final, título do Ju
Até chegar no Botafogo, o Ju passou por CR Guará, Fluminense, Corinthians, Bahia e Inter. Foram 11 jogos, com seis vitórias, quatro empates e uma única derrota.
— Eu tinha plena consciência de que eu ia fazer só o pós-jogo, que seria a entrega da taça, a festa. E eu estava seguro que o Botafogo não ia fazer gol, né? E não era como é hoje, só tinha a entrega da taça e eles ficaram fazendo a festa no campo. Na hora dessa foto (a primeira da galeria), uns colegas d'O Globo tinham uma escadinha e eu pedi emprestada. O cara me segurava e eu fotografava. Cobertura de luxo — afirma Gomes.
O fotojornalista lembra que o público registrado na partida foi de mais de 101,5 mil torcedores, sendo pelo menos 100 mil do Botafogo. Entretanto, o Juventude, do interior do Rio Grande do Sul, calou uma centena de milhar. Gomes conta que, enquanto havia a festa do papo no campo, os torcedores botafoguenses saíam em silêncio.
— Todo mundo desolado, porque ninguém imaginava que um time fosse lá e fosse fazer uma façanha, como fez. Num estádio enorme, num Estado que tem uma tradição do futebol muito forte e fez essa façanha. Foi muito legal — destaca.
Decepção de um lado, glória para o Papo. A conquista do título é a primeira e única na competição. Inclusive, levou o time à Libertadores de 2000, tornando o Juventude o único time do interior gaúcho a estar na maior competição da América Latina.
A festa depois da partida
Depois do jogo, o campeão nacional foi comemorar o título em uma festa num restaurante, na Barra da Tijuca. Gomes conta que a comemoração era com muita festa, cerveja e com a presença de alguns jogadores conhecidos, como Túlio Maravilha.
— Apareceram jogadores lá do Rio que eram amigos e conhecidos dos jogadores do Juventude. Foi uma festa muito legal, eu saí de lá duas da manhã — compartilha.
Em voos diferentes
A equipe do Pioneiro tinha reservado retorno para Porto Alegre no mesmo voo do time vencedor. Entretanto, não conseguiram voltar devido à vitória do Ju.
— Teve um monte de gente que conseguiu entrar naquele voo e nós não conseguimos. A Varig nos colocou rápido em um avião da Cruzeiro, que tinha conexão para São Paulo e depois Porto Alegre. Mas a gente conseguiu pegar eles na estrada e aí nós viemos (para Caxias) dentro do ônibus. Aí foi o que bastou, eles fizeram muita festa, depois foram para o caminhão dos Bombeiros. A cidade toda parou — recorda.
Números da final da Copa do Brasil 1999
- Jogo de ida (em Caxias): Juventude 2x1 Botafogo.
- Jogo de volta (no Rio): Botafogo 0x0 Juventude.
- Público no Maracanã: 101.581 pessoas.
- Time do Juventude: Émerson, Marcos Teixeira, Picoli, Índio e Dênis, Roberto, Lauro, Flávio, Mabília (Gil Baiano), Maurílio e Márcio (Alcir). Técnico: Valmir Louruz.
Entre filmes e revelações, os melhores momentos da cidade
No meio de ampliadores, químicos de revelação e filmes. Sob o escuro e luz vermelha. Gomes saiu de Santa Maria em 1986 rumo à redação da antiga sede do Pioneiro, na Rua Jacob Luchese, 2.374. Formado em Jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), o maior objetivo de Gomes era fazer fotojornalismo vindo para Caxias do Sul.
— O Pioneiro não importa por quantas mãos passou, ele é uma instituição cultural de Caxias. Acho que deixei um legado e acompanhei os melhores momentos da cidade entre 1986 e 2001 — comenta o fotojornalista, enquanto reencontra o acervo fotográfico do Jornal, na redação do Esporte.