Para comemorar o aniversário de 75 anos, a série Gavetas da História promove o reencontro de personagens que marcaram a trajetória do Pioneiro com antigas fotografias e jornais. Confira:
Era sexta-feira, 6 de março de 1992, quando a capa do Pioneiro estampava a manchete de que supostas pedras preciosas estariam atraindo uma multidão para a 3ª Légua, em Caxias do Sul. A reportagem, na página 13 do jornal, contava que uma notícia falsa teria iludido garimpeiros, que acreditaram que ficariam ricos se encontrassem as pedras escondidas nos barrancos da região. A partir daí, uma busca incessante começou, reunindo moradores de diferentes cidades da Serra e viajantes de todo o país.
O curioso da história é que a região tinha, de fato, pequenas e escassas pedras e até mesmo ametistas, que são brilhantes. Porém, nenhuma delas tinha grande valor comercial. Entretanto, a falta de informação e a crença de que a notícia divulgada era legítima, fez pessoas montarem acampamentos na estrada Barão do Rio Branco. Com ferramentas em mãos, os garimpeiros amadores e até profissionais começaram a fazer buracos em ruas e barrancos.
Quem presenciou a movimentação de perto foi Valmor Pesini, 64 anos, que mora até hoje em frente à área que atraiu os garimpeiros:
— Enquanto eles procuravam e não encontravam ou achavam poucas pedras, começaram a acreditar que embaixo da minha casa pudesse ter mais. E aí começaram a ameaçar derrubar a minha casa. Na época eu morava com meu menino, que devia ter uns cinco anos, a menina de sete e minha esposa. Passei três dias e três noites sem dormir, foi um desespero. Para ameaçar eles faziam reflexo com uma faca em direção à minha casa e eu ficava sentado lá na frente para garantir que ninguém ia entrar — lembra ele, que chegou a ser citado na matéria do Pioneiro daquela sexta-feira.
Segundo ele, a notícia falsa chegou a atrair garimpeiros do Pará, que tinham o garimpo como profissão. Quando chegaram à cidade serrana, encontraram viajantes e moradores separando por si mesmos as "áreas de cada um" com uma corda. A ansiedade pelas pedras era tanta, que as pessoas não se importavam com os meios utilizados para a procura.
— Nós (os moradores) já sabíamos que ali não tinha pedras preciosas. Se tivesse, eu não precisaria mais trabalhar como pedreiro (risos). Teve um dia que começaram a cavar tanto e tão profundo no barranco, que a parte de cima caiu em cima de uns três ou quatro. Eles ficaram soterrados, mas conseguiram sair — lembra o morador.
Ao longo de duas semanas, tanto durante o dia quanto a noite, pessoas fizeram buscas pelas falsas pedras preciosas. A notícia se espalhou por tantos lugares, que gemólogos (profissionais que avaliam pedras) de outras cidades chegaram até a Serra para fazer negócio. Conforme lembra Pesini, foi a partir dos negócios mal sucedidos dos garimpeiros, que não conseguiam vender as poucas pedras que encontravam ou vendiam por valores simbólicos, que a verdade passou a encará-los de frente e eles perceberam que não ficariam ricos como acreditaram.
— Alguns encontravam pedras brancas, bonitas, outras mais brilhosas e ficavam felizes achando que conseguiriam vender, mas quando eles viam que elas não custavam grande coisa ou nada, eles voltavam e jogavam as pedras nos barrancos de novo. Não tinha o que fazer, elas não valiam nada e não tinha motivo para levar elas para casa. Aos poucos foram indo embora e deixando para trás os buracos e as ferramentas — conta Pesini.
Mesmo depois dos garimpeiros amadores, profissionais e viajantes não terem tido sucesso na comercialização do que encontraram, a fama das pedras preciosas da 3ª Légua se manteve. Segundo Pesini, até hoje em dia os moradores da região se deparam esporadicamente com uma pessoa ou outra tentando encontrar nos barrancos, agora cobertos por grama e árvores, alguma pedra daquela história narrada em 1992, que possa ser usada como decoração.
A busca por pedras preciosas na 3ª légua
- Garimpo amador começou na região depois de uma notícia falsa ser divulgada.
- Notícia se espalhou pelo país e atraiu pessoas de diversas regiões, acreditando que ficariam ricos se encontrassem as pedras.
- 3ª Légua tinha pequenas e escassas pedras, que não tinham altos valores comerciais ou tinham apenas valores simbólicos.
- Moradores da região começaram a ter as casas ameaçadas de invasão e precisaram acionar a Brigada Militar (BM) para conseguirem dormir.
- Garimpeiros, moradores e viajantes desistiram da busca depois de descobrirem que as pedras não tinham altos valores comerciais.
- Buracos feitos na rua e nos barrancos, assim como as ferramentas utilizadas foram deixados para trás conforme as pessoas iam desistindo da falsa riqueza.